Como Pete Townshend "salvou" o AC/DC, talvez sem nem saber que estava no meio do rolo
Por Bruce William
Postado em 05 de dezembro de 2025
Quando Derek Shulman deixou de ser o vocalista do Gentle Giant para virar executivo, ninguém imaginava que anos depois ele ajudaria a mudar o rumo do AC/DC. Os detalhes dessa virada aparecem em "Giant Steps: My Improbable Journey From Stage Lights to Executive Heights", livro em que ele relembra a passagem dos palcos para o escritório e conta bastidores de negociações que envolvem nomes como Bon Jovi, Cinderella, Pantera e, claro, os irmãos Young. É ali que surge a história de um "rolo" de gravadora em que o nome de Pete Townshend entra na equação sem que o guitarrista do The Who tivesse participado de reunião alguma.
No trecho publicado na Ultimate Classic Rock, consta que, na virada para os anos 90, o AC/DC ainda lotava shows, mas na Atlantic o clima era bem menos animado. O último álbum de inéditas, "Fly on the Wall" (1985), tinha ido mal, o grupo estava em queda dentro da companhia e já havia quem enxergasse a banda como candidata a virar atração veterana em pacotes de verão. Para completar, o contrato previa um pagamento alto pelo próximo disco, o que reforçava a vontade de alguns executivos de simplesmente dispensar o grupo.

Shulman achava isso um desperdício. Na cabeça dele, o AC/DC ainda tinha muito a oferecer se recebesse apoio certo de produção e selo. No livro, ele lembra da conversa com o chefão Doug Morris, que cravava que a banda "não tinha mais nada" para dar e que aquele som não fazia sentido no clima musical da época. Até que veio a proposta: se Derek topasse ceder Pete Townshend para o outro lado, poderia levar o AC/DC para a ATCO. Do contrário, a banda seria cortada do elenco da gravadora.
O detalhe é que Pete vivia a fase de discos solo conceituais, como "Iron Man: The Musical", que juntava convidados de peso, mas não empolgava o público. Era um nome enorme, claro, porém com lançamentos recentes bem menores em termos de impacto. Já o AC/DC podia estar desgastado em estúdio, mas seguia forte como referência de rock pesado e ainda arrastava multidões. Na visão de Shulman, a troca era quase óbvia: Townshend solo parecia muito menos promissor do que um AC/DC bem trabalhado. Ele aceitou o negócio na hora e levou a banda para o selo que comandava.
Com o grupo agora sob o guarda-chuva da ATCO, Shulman resolveu usar a carta que tinha: não era só um "cara de gravadora", era alguém que já tinha vivido em estúdio e na estrada. Ele falava a língua dos músicos e, além disso, tinha conexões antigas com a família Young desde os tempos dos Easybeats, banda de George Young e Harry Vanda - dupla responsável pelos primeiros discos do AC/DC. Esse histórico ajudou a quebrar a desconfiança e, pela primeira vez, o grupo topou ter alguém da gravadora acompanhando mais de perto o processo criativo.
Para produzir o novo álbum, Derek chamou Bruce Fairbairn, que abraçou o projeto. O AC/DC foi para Vancouver, mudou de ambiente e ganhou fôlego com o baterista galês Chris Slade, no único registro de estúdio dele com o grupo. Ali apareceu outro detalhe curioso de bastidor: Angus Young pediu a Slade que evitasse viradas e enfeites, focando praticamente só em bumbo e caixa. Isso transformou o baterista em um verdadeiro metrônomo humano, deixando espaço para o verdadeiro motor rítmico da banda aparecer com toda a força.
Nos relatos de Shulman, fica claro que essa base não vinha da bateria, e sim de Malcolm Young. Era a guitarra rítmica de Malcolm que segurava tudo, com uma precisão absurda, enquanto Angus costurava solos e frases por cima. Ao ver o processo de perto, Derek concluiu o que muita gente só intuía ouvindo os discos: o impacto das músicas dependia primeiro daquele alicerce simples e rígido, e só depois das guitarras em destaque. O resto da banda preenchia os vazios, mas era Malcolm quem ancorava cada faixa.
Desse trabalho nasceu "The Razors Edge" (1990). A abertura com "Thunderstruck" virou cartão de visitas do disco e acabou se tornando uma das marcas registradas do AC/DC. Shulman conta que chegou a defender "Moneytalks" como primeiro single, por ser mais simples e ter um gancho fácil de rádio. Angus, a equipe e os empresários insistiram em "Thunderstruck", que explodiu no mundo todo e acabou puxando o álbum para o topo das paradas.
O resultado mostrou que a aposta de bastidor tinha funcionado. "The Razors Edge" chegou ao segundo lugar na Billboard 200 e ficou na lista por mais de setenta semanas, com "Thunderstruck", "Moneytalks" e "Are You Ready" rodando pesado nas rádios. Bruce Fairbairn ainda produziu o disco ao vivo da turnê, lançado em 1992, que manteve o grupo em alta. Tudo isso depois que um executivo decidiu trocar o contrato de Pete Townshend por uma banda que a gravadora-mãe já considerava carta fora do baralho. Nesse sentido, dá pra dizer que o guitarrista do The Who "salvou" o AC/DC sem ter pegado em uma palheta, só por estar no lugar certo da pilha de contratos na hora do rolo.
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