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As Velhas Caras do Hard: 10 discos pouco conhecidos do hard setentista

Por Ricardo Seelig
Fonte: Collectors Room
Postado em 29 de novembro de 2016

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O hard rock produzido durante a década de 1970 deu ao mundo grandes bandas como Led Zeppelin, Deep Purple, Kiss e mais um sem número de grupos que influenciaram de maneira definitiva o gênero nas décadas seguintes.

Na sombra destes gigantes, outros nomes também gravaram álbuns excelentes, mas que acabaram não ganhando tanto destaque. A ideia aqui é indicar dez discos pouco falados e que tem tudo para agradar quem curte som pesado, seja pela qualidade das canções ou até mesmo pelas curiosas histórias que os cercam.

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JOSEPH

"Stoned Age Man" (1970), único disco da banda norte-americana Joseph, é um clássico perdido daquilo que muitos críticos denominam como heavy psych, proto-metal e outros rótulos utilizados para definir o som de algumas bandas que começaram a inserir uma dose maior de peso em sua música, antecipando e fazendo a ponte entre a criatividade lisérgica do final dos anos 1960 e o peso e os excessos da década de 1970.

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Lançado originalmente em 1970 pela gravadora Scepter, este primeiro e único registro do Joseph é daqueles discos disputados a tapa pelos colecionadores. Uma cópia em ótimo estado da edição original, além de extremamente difícil de ser encontrada, é guardada a sete chaves pelo sortudo que a possui. Sabendo disso, em 2005 a gravadora Radioactive relançou o álbum em CD, edição essa que ainda pode ser encontrada em algumas boas lojas ao redor do globo.

O som do Joseph é uma mistura de blues com o som psicodélico sessentista, temperado pela guitarra áspera e vocais agressivos de seu líder, Joseph Longeria. O disco tem apenas nove faixas, entre as quais destacaria "Trick Bag", "Cold Biscuits and Fish Heads", "Stone Age Man", "I'm Gonna Build a Mountain", "Gotta Get Away" (composta por Greg Allman, e cuja versão original pode ser conferida no álbum Early Allman: Allman Joys, de 1973) e a versão para "House of the Rising Sun", eternizada pelos Animals.

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Sem dúvida alguma, "Stoned Age Man" é uma jóia bruta de uma época que teima em continuar viva na mente de quem gosta de música.

MURPHY BLEND

O som do quarteto alemão Murphy Blend pode ser definido como uma mistura entre o hard e o prog rock. Os arranjos das composições são orientados para os teclados, e as faixas possuem longas passagens instrumentais com ótimas melodias.

Infelizmente, a banda lançou apenas esse único disco, "First Loss", em 1970, com seis faixas cativantes (mais "Happiness", com apenas três segundos, que fecha o play de maneira ... original), ótimos riffs de teclado e guitarra e claras influências de música clássica em alguns momentos.

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Como curiosidade, vale dizer que o álbum foi relançado recentemente em uma limitadíssima edição de apenas 750 cópias! Altamente recomendado para fãs de grupos como Atomic Rooster, Deep Purple e Uriah Heep.

BANG

Apelidado por muitos colecionadores como "o Black Sabbath americano", o Bang foi formado em 1971 na Filadélfia e tem uma carreira dividida em duas fases distintas. A primeira engloba o período de 1971 a 1973, anos nos quais o grupo lançou quatro discos: "Death of a Country" e "Bang" em 1971, "Mother / Bow to the King" em 1972 e "Music" em 1973. Depois disso o grupo se separou, voltando a se reunir apenas em 1999, ano em que lançaram o mediano "RTZ - Return to Zero" e, mais recentemente, o bom "The Maze" em 2004.

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O disco que dá nome à banda, lançado originalmente em 1971, traz em suas oito faixas um hard rock cadenciado, cujas principais características são o peso extremo das guitarras e o talento diferenciado de Gilcken para compor riffs pegajosos e que não saem da cabeça. Ou seja, um som muito similar ao do Black Sabbath e, em alguns aspectos, até mesmo um pouco à frente ao grupo de Tony Iommi, já que o disco foi lançado no mesmo ano de "Master of Reality".

