Para David Gilmour, reunião do Pink Floyd no Live 8 foi "como dormir com a ex"
Por André Garcia
Postado em 02 de dezembro de 2022
Uma espécie de continuação do histórico Live Aid de 1985, em 2005 o mundo da música parou com a realização do Live 8. E um dos acontecimentos musicais mais marcantes do festival foi o retorno de Roger Waters ao Pink Floyd — algo que aconteceu lá pela primeira (e única) vez.
A Classic Rock compilou uma série de entrevistas com os membros da banda, o organizador do evento Bob Geldof e outros personagens que participaram daquela história. Abaixo, você confere a tradução de algumas citações, que revelam o sabor agridoce que a reunião teve para o quarteto:
"[Bob] Geldof me ligou e perguntou se eu queria participar do Live 8 com o Pink Floyd", recordou David Gilmour. "Sem mencionar Roger Waters, ele disse apenas 'Teria como você reunir o Pink Floyd para tocar no Live 8?' Eu respondi 'Não, estou no meio do meu disco solo'. [Quando] ele disse 'Vou aí falar com você [pessoalmente]', eu pensei 'Não, não, não!' Liguei para o celular dele e disse 'Bob, não adianta', mas ele disse 'Eu vou assim mesmo'."
"Ele chegou me explicou a coisa toda em detalhes", continuou o guitarrista, "o que me fez sentir culpado e apegado a meu egoísmo. Eu disse "Você já tem um monte de gente, não precisa de nós", mas ele precisava de nós."
A conspiração
O baterista Nick Mason disse que Bob Geldof "queria um verdadeiro número de novidade, reunir aquela formação em particular daquela banda. Para mim, foi uma grande ideia. Ele começou com David, e depois foi comendo pelas beiradas.
Malandro, Bob Geldof conseguiu acender o desejo dos integrantes do Pink Floyd pela reunião, só faltava desatar um nó: as diferenças entre Roger Waters e David Gilmour — o que não foi obstáculo para ele:
"[Geldof] conspirou com Nick [Mason] para chegar até Roger [Waters]", contou Gilmour, "e ele fez Roger me ligar. Meu celular tocou e foi, tipo, "Eaí, aqui é Roger! Como vai?" Aquilo foi... surpreendente."
Como água mole e pedra dura tanto bate até que fura, a resistência de Gilmour eventualmente cedeu à insistência de Geldof. A formação clássica do Pink Floyd aceitou se reunir, mas não demorou para que discordâncias surgissem:
"Roger queria tocar 'Another Brick In The Wall', mas eu não achei apropriado", disse David. "Aquilo era para a África, e eu realmente não achava que crianças africanas deveriam cantar 'Nós não precisamos de educação'. Não houve nem discussão sobre aquilo. Eu estava absolutamente certo."
Roger Waters curtiu estar de volta à banda que o consagrou: "Aquilo foi muito divertido. Nós fizemos alguns ensaios e, no momento em que plugamos [nossos instrumentos] para o primeiro, foi como calçar um velho sapato. David Gilmour, por outro lado, não gostou tanto assim: "Os ensaios me convenceram de que aquilo não era algo que eu queria fazer por muito tempo."
Uma noite e nada mais, pelos velhos tempos
A apresentação foi ótima e emocionou tanto a eles quanto a quem assistiu pessoalmente e quem, assim como eu, acompanhou ao vivo pela televisão.
"É muito emocionante estar aqui com esses três caras depois de tanto tempo", disse Waters durante a apresentação. Já Gilmour disse que "Fomos lá e fizemos. Mandamos muito bem, para mim. Foi ótima a sensação de estar lá com Roger. Raiva e rancor são coisas muito negativas, foi bom deixar tudo aquilo de lado."
O show foi tão bom que muitos fãs ficaram na expectativa de uma turnê de reunião. Por alguns dias até pareceu que ela estava caminhando para se concretizar, mas não demorou para que ficasse claro que não rolaria.
O tecladista Richard Wright contou que "por todas as discussões e problemas que Roger já teve comigo e David, foi maravilhoso subir lá e tocar juntos, mas aprendemos uma lição. Seria muito difícil para a gente fazer uma turnê e rodar o mundo, porque nossas ideias musicais eram muito diferentes."
Na época, Waters enterrou a esperança dos fãs ao declarar que 'nos ofereceram 150 milhões de dólares por uma turnê mundial, mas eu não estou a fim. A reunião está fora de cogitação." Gilmour jogou a pá de cal: "O Live 8 foi ótimo, mas foi um encerramento. Foi como dormir com a ex-esposa. Não há futuro para o Pink Floyd."
A apresentação do Pink Floyd no Live 8 foi a despedida da formação clássica da banda. Uma nova reunião é impossível desde a morte de Richard Wright em 2008.
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