A banda feminina com atitude e canção que Lemmy aprovou com louvor; "%$#@ merda!"
Por Bruce William
Postado em 10 de outubro de 2025
Falar de Lemmy é falar de alguém que viveu o rock sem freio. Isso incluía contradições, bravatas e um humor que não passaria incólume pelos padrões de hoje - como se ele fosse se importar com isso... Mas, quando o assunto era música, ele sabia apontar quem chegava para mudar o jogo, inclusive quando vinha de um território que, naquela época, muita gente ainda tratava como "exótico" no rock: uma banda só de garotas.
Ele contava uma cena que, por si só, já mostra o cruzamento de mundos. "Na primeira vez que as Runaways tocaram na Grã-Bretanha, a Joan Jett usou meu cinto de balas no palco. As Runaways foram realmente a primeira banda só de garotas a subir com aquela postura e dizer: 'que se fodam vocês'." A imagem reproduzida na Far Out é clara e vai direto na cara: o cinto de balas do líder do Motörhead na cintura de Joan Jett, e uma banda adolescente ocupando o palco com a mesma arrogância que se cobrava dos caras.


No meio desse impacto, havia uma música que, para Lemmy, resumia o espírito de tudo. "'Cherry Bomb' era a melhor música para uma banda feminina cantar. Na época, foi um escândalo. Tinha família americana sentada no sofá vendo TV reagindo com um 'puta merda!'. Foi divertidíssimo." Em outras palavras: não era perfumaria; era pancada real batendo na sala de estar, com uma garota jovem e selvagem que chega fazendo barulho, confiante e provocativa.

Vale notar que o elogio não veio embrulhado em discurso moderno. Lemmy tinha os seus vícios de linguagem e uma biografia que não combina com uma cartilha certinha. Ainda assim, quando ouviu as Runaways, ele enxergou na banda a presença, com um refrão que gruda, e a atitude no tempo certo. "Cherry Bomb" aparecia como ponto alto não por condescendência, mas porque funcionava no palco e no toca-discos.

Também pesava o papel de Joan Jett como "chefe de matilha". A anedota do cinto ajuda a entender a troca simbólica: a estética bélica de Lemmy, ícone do peso, atravessa para o corpo de uma guitarrista que estava aprendendo a dominar plateias hostis. É o tipo de detalhe que explica por que aquele single, curto e direto, ganhava esse selo de aprovação.
No fim, dá para discutir listas de "melhores" à vontade. O que interessa aqui é o recorte de quem vivia a estrada e não costumava distribuir elogios: para Lemmy, "Cherry Bomb" era a peça certa para uma banda feminina cantar: curta, insolente, direta, feita para levantar do sofá. E isso basta para entender por que a música segue aparecendo toda vez que se fala em mulheres quebrando portas no rock.

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