A profecia da lendária sambista Clementina de Jesus sobre os Titãs
Por Gustavo Maiato
Postado em 27 de outubro de 2025
Muito antes de os Titãs se tornarem uma das bandas mais importantes do rock brasileiro, um encontro improvável, ocorrido num quarto de hotel no centro de São Paulo, marcou simbolicamente o início de sua trajetória. Em 1980, três jovens de 18 anos - Tony Bellotto, Branco Mello e Marcelo Fromer - visitaram a sambista Clementina de Jesus e, sem saber, receberam dela uma bênção que soaria quase profética.
Naquele Dia das Mães, Clementina, então com 79 anos, descansava entre apresentações na capital paulista. Hospedada no Hotel Jandaia, na Avenida Duque de Caxias, a artista aproveitava a tarde assistindo ao Programa Silvio Santos, quando foi surpreendida por quatro visitantes: os três músicos e Ana Paula, namorada de Tony, que carregava uma câmera Super-8. A história é relatada no livro "A vida até parece uma festa".

Os rapazes se apresentaram como o Trio Mamão, um dos primeiros nomes do embrião dos Titãs. O grupo carregava três violões e um entusiasmo juvenil. "Clementina, nós somos de um conjunto aqui de São Paulo... fizemos uma música pra você", anunciou Branco Mello, que ainda usava o apelido de infância, "Branco". Vaidosa e simpática, a cantora pediu um instante para se arrumar, voltou penteada e sentou-se na cama, disposta a ouvir a homenagem.
A música, escrita por Tony Bellotto, chamava-se "Rainha Pretinha da Voz Africana", um tributo sincero à grande dama do samba. Nos versos, os jovens celebravam a força e a ancestralidade de Clementina: "Estrela repentina ilumina a garganta / a voz de Clementina".
Com o andamento marcado pelos violões, ela começou a acompanhar o ritmo, cantarolando e balançando a cabeça. Pouco depois, estava de pé, dançando e sorrindo diante dos músicos - uma cena registrada pela lente da jovem cinegrafista.
Tomada pela emoção, Clementina de Jesus encerrou o improvisado show com palavras que, anos depois, soariam como um presságio: "Vocês são maravilhosos e vão ter uma trajetória brilhante."
O Trio Mamão deixaria o quarto levando a bênção de uma das maiores vozes do Brasil - e, em poucos anos, os rapazes formariam os Titãs, banda fundamental do rock nacional nas décadas seguintes.
Quem foi Clementina de Jesus?
Clementina de Jesus da Silva (1901–1987), conhecida carinhosamente como Quelé, foi uma das vozes mais poderosas e simbólicas da música brasileira. Nascida em Valença (RJ), trabalhou por décadas como lavadeira até ser descoberta aos 63 anos pelo poeta Hermínio Bello de Carvalho. A partir daí, tornou-se referência no resgate dos cantos negros tradicionais, jongos e partidos-altos, aproximando o Brasil de suas raízes africanas. Mesmo católica, Clementina interpretava cânticos de terreiro com devoção e naturalidade, traduzindo em sua voz a fusão entre fé, ancestralidade e resistência cultural.
Apelidada de "Rainha do Partido-Alto", Clementina foi reverenciada por nomes como Milton Nascimento, Paulinho da Viola e Pixinguinha, com quem gravou o clássico Gente da Antiga. Sua presença imponente e voz grave eram descritas como "a própria África em cena". Em vida, recebeu homenagens de escolas de samba e artistas de diversas gerações; após sua morte, seu legado segue celebrado como um elo vivo entre o samba, a tradição oral e a identidade negra brasileira.
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