Ozzy Osbourne: A Divina Comédia de Dante Alighieri e Under the Graveyard
Por Diego Ricardo
Postado em 15 de novembro de 2020
Quem já ouviu as músicas de Ozzy Osbourne, desde sua época do Black Sabbath, deve ter sentido a presença de algo terrível, como estivéssemos próximos do inferno -- o cantor tem músicas com outros temas, mas no momento iremos nos concentrar numa de suas últimas composições: "Under The Graveyard", lançada em meados de 2020. A tradução de um site comum sugere o significado como "abaixo do cemitério". (Ouça a música, de preferência.)
O título, por si só, faz surgir na lembrança o trecho dos primeiros versos do Canto I, da seção Inferno, da Divina Comédia. Como estou na rua, e meus livros não estão comigo, vou citar partes do que encontrei no site do Domínio Público: "Da nossa vida, em meio da jornada, Achei-me numa selva tenebrosa, Tendo perdido a verdadeira estrada."² Não se desencante por aqui. Apesar de muitas bandas darem importância somente a este aspecto da vida, como se ela fosse uma inteira permanência no caos, nas trevas, quem assistir o clipe produzido pelo cantor há de ver um elemento novo.
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"Under The Graveyard" começa com notas que produzem em nós a sensação como a que se tem quando se perde a esperança da vida. Parece haver uma luz distante, mas não conseguimos vê-la. Estamos cegos, nem a nossa própria voz nos responde. Após a introdução, eis os primeiros versos da música: "Hoje, eu acordei e odiei a mim mesmo, A morte não responde quando eu peço ajuda. Altura nenhuma poderia me salvar das profundezas do inferno. Eu vou afogar minha mente até que eu seja outra pessoa." Tal como Dante, Ozzy relata que, no meio da estrada da vida, perdeu o seu sentido, perdeu o caminho que o conduzia à felicidade ou descobriu que a felicidade não era aquilo que praticava. O inferno para qual se dirige e resolve andar é um hotel na parte oeste de Hollywood, ali usa carreiras de coca, embriaga-se e envolve-se com prostitutas; até que, perdendo já a consciência de si, ele se afunda de verdade, vai tornando-se um tanto violento e covarde. Até que fecha os olhos, e já não vê o mundo, somente as trevas que o rodeiam. Quantos de nós já não passamos por isto?
O resumo do canto I, na Divina Comédia, diz-nos o seguinte: "Dante, perdido numa selva escura, começa a subir por uma colina, quando lhe atravessam uma pantera, um leão e uma loba, que o repelem para a selva. Aparece-lhe então a imagem de Virgílio, que o reanima e se oferece a tirá-lo de lá, fazendo-o passar pelo Inferno e pelo Purgatório. Beatriz, depois, o guiará ao paraíso. Dante a segue."
Tal como Ozzy, Dante tendo acordado certo dia e perdido toda a esperança, foi parar numa selva sombria, onde estava perdido e toda consciência de si e da Verdade tinham ido embora, e só restou ele, com sua razão confusa. Nem sempre podemos nos guiar através de nossas consciências, assim diz um amigo. Somos como ovelhas, burras e teimosas, -- precisamos de um pastor. Os santos, que têm a consciência correta, podem-se deixar guiar por ela. Quem ajuda Dante é Virgílio, poeta romano, conhecido pela sua maravilhosa obra "Eneida", e também por outra, menos conhecida entre os brasileiros: "Geórgicas". Virgílio encontra Dante por causa de Beatriz. A Beatriz de Ozzy é a sua atual esposa, na época retratada pelo clipe ainda eram jovens e namorados. Ela liga para todos, até descobrir onde seu amado está, e o ajuda a sair daquela situação terrível.
Analisemos, levemente, os animais que apareceram a Dante para ver se estes também apareceram a Ozzy. De início, aparece uma pantera. Dante estava saindo do vale escuro, quando esta lhe aparece. Diz ele: "Não se afastava de ante mim a fera, E em modo tal meu caminhar tolhia, Que atrás por vezes eu tornar quisera." Que pode ser essa pantera? A voz endoudecida de nossos pecados. Diz para voltarmos atrás, que não há mais esperança; que está perdida a vida e a alma inteira! Esta pantera fala na mente de Ozzy, é a miséria que ele diz dominar seu corpo e alma.
"Um leão, de repente, surge o aspecto, Que ao meu peito o pavor de novo lança." É válido lembrar que Dante não estava morto com os outros no Inferno. A visão da eternidade para os afogados na luxúria, segundo um livro atual, dá pavor e temor. Eis o que canta Ozzy: "Não cuide mim, Tenha medo de mim, Minha miséria me domina, Eu não quero ser meu inimigo, Minha miséria me domina agora." Eis o assombro da Eternidade no meio daquela vida errante. Era aquele tipo de vida mesmo fonte de felicidade? Se fosse, não teria consciência de sua miséria. Só é bom aquilo cujo bem nunca cessa.
Analisemos a loba. Diz o poeta italiano: "Eis surge a loba, que de magra espanta; De ambições toda parecia cheia; Foi causa a muitos de miséria tanta!" No clipe são retratadas prostitutas viciadas, com a aparência magra,--elas, infelizes também. Tal como as sereias que quase afogaram Ulisses na Odisseia, estas puxaram Ozzy ainda mais para baixo. Foi-lhe causa de "miséria tanta". É claro que em Dante pode ter um significado ainda mais profundo.
Apesar de suas miseráveis palavras, ainda inconsciente, Ozzy é ajudado por sua mulher, levanta-se e sai com ela do seu Inferno. Ela o entende, e quer ajudá-lo. Não esperando outra oportunidade, os dois casam-se em seguida; após alguns meses ele se torna pai, ela se torna mãe. Eis a felicidade dos dois. Beatriz entende Dante, e ajuda aquele inconsciente a se tornar consciente, faz com que Virgílio mostre a ele todo o Inferno e o acompanhe até certa parte do Purgatório. Depois disso é guiado pelas partes mais altas, e acompanhado de sua amada conhece o Paraíso.
Já sabendo que Ozzy casou com sua Beatriz, que teve com ela filhos e que descobriu a verdadeira felicidade da vida, analisemos o caso de Dante que, iluminado pela verdade, na última seção de sua obra, nos últimos versos, confessa: "Às asas minhas fora empresa insana, Se clareado a mente não me houvesse Fulgor, que a posse da verdade aplana. A fantasia aqui valor fenece; Mas a vontade minha a idéias belas, Qual roda, que ao motor pronta obedece, Volvia o amor, que move sol e estrelas."
Eis a chave que nos abre o sentido da vida, e que nos fecha a porta deste texto: o Amor é o que move sol e estrelas. Deus nos criou por amor. Jesus padeceu por amor. Nossa sociedade, como diz o professor Olavo, só funciona na base do amor. Imagine se as mães odiassem seus bebezinhos, como muitos movimentos tentam incitar hoje em dia, e os abandonasse, não cuidando deles? Sem amor, não haveria nada. O amor salvou Dante, o amor salvou Ozzy de sua vida errante, e o amor há de salvar a nós todos, -- se o seguirmos verdadeiramente. O amor não é a perdição, não é a luxúria, o amor é aquilo que nos eleva a Deus e que agrada a Ele.
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