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O Flower Power americano: 15 discos essenciais

Por Edson Medeiros
Fonte: Acid Experience
Postado em 06 de abril de 2014

Atribuir à criação do chamado Rock Psicodélico a apenas um grupo seria uma tremenda injustiça com toda uma cena e uma ideologia que teve um desenvolvimento praticamente natural dentro do Rock pós-Invasão Britânica.

Depois da explosão do Rock and Roll nos anos 50 – nascido da fusão entre o Country e o Blues – que colocava artistas brancos e negros como Elvis Presley e Chuck Berry na mesma categoria musical e aproximava os jovens de diferentes etnias depois de séculos de separação racial, e de um período em que as bandas britânicas (encabeçadas pelos Beatles) dominaram de forma arrasadora o mercado americano no inicio dos anos 60 o Rock passaria a se dividir em diversos subgêneros.

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No Reino Unido os jovens britânicos começavam a ter seu primeiro contato com o Blues afro-americano (que era mal visto pela conservadora sociedade da sua terra natal) por meio de puristas como Alexis Korner, os Bluesbreakers de John Mayall e até bandas mais populares como os Yardbirds e os Rolling Stones.

Já do outro lado do Atlântico, nos EUA, gente como Bob Dylan e os Byrds tocavam uma interessante mistura entre Rock, Folk e Country. No entanto, entre todos os caminhos que o Rock tomaria naquele final de década o mais interessante é o do Rock Psicodélico.

Um gênero construído a base de idealismo revolucionário, imaginação, música barroca e oriental, espiritualidade e muito ácido lisérgico. Tendo nascido na Inglaterra da evolução no som das bandas locais que praticavam aquele Rock básico com profundas raízes na música dos astros do Rock and Roll dos anos 50 e dos medalhões do Blues americano. Muitas dessas bandas típicas do período passaram a se interessar pela música e espiritualidade oriental, especialmente pela música indiana e seus instrumentos tradicionais – como a sitar e a tabla.

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Outras ainda passaram a utilizar drogas alucinógenas de tipos e efeitos variados (principalmente a maconha e o LSD) buscando a promessa de expansão sensorial. Tudo isso e outros fatores culturais da época ajudaram a moldar o que seria classificado como Rock Psicodélico nos próximos anos.

Qual teria sido o primeiro grupo a tocar algo similar ao gênero é uma tarefa praticamente impossível de se apontar, sabe-se que no underground britânico varias bandas passaram gradualmente a tocar o que poderíamos chamar de proto-psicodelismo.

Dentre tantos grupos poderíamos destacar o Pink Floyd de Syd Barrett e Cia. Fundado por jovens universitários de Cambridge e que fez fama no underground londrino por volta de 1965 antes de assinar um contrato com a Columbia e gravar seu primeiro disco dois anos depois.

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No centro do universo musical da época, os Beatles também tiveram uma contribuição significativa para o desenvolvimento do gênero com a transição vivida entre Rubber Soul e Revolver que culminaria na obra-
prima Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band.

Outros grandes grupos que haviam participado da Invasão Britânica também aderiram (mesmo que por um curto período de tempo) ao psicodelismo, entre eles poderíamos destacar os Stones com seu Their Satanic Majesties Request, o Small Faces e sua ópera-Rock Ogdens’ Nut Gone Flake e o The Who com o conceitual The Who Sell Out.

Outros importantes grupos psicodélicos na terra da rainha foram Procol Harum, The Moody Blues, The Nice e o Soft Machine.

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Nos EUA a significância deste novo tipo de som talvez tenha sido ainda maior do que no Reino Unido, aliando a musicalidade lisérgica com os ideais políticos dos jovens americanos que pregavam a vida em comunidade, o fim da guerra do Vietnã e a liberdade de expressão. Esse movimento de contracultura ficou popularmente conhecido como Flower Power e foi em meio às comunidades hippies e ao idealismo coletivo de paz e amor que alguns dos principais grupos do Rock americano da época nasceram ou se reinventaram.

Vejamos a seguir 15 clássicos essenciais do Rock Psicodélico americano.

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15º Captain Beefheart and His Magic Band – Safe as Milk (1967)

Don Van Vliet – ou o Captain Beefheart – acabou ganhando mais reconhecimento como membro do Mothers of Invention do seu amigo Frank Zappa, mas tem uma carreira-solo tão excêntrica quanto seu colega bigodudo malucão.

Com uma banda estelar – incluindo o guitarrista Taj Mahal e o ainda jovem Ry Cooder – o ‘Capitão’ produziu um álbum a altura das obras zappanescas, cheio de letras de puro surrealismo e um estilo vocal vanguardista considerado pouco usual até os dias de hoje. Com uma sonoridade com fortes raízes no Blues Safe as Milk é até hoje uma das peças fundamentais do Rock Psicodélico e da contracultura.

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Destaques: "Zig-Zag Wanderer"; "Electricity" e "Abba Zaba".