Quer dizer então que o Bang influenciou o Black Sabbath? Não sei, sinceramente. O que sei é que este trabalho é um biscoito fino para todo e qualquer fã de hard rock setentista. É impossível ouvir faixas como "Lions, Christians", "The Queen", "Come With Me", "Future Shock", "Questions" e "Redman" e não começar a bater cabeça, mesmo que instintivamente. Pra completar, o timbre de Frank Ferrara, além de suas linhas vocais, lembram muito o que Ozzy Osbourne fazia naqueles primeiros anos do Sabbath.

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Mesmo assim, o Bang apresenta nesse seu segundo disco um trabalho com uma qualidade bastante elevada, que não deve nada aos hoje clássicos álbuns gravados e colocados no mercado naquele ano de 1971, e que com o passar dos anos se transformaram em clássicos indiscutíveis entre os admirados de um bom hardão setentista.

Potencial e motivos para isso "Bang" tem. Ouça e tenho certeza de que você concordará comigo.

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BIRTH CONTROL

Formado em 1968 em Berlin, o Birth Control é uma excelente banda alemã cuja música tinha como principais características a grande simbiose entre a guitarra e o teclado Hammond, somados a um trabalho de bateria e percussão extremamente criativo. Apesar de algumas vezes ser classificado como Krautrock, na verdade o som do grupo consistia em um potente e virtuoso hard rock com alguma pitadas de progressivo. Uma exercício rápido para entender a música da banda seria imaginar a união do Deep Purple com o Uriah Heep daquela época.

O nome da banda surgiu como uma resposta provocativa a uma declaração do Papa Paulo VI, onde o líder da igreja católica se pronunciava contrário ao uso das pílulas anticoncepcionais. Durante toda a sua carreira o Birth Control se notabilizou por estampar capas polêmicas em seus discos, sempre explorando a controvérsia gerada pelo sexo e pelos métodos contra-conceptivos.

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"Hoddoo Man" é o terceiro álbum dos caras, e foi lançado em 1972, na sequência de "Birth Control" (1970) e "Operation" (1971). Para muitos este é o melhor momento dos alemães. Marcando a estreia de Wolfang Neuser nos teclados, que entrou no lugar do membro original Reinhold Sobotta, o Birth Control apresenta nas seis faixas do disco uma qualidade espantosa. "Buy" abre o álbum entregando um grande trabalho instrumental, embalado por uma letra que critica duramente a sociedade de consumo. A cereja do bolo é o solo de Neuser, espetacular. "Suicide" vem a seguir e tem um andamento totalmente jazzy, surpreendendo o ouvinte. "Get Down to Your Fate" deixa claras as influências do Purple no som do Birth Control, com o Hammond de Neuser fazendo o trabalho das guitarras, despejando riffs sensacionais um atrás do outro.

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"Gamma Ray", com quase dez minutos de duração, é uma composição repleta de groove, com destaque para a bateria e para os vocais de Bernd Noske, dono de um timbre cativante. Como curiosidade, vale citar que, apesar de sua longa duração, "Gamma Ray" foi lançada como single e virou hit em algumas discotecas européias em meados dos anos 1970. A música que dá nome ao álbum é um hard rock exemplar, e mais uma vez o destaque é o solo de Wolfang Neuser. O disco fecha com "Kaulstoss", faixa instrumental com influências de folk music e passagens inspiradas na música escocesa.

"Hoodoo Man" é um trabalho excepcional, que conquista de imediato qualquer fã de música. Um dos grandes, e esquecidos, álbuns dos anos 1970, com absoluta certeza.

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GREEN BULLFROG

Reunir os amigos para fazer um som, além de ser legal, sempre rende boas histórias. Se entre os seus chapas estão algumas das maiores lendas do rock, o resultado só pode ser histórico.

