A banda com a qual Phil Collins disse estar "no céu" ao trabalhar
Por Bruce William
Postado em 20 de outubro de 2025
Phil Collins sempre foi bicho inquieto. Mesmo quando dominava as paradas, mantinha um pé no laboratório: precisava de música que desafiava a cabeça e a mão. No Genesis dos tempos de Peter Gabriel, ele já brincava de encaixar polirritmia em canções-surrealismo; depois, no Brand X, abriu a porteira do fusion para suar em compassos ímpares. Pop no topo, sim - mas o coração batia mais forte quando a engrenagem era complexa.
A graça de Collins como baterista é essa obsessão por detalhe: ele trata o kit como arquitetura. Em carreira solo, poliu o refrão, mas nunca largou a precisão - aquele fill de "In the Air Tonight" é a prova cabal de que um único gesto pode carimbar um nome na história.


Ainda assim, chegaria uma fase em que ele queria uma banda que unisse técnica e cancioneiro clássico sem parecer ginástica. A chance veio quando se aproximou de Eric Clapton; primeiro no estúdio, produzindo discos como "Behind the Sun"; depois, na estrada, sentado no trono, comandando a dinâmica.

O time ajudava a transformar cada noite num curso avançado de musicalidade: Nathan East no baixo, Greg Phillinganes nos teclados - dois titãs do estúdio que pensam a música de dentro para fora, servindo a canção antes de exibir virtuosismo. Clapton, com seu faro de banda, incentivava a jam, mas com régua e compasso: espaço para respirar, ataque na hora certa, recuo quando a melodia pedia.
Collins contou que ali bateu uma sensação rara: tudo no lugar, tudo soando do jeito certo, energia sem esforço: "Eu amo tocar - e aqueles shows eram incríveis. Produzi dois discos do Eric e depois levamos pra estrada; foi a melhor banda em que já estive: o Eric, o baixista Nathan East e o tecladista Greg Phillinganes. A gente chamava de 'The Heaven Band'. Cara, foi maravilhoso. Me diverti demais", disse, em fala publicada na Far Out.

"Heaven Band" não era figura de estilo; era a experiência mesmo: tocar com músicos que conversam no olhar e deixam o silêncio trabalhar quando é o silêncio que dá mais groove. Comparada às aventuras do Brand X, a pegada com Clapton não buscava quebrar recorde de notas por minuto. O desafio era outro: soar grande com economia, fazer a plateia sentir o chão tremer sem perder a canção. Para um cara que sempre transitou entre estádio pop e culto prog, foi o equilíbrio perfeito.
Poderia haver dezenas de session players para preencher aquelas cadeiras, mas a química daquele quarteto tinha um quê de supergrupo sem pose: técnica à vontade, vaidade sob controle. A pressão para tocar bem existia, e isso só tornava o divertimento maior. Era palco grande com clima de sala de ensaio. Então, a fala de Collins onde ele diz que se sentiu "no céu" é simples e rara: ele encontrou uma banda onde a cabeça e o coração andavam na mesma batida. E quando isso acontece, o baterista não só marca o tempo - ele encontra o seu.

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