Por que Ratos de Porão e Cólera saíam do Brasil e Inocentes não, segundo Clemente
Por Gustavo Maiato
Postado em 13 de outubro de 2025
Nos anos 1980, o punk brasileiro vivia uma de suas fases mais intensas. Entre shows caóticos, repressão policial e discos lançados de forma quase artesanal, três bandas se destacavam na linha de frente: Ratos de Porão, Cólera e Inocentes. Todas nascidas do mesmo caldeirão da cena paulistana, com ideais de resistência, crítica social e muito barulho, mas que tomaram rumos bem diferentes. Enquanto Ratos e Cólera conseguiram cruzar o oceano e levar o punk nacional para a Europa ainda na década de 1980, o Inocentes - uma das formações mais importantes do gênero - só foi pisar em solo europeu mais de trinta anos depois.
Em entrevista a Andre Barcinski, Clemente Nascimento, vocalista e fundador do Inocentes, explicou com franqueza por que a banda demorou tanto para tocar fora do país. Nada de falta de convite, reconhecimento ou vontade - a resposta, segundo ele, é simples: falta de dinheiro.

"O que fez a gente demorar pra sair do Brasil foi a falta de grana mesmo. A gente era um bando de pobre", disse Clemente, rindo da própria sinceridade. "O Cólera saiu primeiro porque o Redson não tinha filhos, e o pai dele tinha uma situação melhor. Eles pegaram um empréstimo com o pai do Redson pra ir pra Europa, e depois foram multiplicando isso."
Cólera, Rato de Porão e Inocentes
Na mesma época, o Ratos de Porão também conseguia apoio - mas de outra forma. "O Ratos saiu porque a gravadora Eldorado bancava eles no começo dos anos 1990. Já o Inocentes estava sem gravadora, sem selo, sem ninguém pra ajudar. Quem bancou nossa ida foi o selo HB Records, senão a gente nem passava do aeroporto."
Clemente contou que as dificuldades financeiras sempre foram um peso na trajetória da banda. Ter filhos cedo e não contar com uma estrutura empresarial por trás complicou ainda mais as coisas. "Eu tive filho cedo, não podia sair. A banda era nossa vida, mas também era nossa sobrevivência. A gente não podia largar tudo pra tentar a sorte lá fora", relembrou.
Mesmo décadas depois, a situação para bandas independentes continua difícil. "Recebemos convite pra ir de novo agora, em 2024, mas não temos dinheiro pra passagem. A gente é uma banda pobre. O translado, hospedagem, alimentação - tudo é um absurdo", afirmou. "Os shows lá até rolam, mas a grana não cobre os custos. Tem que vender muito merchan pra empatar, e ainda assim é um investimento pesado."
Clemente também destacou que, diferentemente de colegas que conseguiram estabilidade, o Inocentes sempre se manteve como uma banda de "quebrada". "O Anselmo, o Batista, mora em Guarulhos, uma quebradaça. O Ronaldo é meu vizinho aqui no Limão. A gente é banda de periferia, banda do povo. O Gordo foi pra MTV, o Jão abriu bar e se estruturou. A gente nunca teve essa chance."
Hoje, com mais de quatro décadas de estrada, o Inocentes mantém a chama acesa - e segue reinventando o próprio som. Prova disso é o disco acústico lançado recentemente, revisitando clássicos do grupo em versões desplugadas. O álbum, segundo Clemente, nasceu da vontade de dar nova vida a canções históricas do punk brasileiro.
"A ideia do acústico veio pra mostrar que nossas músicas continuam fortes, mesmo sem distorção. A gente sempre foi banda de verdade, com mensagem e atitude. Punk não é só barulho - é resistência."
Confira a entrevista completa abaixo.
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