Como uma treta com fãs bêbados deu origem a um dos maiores álbuns da história do Rock
Por Bruce William
Postado em 12 de julho de 2024
As inspirações para compositores escreverem suas músicas podem surgir de uma variedade de fontes, como experiências pessoais, emoções intensas, observações do mundo ao seu redor e até mesmo de outros trabalhos artísticos. Muitas vezes, eventos marcantes na vida, sejam eles alegres ou tristes, servem como um catalisador para a criação de novas músicas. Além disso, a natureza, a literatura, os relacionamentos, as viagens e até mesmo os sonhos podem proporcionar ideias ricas e únicas. Em outros casos, um simples riff de guitarra, um ritmo ou uma melodia podem ser o ponto de partida para uma nova canção. Em resumo, a inspiração está em toda parte, e os compositores a captam e moldam de maneiras que ressoam com suas próprias perspectivas e sentimentos.
Não seria diferente para Roger Waters, que como compositor do Pink Floyd buscava inspiração em todos os lugares para escrever suas canções, algumas que se tornaram patrimônio atemporal do Rock. E em 1977, Waters era uma figura central no grupo, tendo assumido meio que um papel de liderança criativa.
Este período foi marcado pelo lançamento do álbum "Animals", que apresentou uma visão mais crítica e sombria da sociedade com Waters, que escreveu a maior parte das letras, usando alegorias inspiradas no livro "A Revolução dos Bichos" de George Orwell para criticar as desigualdades sociais e o materialismo. "Animals" também refletia a crescente insatisfação de Waters com o estado do mundo e também a tensão dentro da própria banda, que estava começando a sentir o peso das personalidades fortes e das diferenças criativas entre seus membros.
E durante a turnê "In the Flesh", que acompanhou o lançamento de "Animals", as tensões internas no Pink Floyd se intensificaram. Waters, já exausto e frustrado, começou a demonstrar comportamentos que revelavam seu descontentamento com o rumo das apresentações ao vivo e com a relação com o público. E toda essa atmosfera caótica reinante culminou em um famoso incidente onde Waters cuspiu em um fã que estava agitado na primeira fila.
O incidente que inspirou Roger Waters a escrever o "The Wall"
Aconteceu em julho de 1977 no Estádio Olímpico de Montreal. Construído no ano anterior, com capacidade para mais de 70 mil pessoas, o estádio estava lotado, registrando o maior público de um show de rock no país, superando até o encerramento dos jogos olímpicos. No entanto, o equipamento de som alugado para aquela ocasião era insuficiente para a demanda. Enquanto a banda tocava, o contínuo rugido de dezenas de milhares de pessoas gritando ao mesmo tempo engolia a música.
Jornalistas que resenharam o show notaram que, quando o grupo tocou uma música mais calma, teve que parar na metade por conta do barulho da platéia. Roger Waters, transtornado, gritava a plenos pulmões no microfone: "CALEM A BOCA E PAREM DE BERRAR", em vão. Foi nesse momento que um fã invadiu o palco e partiu em direção ao baixista.
"O que eu acho que aconteceu foi que eu estava puto ou desiludido de tocar para multidões (...) completamente bêbadas. Um moleque se meteu na minha frente e eu acho que cuspi nele. Quem sabe se eu fiz ou não?", declarou Waters para o nationalpost.com. "Pouco depois do que aconteceu naquela noite, eu percebi que eu estava no lugar errado na hora errada fazendo a coisa errada, e precisava expressar que eu não me sentia humano - e eu queria me sentir humano".
Waters confirmaria várias vezes mais tarde que foi ali naquele episódio que veio na cabeça dele a ideia de "um show que envolvia a construção de um muro gigante entre mim e as pessoas com quem eu estava tentando me comunicar", que ele desenvolveria nos próximos dois anos e cujo resultado final foi o "The Wall", um dos maiores álbuns da história e que consolidou ainda mais a posição do Pink Floyd como uma das bandas mais importantes e influentes de todos os tempos.
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