14º Spirit – Spirit (1968)

A estréia homônima do grupo do havaiano Randy California e do experiente baterista Ed Cassidy não é nada menos do que uma das mais preciosas e esquecidas perolas do Rock Psicodélico. Fundado por músicos talentosos e que traziam consigo as mais diversas bagagens musicais o Spirit seria um dos mais icônicos grupos dos anos 60 e 70, também muito conhecidos por sua gigantesca falta de sorte. Mesmo sem alcançar o esperado sucesso conseguiram influenciar uma infinidade de bandas com sua mistura entre Rock, Folk e Jazz com requintes de bom gosto.

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Destaques: "Fresh-Garbage", "Taurus" e "Elijah".

13º Moby Grape – Moby Grape (1967)

A estréia homônima do Moby Grape é uma pequena obra-prima do Rock californiano dos anos 60. Contanto com um grupo de músicos talentosos – incluindo Skip Spence (ex-baterista do Jefferson Airplane que agora assume com autoridade a guitarra-rítmica) – são responsáveis por criarem composições simples e inspiradas que são verdadeiras gemas da música Pop. Outro ponto alto do disco é a fusão entre Pop, Rock, Folk e Blues que soa naturalmente sem parecer sintético.

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Destaques: "Mr. Blues"; "Come in the Morning"; "Sitting by the Window" e "Lazy Me".

12º Iron Butterfly – In-A-Gadda-Da-Vida (1968)

O segundo álbum de estúdio do Iron Butterfly foi durantes anos o mais vendido da Atlantic Records, sendo somente superado pelo lendário quarto disco do Led Zeppelin. Tendo como organista, vocalista e principal compositor Doug Ingle, nascido no estado do Nebraska e filho de pai cristão fervoroso, um rapaz que tinha tudo para ser um músico de igreja certinho, mas estamos nos anos 60 e nessa realidade alterada nada é como deveria ser.

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Uma composição que inicialmente se chamava "In the Garden of Eden" ganhou interpretação maníaca quanto à banda resolveu gravá-la entupida de ácido. Ao conferirem o resultado da gravação no dia seguinte quando já estavam sóbrios descobriram que a singela canção havia perdido o refrão que lhe dava nome e assumido a forma inextricável de "In-A-Gadda-Da-Vida" uma Jam de 17 minutos de pura loucura.

Destaques: "Are You Happy" e "In-A-Gadda-Da-Vida".

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11º Big Brother and the Holding Company – Cheap Thrills (1968)

Registrado parte em estúdio, parte ao vivo no Fillmore East o santuário da contracultura californiana. Lançado pouco antes do Festival de Woodstock e após a apresentação que consagrou o grupo no Monterey Pop Festival. Este seria o segundo e último disco a contar com a brilhante Janis Joplin no vocal principal.

Depois de todo o destaque recebido pela cantora em Monterey seus companheiros acabaram sendo "rebaixados" a músicos de acompanhamento pela critica e por quem comprou o disco na época. Mesmo assim o desempenho de Peter Albin, Sam Andrew, James Gurley e David Getz é simplesmente arrasador. Funcionam bem tanto na aspereza do Rock, quanto na melancolia do Blues e na fluidez do Jazz.

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Destaques: "Combination of the Two"; "Summertime"; "Piece of My Heart" e "Ball and Chain".

10º Quicksilver Messenger Service – Happy Trails (1969)

O grupo liderado pelo excelente guitarrista John Cipollina ficou marcado por suas brilhantes performances ao vivo, não é a toa que boa parte do seu melhor trabalho tenha sido capturada durante apresentações no Fillmore West. A banda incrementa seu Rock Psicodélico com guitarras bluseiras e longas suítes jazzísticas que elevam a qualidade de Happy Trails a clássico sessentista.

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Destaques: "When You Love"; "Who Do You Love? – Part 2" e "Mona".

9º Country Joe and the Fish – Electric Music for the Mind and Body (1967)

O irreverente vocalista ‘Country’ Joe McDonald e seu amigo e exímio guitarrista Barry ‘The Fish’ Melton são os cérebros por trás de uma das bandas mais ativas politicamente dos anos 60. Juntos fizeram história ao tocar nos dois principais festivais hippies da história – o Monterey Pop Festival em 1967 e no Woodstock Festival dois anos depois. Organizaram importantes protestos contra a Guerra do Vietnã e brincaram com suas mentes através das drogas alucinógenas. Mais Flower Power impossível.

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Destaques: "Not So Sweet Martha Lorraine"; "Section 43"; "Love" e "Grace".

8º Love – Forever Changes (1967) – O terceiro álbum do Love não possui a mesma força destrutiva de seus antecessores, no entanto é um exemplo de bom gosto musical e mostra um lado mais melódico e polido da banda de Arthur Lee. Ouvir Forever Changes é como assistir a um quadro sendo pintado em camadas de cores que delicadamente se sobrepõem e começam a tomar forma.

Destaques: "Alone Again Or"; "Andmoreagain" e "The Red Telephone".