O Green Bullfrog gravou apenas um disco, fruto de sessões de estúdio realizadas entre fevereiro e maio de 1970. A ideia nasceu na cabeça do produtor Derek Lawrence, que conseguiu reunir em um mesmo grupo uma seleção de músicos com os quais havia trabalhado na década anterior. Entre eles, Ritchie Blackmore e Ian Paice do Deep Purple, Big Jim Sullivan do Tiger e Matthew Fischer do Procol Harum. Por razões contratuais, já que cada um era contratado de uma gravadora diferente, os seus nomes verdadeiros foram substituídos por pseudônimos.

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Toda essa história passaria batida se não fosse a boca grande de Blackmore, que em setembro de 1976 revelou a tramóia em entrevista para a Guitar Player. E aqui vale uma correção: apesar de muita gente jurar que Jeff Beck, Roger Glover e Jon Lord também participam do disco - Glover é inclusive citado textualmente na capa da reedição da bolacha, em 1980 - o trio não registrou nada no play.

O som é um rock and roll sem compromisso, mais uma alegre reunião entre amigos do que qualquer outra coisa. Por isso mesmo, transborda energia e bom humor, e é perfeito pra juntar os chapas, levantar o som e embalar um ótimo papo.

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CHICKEN SHACK

"Imagination Lady" (1972) é o melhor e mais importante disco do grupo inglês Chicken Shack. Porque eu digo isso? Formado em 1964 na cidade de Stourbridge, na Inglaterra, o grupo contava em sua formação original com a vocalista Christine Perfect (que deixaria a banda em 1969 para se casar com o baixista do Fleetwood Mac, John McVie), o pianista Paul Raymond, o baixista Andy Sylvester e o baterista Dave Bidwell, sendo que os três últimos deixaram o grupo em 1971 para se juntar ao Savoy Brown (Webb também fez parte do Savoy Brown entre 1974 e 1975, inclusive gravando o álbum "Boogie Brothers" com os caras, mas isso é outra história).

Stan Webb tinha a banda, mas não tinha quem tocasse nela. Chamou o batera Paul Hancox (Mungo Jerry) e o baixista John Glascock (The Gods, Toe Fat, e que mais tarde faria parte do Jethro Tull entre 1975 e 1979, ano em que morreu, aos 28 anos, vítima de um defeito congênito no coração), entrou em estúdio e de lá saiu com um dos melhores álbuns gravados durante os anos 1970.

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"Imagination Lady", além da linda capa, apresenta em suas sete faixas um trabalho espetacular de Webb e sua nova banda. O blues rock do início da carreira evoluiu para um quase hard rock, com Webb usando e abusando de solos de guitarra repletos de wah-wah e riffs repletos de muita distorção. O álbum é extremamente prazeroso de ouvir, com uma faixa melhor que a outra. Webb canta maravilhosamente bem, Glascock segura as bases para os vôos da guitarra de Stan e Hancox toca sua bateria com viradas em cima de viradas.

Um discaço, infelizmente desconhecido de uma grande parcela do público atual.

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WEST, BRUCE & LAING

Lançada em 1972, "Why Dontcha" é a estréia do West, Bruce & Laing e um belo disco de hard rock setentista. A união da guitarra feroz de Leslie West aos vocais privilegiados de Jack Bruce resultaram em um trabalho competente e que não soa ultrapassado mais de 35 anos depois do seu lançamento original.

Todas as músicas, com exceção de "Out Into the Fields", passeiam pelo hard rock com pitadas de blues, exibindo um peso tão grande que muitas vezes aproxima a banda do então nascente heavy metal.

Pessoalmente destacaria as faixas "Why Dontcha", "The Doctor", o groove de "Turn Me Over", o hard blues "Third Degree" (um blues arrastado e pesado, que lembra muito o que Bruce fazia no Cream ao lado de Eric Clapton e Ginger Baker), o balanço irresistível de "Shake Ma Thing (Rollin Jack)" e "Love is Worth the Blues".

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Apesar de cultuado entre os fãs do Cream e do Mountain, "Why Dontcha" é um disco que mereceria mais destaque, pois, sem dúvida, está entre os melhores e mais interessantes lançamentos de hard rock dos anos setenta.

Não conhece? Então corra, porque já passou da hora.

