Melhores de 2012: as escolhas do redator Leonardo Daniel Tavares
Por Leonardo Daniel Tavares da Silva
Postado em 27 de dezembro de 2012
Eleger o melhor disco do ano é como eleger a melhor música. Gosto musical é algo bem pessoal. E mesmo se olharmos apenas a parte técnica, iremos, absolutamente, incorrer no erro, uma vez que, para um determinado estilo, uma determinada proposta, um certo nível técnico é apropriado, enquanto em outra situação, um despojamento maior é exigido. Punks odiavam o preciosismo dos progressivos, enquanto para os progressivos, o punk nunca foi música. Os artistas e discos na lista abaixo não estão em nenhuma ordem além da alfabética. E nem a lista pretende soar como "Os melhores de 2012", a não ser quando expressamente declarado. Estes são apenas os discos que mais ouvi neste ano que está acabando, incluindo alguns de bandas da minha cidade que, bairrismo a parte, fizeram por merecer estar nesta lista, pois foram ouvidas até sairem pegando fogo do player.
Melhores e Maiores - Mais Listas
A princípio a lista teria apenas 10 nomes, mas, fui escrevendo, escrevendo e percebi que elencar apenas 10 nomes seria extremamente falho.
1. ANDRE MATOS - Turn of The Lights
Sempre que se fala em ANDRE MATOS, é impossível não esperar por outro clássico como "Living For The Night" (apesar desta canção ser de autoria de Pit Passarell). E isso acontece a cada lançamento da carreira solo ou das inúmeras participações do vocalista e o clássico de tal magnitude jamais aparecerá. Apesar disso, vale muito a pena conferir o novo trabalho do vocalista e se emocionar com faixas como "Gaza" e "Stop!". ANDRE MATOS, como todo grande vocalista, não é o único responsável pela qualidade do CD, dividindo os holofotes com uma banda excelente e apresentando um resultado acima da média, apesar da releitura de "Fake Plastic Trees" que ainda não me desceu pela goela.
2. BARONESS - Yellow and Green
Se você não gosta de novidade (mesmo que novidade muitas vezes signifique reciclar o que já existe), fuja desse álbum duplo maravilhoso do BARONESS. A banda passou por um acidente em seu ônibus recentemente, mas, felizmente, ainda podemos aguardar novos lançamentos. Ansiosos.
3. CANNIBAL CORPSE - Torture
Porrada, tortura, pedrada, pancada. Está tudo ali. A temática gore, a violência sem descanso, a brutalidade e selvageria do CANNIBAL CORPSE. Pode parecer mais do mesmo, mas, é um "mesmo" que te faz lembrar porque você gosta de Death Metal. Além disso, temos o baixo arrasador de Alex Webster. Este disco está na lista de melhores do ano desde o seu lançamento.
4. DARKSIDE - Prayers in Doomsday
Mais uma banda cearense entra nessa lista (sim, sou cearense e aprecio muito a música que é feita aqui - com exceção claro de coisas abjetas como AVI..., ah, deixa pra lá). Durante muito tempo, foi impossível ir aos shows da DARKSIDE, bater cabeça ao som de "Bubonic", entre outras, e não ficar ansioso para ter em mãos este trabalho da banda, que insere elementos de NWOBHM em seu thrash metal. Quando o álbum foi lançado, não perdi tempo. Destaque também para a arte da capa, uma das melhores feitas por aqui.
5. ENCÉFALO - Slave of Pain
Uma das melhores bandas da cena underground lançou este ano o seu primeiro full length. Combinando estilos do thrash metal com death metal, a ENCÉFALO mostrou que veio pra ficar com o seu "Slave of Pain" e já levou o seu som para várias cidades das regiões nordeste, sul e sudeste e já estão trabalhando no segundo disco.
6. JACK WHITE - Bundlerbuss
É bom que tenhamos artistas multi-tarefa, prolixos, workaholics como Jack White hoje em dia. Você pode não gostar de uma música aqui, outra ali (ou pode até não gostar de uma banda aqui outra ali!), mas o homem é uma fábrica de riffs e solos. Em seu primeiro disco declaradamente solo, JW mostra a competência que o faz estar tão presente e chamar tanta atenção desde o WHITE STRIPES.
