O duro recado de Renato Russo para quem ouve Heavy Metal e cultua o demônio
Por Marcos A. M. Cruz
Postado em 03 de fevereiro de 2024
Na época do lançamento do álbum "As Quatro Estações", outubro de 1989, a Legião Urbana já estava consolidada como uma das bandas mais influentes e populares do BRock, com Renato Russo sendo considerado um dos grandes artistas de sua geração, pois ele não apenas desempenhava o papel de vocalista, mas também era o principal letrista, sendo um autor que escrevia textos com profundidade e poesia. E este seu quarto álbum, primeiro após a saída do baixista Renato Rocha, foi o mais bem sucedido em termos financeiros de toda a sua discografia, com números que ultrapassam 2,5 milhões de cópias vendidas.
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Dentre as músicas que se destacam no álbum estão "Há Tempos", "Pais e Filhos", "Monte Castelo" e "Meninos e Meninas", todas com letras assinadas por Renato. Conforme explica a jornalista Chris Fuscaldo no livro "Discobiografia Legionária" (Amazon), "Na época do lançamento, Renato Russo usou o coração para tentar entender e explicar a paixão dos fãs por suas letras", destacando em seguida uma fala de Renato a um jornal da época: "Fomos mais artesanais e me dei ao luxo de, pela primeira vez, não usar o dicionário para escrever as letras que são extremamente emocionais e, por isso mesmo, são bem compreendidas pelo povo brasileiro, que, ao contrário do que dizem, não é burro, mas sentimental, e sempre responde aos estímulos".
Chris conta também que as letras de "As Quatro Estações" geraram polêmicas entre os mais cristãos. "Como o lado contestador não foi revitalizado, as pessoas estão atentando para o lado religioso das letras das músicas, mas desprezam as mensagens políticas presentes em quase todas as faixas", disse Renato para outro jornal, na época em que estava sendo lançado o álbum. Em 1994 ele admitiria que havia ido longe demais durante o processo de composição: "Tinha uma música chamada 'Rapazes Católicos' que a gente cortou do 'As Quatro Estações' porque era impublicável. É impublicável. Era uma coisa sobre fundamentalismo. Era muito explícito sexualmente".
Ainda na época em que o álbum estava sendo gravado, os então três integrantes da Legião Urbana estiveram no programa do Jô Soares, e durante a entrevista, Renato falou sobre a música "Rapazes Católicos": "A gente fez um Heavy Metal que era para ser um comentário sobre a questão de Deus e essa coisa toda do Demônio", começa o vocalista, dizendo em seguida que está com quase trinta anos, então vai dar conselhos por "já ser velho": "Gente, toda palavra é um karma. Então, se vocês ficam desenhando demoniozinhos no caderno e escrevendo o nome de demônios, isso é tão negativo, não pode. É bobo porque... eu acho bobo, estou do lado de Jesus e não abro".
Neste momento, Renato é ovacionado por Jô e pela plateia, e poucos segundos depois ele prossegue: "Então a gente fez essa música que era pra ser um comentário sobre isso, que de repente você pode curtir o Heavy Metal, mas não precisa virar pra essas coisas assim, porque de repente você não sabe com o que você está lidando. Acho que hoje em dia, nos anos oitenta, entrando pros anos noventa, tem tanta energia por aí que não dá para saber com quem a gente está lidando".
No decorrer da entrevista, Renato contar que a música se chamava "Rapazes Católicos" e tinha uma letra muito pesada com bastante coisas impróprias, relatando com falas e gestos cômicos a reação da própria irmã ao ouvir a música, e revelando que a partir dali ele teve a ideia de reaproveitar a base dela para uma letra em inglês que ele havia escrito anos antes, e foi assim que surgiu "Feedback Song For a Dying Friend", inspirada em artistas e pessoas que Renato conhecia, incluindo Cazuza, que haviam sido diagnosticadas com AIDS.
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