O motivo pelo qual os Mutantes não mencionam Rita Lee em seus shows
Por Bruce William
Postado em 05 de junho de 2023
Formado nos anos sessenta, Os Mutantes foram responsáveis por uma revolução na música brasileira, misturando rock, psicodelia e elementos da cultura brasileira em suas composições. O núcleo da banda na época eram os irmãos Arnaldo e Sérgio Dias Baptista e Rita Lee, que foi uma das peças-chave do grupo, contribuindo não apenas com sua voz marcante mas também com sua habilidade como compositora e instrumentista.
Em 1972, Rita saiu da banda. Na sua autobiografia de 2016 ela contou como foi que tudo aconteceu: "Minha saída do grupo aconteceu bem nos moldes de 'o noivo é o último a saber', no caso, a noiva. Depois de passar o dia fora, chego ao ensaio e me deparo com um clima tenso/denso. Era um tal de um desviar a cara pra lá, o outro olhar para o teto, firular instrumento e coisa e tal. Até que Arnaldo quebra o gelo, toma a palavra e me comunica, não nessas palavras, mas o sentido era o mesmo, que naquele velório o defunto era eu. 'A gente resolveu que a partir de agora você está fora dos Mutantes porque nós resolvemos seguir na linha progressiva-virtuose e você não tem calibre como instrumentista.' Uma escarrada na cara seria menos humilhante. Em vez de me atirar de joelhos chorando e pedindo perdão por ter nascido mulher, fiz a silenciosa elegante. Me retirei da sala em clima dramático, fiz a mala, peguei Danny (a cachorra) e adiós".
Seis anos depois, Os Mutantes encerraram suas atividades, mas em 2007 eles retornaram aos palcos, com a banda prosseguindo até hoje com formações diferentes sob o comando de Sérgio Dias. E uma de suas apresentações recentes foi realizada no dia 3 de junho no festival João Rock, de Ribeirão Preto, onde muitas pessoas da plateia se disseram decepcionadas pois estavam aguardando uma homenagem ou ao menos uma citação à Rita, que nos deixou recentemente, aos 75 anos de idade.
Conforme argumentou Raquel Carneiro em artigo da Veja, quem acabou prestando uma emocionante homenagem à Rita foi a cantora Manu Gavassi, que fez um show especial com as músicas do álbum "Fruto Proibido", um dos mais idolatrados da carreira de Rita, lançado em 1975, e onde ela está acompanhada do Tutti Frutti.
Acontece que Sérgio fez um texto emocionado nas suas redes sociais por ocasião da morte de Rita, e disse que não pretende mais falar sobre ela. Não que tenha ficado alguma espécie de rixa entre eles, muito pelo contrário. Inclusive, nos bastidores do festival, a produção relatou que Sérgio está extremamente sentido e se emociona facilmente ao relembrar a querida amiga.
Como o próprio Sérgio disse à Veja São Paulo, ao ser perguntado sobre Rita Lee: "Isso é uma porta que ninguém vai entrar. Isso é meu e dela. Ninguém tem direito a isso. Dou a minha alma, entrego a minha vida, faço tudo, mas tem coisas que são minhas. Então isso, sinto muito, eu guardo para mim". Mais adiante, ele diz, sobre homenagem: "Em todas as músicas que vamos tocar que são parte da nossa vida, ela está lá"(...) "Ela, Arnaldo, eu, Liminha e Dinho. Aquilo era uma unidade completa. Nunca foi o Arnaldo e os Mutantes, eu e os Mutantes, Rita e os Mutantes. Éramos nós três".
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