LouCyfer: cultuada banda mineira está de volta e promete novo álbum
Por Frederico Borges
Postado em 28 de agosto de 2020
Em entrevista exclusiva à Goblin TV, Louis Cyfer, mentor do projeto, antecipa informações sobre o novo trabalho, revisita sua trajetória, declama seu amor ao death metal da velha escola brasileira e explica como obteve as bênçãos de Jesse Pintado (Terrorizer) e Oswaldo (Sextrash).
Após um longo hiato, a banda belorizontina LouCyfer retomou as atividades em 2018. E a boa notícia é que o projeto capitaneado por Louis Cyfer está trabalhando em um novo álbum, a ser lançado até 2021, que deve manter a sonoridade típica do death metal brasileiro old school. Em uma entrevista exclusiva ao canal Goblin TV, Louis, ao lado de seu atual parceiro de banda Ron Seth (Impurity), apresenta novidades, explica o motivo de ter cessado as atividades ainda nos anos 90, relembra as origens e explica como os saudosos Oswaldo "Pussy Ripper" (Sextrash) e Jesse Pintado (Terrorizer, Napalm Death) tiveram papel fundamental na existência do LouCyfer.
Parte da segunda geração de bandas da efervescente cena de Minas Gerais, o LouCyfer surgiu em 1989 e teve dois lançamentos pelo tradicional selo Cogumelo Records: What Is Your Pleasure, split com a banda Cirrhosis, de 1991, e Worship Flesh, álbum cheio de 1993. Embora possa ter uma atuação mais segmentada e obscura do que os conterrâneos do Sarcófago, The Mist e Witchhammer, o LouCyfer obteve apoio de todos esses nomes e cravou sua marca na cena. Com postura niilista e sonoridade brutal, a banda repercutiu internacionalmente e se tornou objeto de culto no underground. Agora, se rompe um silêncio de mais de duas décadas.
Confira a transcrição de alguns trechos do alcoólico bate-papo e, ao final, a entrevista na íntegra.
O novo álbum
"Bom, hoje a gente está trabalhando junto, o Ronaldo, Ron Seth, e eu, trabalhando intensamente em um disco. (...) Em 2020 agora, a gente vai finalizar o material musical, as músicas, para um disco mesmo, um álbum de 11 músicas. A gente deve estar lançando isso até, no máximo, primeiro semestre de 2021. (...) O Ronaldo tem me orientado muito nesse sentido, pra gente não perder o que foi criado ali, com muito sacrifício, na primeira demo tape (...). Na nossa demo tape da Land of Lust. Então eu estou escutando ela muito, estou estudando ela musicalmente mesmo, aquela gravação fio a fio, segundo a segundo, para não sair do que a gente chama, com muito carinho, de Brazilian Death Metal".
O porquê do hiato
"Ao longo desses 23 anos, o LouCyfer ficou inativo durante tanto tempo, até pelo processo de eu ter morado na Europa. Fiquei seis anos na Inglaterra, morei dois anos na Alemanha e depois voltei à Inglaterra. Durante esse tempo, eu fui fazendo contatos".
As origens
"O LouCyfer começou em 1988, comecei sozinho, era um projeto. Eu era uma criança nessa época e tive essa ideia maluca assim, "vou pro estúdio e vou gravar, fazer uma fita demo" e fui batalhando sozinho, trabalhando. Eu era menor e trabalhei, fiz vários trampos, distribuindo panfleto em rua, sabe? Fiz vários bicos assim, juntando dinheiro, numa luta".
Saudoso Oswaldo "Pussy Ripper" (Sextrash)
"Tive o privilégio de ser amigo dele. Ele foi o primeiro cara que me orientou e realmente me deu uma guia mais profissionalizante em relação à gravação. Ele me orientou pra gente procurar o Estúdio 108, era o melhor estúdio da época aqui".
