O que Pete Townshend viu nos diários de Kurt Cobain que o deixou devastado
Por Bruce William
Postado em 19 de fevereiro de 2025
Pete Townshend nunca imaginou que seu nome apareceria em um dos desabafos mais intensos de Kurt Cobain. Em um de seus diários, o líder do Nirvana escreveu: "Espero morrer antes de me tornar Pete Townshend." O guitarrista do The Who refletiu sobre essa frase em um artigo publicado pelo The Guardian em 2002, questionando: "Por quê? Porque me tornei um chato? Porque falhei em morrer jovem? Porque me tornei convencional? Ou simplesmente porque fiquei velho?" Para ele, Cobain enxergava no envelhecimento do rock uma espécie de derrota.
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Ao folhear os diários, Townshend encontrou registros que o deixaram profundamente abalado. "São anotações devastadoramente difíceis de contemplar. Elas machucam", escreveu, descrevendo as páginas como "rabiscos de um viciado em drogas louco e deprimido", repletos de ressentimento, culpa e um desejo latente de escapar do mundo. Segundo ele, a mentalidade expressa nos diários refletia um padrão de pensamento destrutivo familiar a quem já enfrentou problemas com vício e depressão: "Eu já estive lá, já fiz isso."
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O guitarrista do The Who também ficou impressionado com a falta de organização dos escritos. Sem datas ou qualquer ordem cronológica, os diários se tornavam um labirinto confuso da mente de Cobain, algo que, para Townshend, tornava a leitura ainda mais angustiante. Ele percebeu que, apesar do caos, o líder do Nirvana possuía uma energia criativa inegável, expressa não apenas em suas letras, mas também em desenhos de tom gótico e perturbador.
A publicação dos diários levantou uma preocupação em Townshend. Ele temia que essa exposição transmitisse uma mensagem equivocada aos fãs, glorificando o sofrimento e a autodestruição. "É terrível que alguém tão obviamente doente, tão mentalmente perturbado, tão instável, não tenha recebido mais ajuda além de seu trabalho maravilhoso com a banda." Ele se perguntou se aqueles ao redor de Cobain haviam ignorado os sinais, ou se simplesmente não souberam como intervir.
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Townshend também revelou que, em 1993, quando Cobain estava em um estágio crítico de dependência da heroína, foi procurado pelo jornalista Michael Azerrad para tentar intervir e ajudá-lo. No entanto, na época, optou por não agir. Com o passar dos anos, passou a enxergar isso como um erro: "Hoje, eu teria tomado uma decisão diferente. Uma intervenção imediata poderia ter salvado sua vida."
O artigo de Townshend não apenas reflete sobre a mente conturbada de Cobain, mas também sobre a forma como o rock frequentemente falha em proteger seus ídolos. "Nós achamos tão difícil salvar os nossos", escreveu. "Mas temos que aceitar a responsabilidade pelo que essas mortes transmitem ao público." Para ele, a história de Cobain não é apenas uma tragédia pessoal, mas um lembrete amargo das armadilhas do estrelato e do preço alto que a fama pode cobrar.
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