A visão de David Bowie sobre a "prisão" de ser rotulado como artista
Por André Garcia
Postado em 28 de fevereiro de 2023
Ao longo das décadas, David Bowie sempre conduziu sua carreira como uma macro obra. Através de seus trabalhos e transformações, ele transmitiu uma mensagem constante de nunca se acomodar e sempre se reinventar. Como já deixou claro na música "Changes": "Sempre que achava ter alcançado o sucesso, percebia que o sabor não era lá tão doce." Para Bowie, o caminho era a evolução.
Em entrevista de 1995 para a MTV, o Camaleão do Rock comentou como se acomodar em um rótulo pode ser uma verdadeira prisão para a essência aventureira do artista:
"[A liberdade] sempre foi muito importante para mim, então sempre tive uma relação de vai e vem com a ideia de estar preso, rotulado e categorizado. Eu sempre senti que seria como uma prisão para mim, sempre que eu quisesse me mover e mudar como compositor ou performer. Se eu fosse colocado em uma caixinha, aquilo arrancaria minhas entranhas como escritor, porque minha escrita é baseada na ideia de transitoriedade. Minha escrita possui uma visão muito clara de que nada neste mundo é uma realidade real. Não é algo em que você possa se apegar, que possa ser premeditadamente repetido. É algo que no momento estava lá, como amor ou um pôr do sol, ou qualquer coisa assim. Assim como um pôr do sol, é temporário."
"Eu não queria ser trancado em alguma coisa que me impedisse de voar como uma borboleta — de flor em flor, polinizando meu intelecto. Isso tinha muito a ver com não querer ser preso, não querer ser como uma borboleta aprisionada (ou mariposa, o que provavelmente é meu caso). Então, para não ficar preso, meu instinto ao trabalhar em algo era atacar e fugir muito rápido. Se eu dissesse algo da maneira que sentia que deveria ser dito, eu abandonava a coisa e seguia em frente."
As metamorfoses de David Bowie são uma das características mais marcantes de sua carreira. Somente ao longo dos anos 70, ele fez folk rock e glam rock na Inglaterra, fez soul music nos Estados Unidos, fez música experimental/vanguardista na Alemanha e ainda terminou a década como precursor do new wave. Por conta dessa sua capacidade de criar diferentes personas e se reinventar para antecipar tendências e se manter relevante, ele se tornou um verdadeiro ícone da cultura pop, influenciando a gerações de artistas que o seguiram, mesmo após sua morte.
Como já dizia a música do Roxy Music "Tua morte não pôde matar nosso amor por ti".
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