Apoio de Jesse Pintado (Terrorizer, Napalm Death)
"Um outro grande privilégio que eu tive na minha vida musical, foi ter trocado cartas com o Jesse Pintado. Na época, ele estava em muita atividade com o Terrorizer. (...) Quando eu peguei aquela carta e vi que era do Jesse Pintado, eu comecei a chorar. Sério mesmo, eu tinha 19 anos e depois de um tempo lutando com a banda, foi o primeiro reconhecimento, foi a primeira conquista internacional que eu vou falar que o LouCyfer teve. (...) O Jesse Pintado que me falou ‘cara, procura um selo, eu acho que está na hora’".
Gravando no Estúdio 108
"Foi um passo de gigante pra gente, porque lá gravava-se Milton Nascimento, Sepultura já tinha gravado e as bandas da Cogumelo, naquela época também. Trabalhava com o Tarso Senra, que era um puta engenheiro de som, e o Estúdio 108. Então eu fui pra lá com o Oswaldo".
O primeiro show
"Foi em 1989. (...) E foi um show, assim, muito mambembe, cara. Usando as palavras do João Eduardo, da Cogumelo. Foi muito paia, o bar era de playboy. (...) Antes da gente tocar, tinha uma banda, acho que era meio new wave, rock, uma coisa assim. (...) E a gente entrou, com 17 anos, a cara pintada, as unhas pintadas de preto e todo o visual metal. Quando a gente subiu no palco, a galera horrorizou".
Contato com a Cogumelo Records
"Ele, com muita presteza, que era um cara fantástico, o Oswaldo, pegou a demo tape do LouCyfer, levou lá no João Eduardo e mostrou pra ele. Quando foi pouco tempo depois, eu recebi uma ligação (...). O Fernando Pazzini me ligou, se apresentou, e eu comecei a tremer no telefone. Ele falou ‘olha, o João Eduardo quer falar com você, cara. Aparece aí. Pode vir aqui no escritório, que a gente vai conversar contigo’".
Ave Sarcófago
"INRI, do Sarcófago, é um disco eterno, é uma referência para tudo que você pensar de death e black metal. Começou ali, a escola de death metal brasileira começou com o INRI, dos dois irmãos, o Zéder e o Dudu, que eram o core. (...) O Zéder é um guitarrista fantástico, com muita influência de punk, é um cara muito antenado. (...) E ele sempre aparecia, ‘Louis, vou deixar essa fita com você, semana que vem você me devolve’. Aí eu escutava, ‘porra, caralho, de onde é essa merda, Zéder’? Dead Kennedys, só coisa boa... English Dogs. Ele escutava só coisa boa e ele passava isso na melodia ali, que ele criava junto ao Dudu, ao Gegê também, um grande baixista, ao Wagner também, na época, foi um grande vocalista".
Produzindo o Calvary Death
"Um outro trabalho que eu tenho muito carinho e tenho orgulho de ter participado como produtor musical é esse aqui. Jesus Intense Weeping, do Calvary Death. Do meu irmão Ruddy Souza, Ruddy. Está presente no coração de todo mundo que ama Calvary Death".
Louis Cyfer hoje
"Três décadas trazem mudanças, não é? (...) Eu não tenho 16 anos mais. Eu tenho uma família própria, tenho minha filha. Hoje eu trabalho com tecnologia da informação. (...) O que não muda é a paixão pela música. É a paixão pelo metal e a vontade de estar contribuindo, como o Ronaldo falou, de Minas para o mundo".
A produtora:
Goblin TV é o canal da Goblin Filmes sobre cultura alternativa. Aqui, a música e a arte do underground são disseminadas por meio de documentários, videoclipes, entrevistas, cobertura de eventos e vlogs. Com sede em Belo Horizonte-MG, a Goblin Filmes é especialista em produções audiovisuais e estratégias de marketing para artistas e empresas de diversos nichos.
Saiba mais:
https://www.goblinfilmes.com.br/
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