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7º The 13th Floor Elevators – The Psychedelic Sounds of the 13th Floor Elevators (1966)

Mesmo que o movimento Psicodélico tenha se concentrado na Costa-Oeste Americana (especialmente na Califórnia) não quer dizer que bons grupos não tenham surgido em outros locais dos EUA. Os texanos do 13th Floor Elevators, por exemplo, foi uma das primeiras bandas americanas a aderir à nova onda. O grupo também foi o primeiro a utilizar a palavra ‘psicodélico’ para se referir ao seu tipo de som.

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Destaques: "You’re Gonna Miss Me" e "Roller Coaster".

6º The Doors – The Doors (1967)

O que dizer de uma banda em que seu frontman se autodenominava a encarnação de um antigo feiticeiro indígena? Simplesmente insana! Jim Morrison (ou King Lizard como gostava de ser chamado) e seus companheiros tocaram o terror no puritano EUA com seus atentados ao pudor e a moral americana em pleno palco. Também merecem destaque a guitarra bluseira cortante de Robby Krieger e o órgão ácido do talentoso Ray Manzarek.

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Destaques: "Break on Trough (To the Other Side)"; "Soul Kitchen"; "Light My Fire" e "The End".

5º The Velvet Underground – The Velvet Underground and Nico (1967)

Vanguardista, audacioso, revolucionário, claustrofóbico e instigante. Estes são apenas alguns dos muitos adjetivos que poderíamos dar ao álbum de estréia do Velvet Underground. Banda formada por desajustados de Nova York que ao contrario de seus contemporâneos não falavam sobre paz e amor e sim sobre traficantes, viciados, sadomasoquismo, morte e outros tabus da sociedade civilizada.

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Contando com Loud Reed, John Cale e a alemã Nico em sua formação original foram muito mal recebidos na época do seu lançamento. No entanto influenciaram todos os jovens que ouviram o famoso "disco da banana" em quebrar as regras e fazer seu próprio tipo de Rock.

Destaques: "Sunday Morning"; "I’m Waiting for the Man"; "Femme Fatale"; "Venus in Furs"; "Heroin" e "The Black Angel’s Death Song".

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4º The Byrds – Fifth Dimension (1966)

Após dois álbuns fortemente baseados em Dylan e outros compositores Folk e com a debandada de Gene Clark os Byrds – liderados por Jim McGuinn e David Crosby – conseguiram um importante avanço em relação a seus discos anteriores. Deixaram de ser uma banda quase integralmente de versões e passaram a compor influenciados por LSD e pelo advento psicodélico vivido na Califórnia. Ao lado dos Beatles podem ser considerados os percussores do Raga Rock.

Destaques: "5D (Fifth Dimension)"; "Mr. Spaceman" e "Eight Miles High".

3º The Grateful Dead – Anthem of the Sun (1968)

Quando o Grateful Dead entrou em estúdio para registrar seu segundo álbum tentou de alguma forma superar a qualidade de sua estréia. Objetivo que foi notavelmente alcançado ao lançarem um LP que trazia apenas cinco canções (algo incomum no período) e que tentava sintetizar o que a banda podia fazer de melhor ao vivo. Além de ser um dos primeiros grupos a receber a classificação de Jam Band, o Grateful Dead ainda pode se orgulhar de liderarem uma das comunidades hippies mais fieis de todos os tempos, os Deadheads.

Destaques: "That’s It for the Other One"; "Born Cross-Eyed" e "Alligator".

2º Jefferson Airplane – Surrealistic Pillow (1967)

Após uma estréia vinílica discreta no ano anterior, o Jefferson Airplane sofreria algumas mudanças que teriam um importante impacto em seu próximo álbum. Com as chegadas do baterista Spencer Dryden e da vocalista Grace Slick (que trouxe consigo antigas composições do seu ex-grupo The Great Society) a banda teve um considerável ganho de qualidade.

Com uma clara evolução musical influenciada pelo Flower Power a banda agregou novas texturas musicais ao seu som Folk tirando influencias do Jazz e de ritmos arábicos para criar um das principais peças de referencia à contracultura sessentista.

Destaques: "Somebody to Love"; "Today"; "Embryonic Journey" e "White Rabbit".

1º The Beach Boys – Pet Sounds (1966)

Liderados pela genialidade insana de Brian Wilson, os Beach Boys revolucionaram a forma de se fazer música Pop aliando o Surf Rock e suas belas harmonias vocais com música barroca e vanguardista. Impressionado com a qualidade de Rubber Soul dos Beatles decidiu ele mesmo criar uma obra que superasse o trabalho do Fab Four, com isso nasceu Pet Sounds – que influenciaria os próprios Beatles durante a concepção de Revolver – foi também durante as desgastantes sessões de Pet Sounds que Brian começou seu declínio mental.

Destaques: "Wouldn't It Be Nice"; "Sloop John B"; "God Only Knows" e "Caroline, No".

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