GEORDIE

"Hope You Like It" (1973) é a estreia do Geordie, grupo de Newcastle que contava em seu line-up com o vocalista Brian Johnson, que alguns anos mais tarde ficaria mundialmente famoso ao substituir Bon Scott no AC/DC.

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O disco tem como grandes destaques os dois singles lançados pelo grupo anteriormente, e que fizeram sucesso nas paradas inglesas do início da década de 1970. "All Because Of You" e "Don't Do That" turbinam o hard rock típico do Geordie com influências glam de nomes como o Slade. O resultado são canções repletas de energia e refrãos grudentos, que não saem da cabeça tão cedo.

As outras nove músicas do álbum mostram uma banda afiada que, embora não apresente momentos de brilhantismo criativo, é competente naquilo que se propõe a fazer.

"Hope You Like It" é um bom álbum de hard rock, com aquela sonoridade típica do início dos anos 1970. Além disso, transformou-se com o tempo em um documento histórico graças a participação de Brian Johnson.

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Vale a pena dar uma conferida.

BECK, BOGERT & APPICE

Um trio composto por Jeff Beck (Yardbirds, Jeff Beck Group) e pela dupla Tim Bogert e Carmine Appice, ambos ex-Vanilla Fudge e Cactus, só poderia ter gravado álbuns antológicos, certo? Nesse caso, a regra não teve exceção. Beck, Bogert e Appice superaram toda e qualquer expectativa sobre o que sairia dessa união, e lançaram um disco histórico em 1973.

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Os músicos já pensavam em gravar juntos desde 1970, mas um acidente de carro tirou Jeff Beck de circulação por um tempo, período no qual Tim Bogert e Carmine Appice, sem banda desde o fim do Vanilla Fudge, juntaram-se a Jim McCarty e Rusty Day e criaram o Cactus. Depois de recuperado, Beck criaria o Jeff Beck Group e gravaria dois ótimos discos, encerrando o grupo em 1972. Na mesma época, Bogert e Appice estavam novamente procurando músicos para um novo projeto, e finalmente a antiga idéia vingou.

A química revelou-se intensa e imediata, gerando ensaios inspiradores, idéias para composições e shows antológicos. Lançado em abril de 1973, o auto-intitulado debut alcançou vendagens significativas na Inglaterra e nos Estados Unidos, puxado pelo single de "Superstition", versão para a canção composta por Stevie Wonder, que queria Jeff Beck na gravação original da canção, que ocorreu justamente no período em que o guitarrista se recuperava do acidente de carro citado anteriormente.

Ainda em 1973 o trio lançaria um disco ao vivo gravado no Japão, outro clássico irretocável, e começava os preparativos para a gravação do segundo trabalho, mas os planos foram abortados com a decisão de Jeff Beck de iniciar a sua carreira solo.

"Beck, Bogert & Appice" é um disco magnífico, o resultado da união de três músicos únicos, lendas e referências em seus instrumentos. Obrigatório em qualquer coleção que se preze.

RABBIT

O Rabbit foi formado em Newcastle, Austrália, em 1973, pelo guitarrista Mark Tinson, pelo batera Phil Screen e pelo baixista Jim Porteus. Inicialmente o grupo contava com Greg Douglas nos vocais, mas Douglas foi substituído por Dave Evans, vocalista fundador do AC/DC ao lado dos irmãos Malcolm e Angus Young, no final de 1974.

A banda lançou apenas dois discos, o auto-intitulado debut em 1975 e esse "Too Much Rock and Roll" em 1976. O som é bem básico, e pode ser definido, de uma maneira simplificada, como uma releitura do rock do início dos anos 1960, só com uma dose maior de peso.

Entre as faixas, destaque para "Go Down Screaming", "Bad Girls", a ótima "Shakin´ All Over", a faixa-título e "Shake that Music". Concluindo, o som do Rabbit é um hard rock simples e até ingênuo, sem maiores compromissos, mas que, justamente por isso, agrada ao ouvinte.

Ah, uma dica: esqueça a ridícula foto da capa e curta apenas o som.

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Sobre Ricardo Seelig

Ricardo Seelig é editor da Collectors Room e colabora com o Whiplash.Net desde 2004.
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