7. JOEY RAMONE - Ya Know
Uma grande descoberta. Alguns lançamentos póstumos são meros caça-níqueis de familiares ou empresários sem talento. Outros são pérolas que, quando descobertos, nos lembram o quanto é bom estar vivo (pelo menos para ouvir canções como as desse disco). É difícil escolher um destaque num disco tão cheio de lindas canções. Ouça tudo, várias vezes. Rock n' Roll é a resposta, sabe?
8. LAMB OF GOD - Resolution
Respire fundo. Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaarghhhhhhhhhh. Mantenha a respiração. Não pare. Fúria. Raiva. Ódio. Continue respirando. Aaaaaaaaaaaaaaaaaarghhhhhhhh. Impossível não se render a intensidade do LAMB OF GOD. Randy Blythe foi indiciado por homicídio culposo na República Tcheca em um processo controverso. Se o vocalista teve alguma culpa ou não, ou se o problema foi causado pelo próprio stage diver, talvez nunca saberemos. Mas uma verdade é clara, o som que o quinteto americano faz é uma das melhores coisas que já ouvi nos últimos anos.
9. NAPALM DEATH - Utilitarian
Os inventores do grind inventaram agora de incluir um saxofone furioso em uma de suas músicas. O resultado é simplesmente fantástico. A loucura traduzida em música.
10. NEIL YOUNG & CRAZY HORSE - Americana
Ainda curtindo uma música mais calma, vamos falar deste que é um dos dois discos lançados pelo canadense este ano. O canadense conseguiu capturar o espírito estadunidense como muitos artistas de lá jamais sonharam conseguir. Destaque para as conhecidíssimas "Oh Susannah" e "Gallows Pole", que você já ouviu na voz de Robert Plant e Cia. O outro disco, "Psychedelic Pill" também tem recebido elogios, mas ainda não tive oportunidade de ouvir.
11. OBSKURE - Dense Shades of Mankind
O disco começa com quatro músicas que deveriam entrar para a história do metal extremo made in Brazil. E continua empolgante, mostrando por que anos de estrada e dedicação ao metal fazem muito bem ao som de uma banda. É uma banda cearense que deveria ganhar o mundo (e, de certa forma, está, através do relançamento de sua demo "Oppressions in Obscurity" espalhada por toda a Europa).
12. RUSH - Clockwork Angels
Inegavelmente, o melhor disco de 2012, na minha opinião e na de muitos outros. O power trio que mais parece power trinta do Canadá, como de costume, trouxe muita técnica, melodias marcantes e letras de fazer chorar, mas eu não estou bem certo disso. "Tudo que sei é que às vezes é preciso ficar com o pé atras, quando o milagre for muito bom para ser verdade". Como se tudo isso não bastasse, Neil Pert é um nerd incorrigível e lançou, junto com o autor de ficção científica, o livro "Clockwork Angels" baseado (ou servindo de base para) no livro. O livro ainda não tem uma versão em português, mas já tem um sério candidato para traduzi-lo, este outro nerd maluco que vos escreve.
13. TESTAMENT - Dark Roots of Earth
Lembra quando tínhamos que ir às lojas de discos passar um tempão "namorando" com as capas de disco? O lançamento de 2012 do Testament me fez lembrar disso. Hoje a Internet nos tirou esse prazer, mas a excepcional capa de "Dark Roots..." (a melhor do ano) e o conteúdo do disco promovem a mesma sensação que muitos daqueles discos, naqueles anos, nos trouxeram. O vocal de Chuck Billy, que recentemente se curou de um câncer, é inacreditável. Não gostei de "Man Kills Mankind" mas fiquei viciado no resto do disco. Se optar pela versão com as covers do QUEEN, SCORPIONS e IRON MAIDEN então, você não tem mais como fugir. O disco de thrash metal do ano (apesar dos excelentes "Phanton Antichrist", do KREATOR, "A Girl Called Cerveza", do TANKARD e "Spiritual Genocide", do DESTRUCTION).
Decepção do Ano
BLAZE BAYLEY - King of Metal
De início, parecia pretencioso demais. Depois que o conceito foi explicado, prestamos atenção melhor ao conteúdo do disco. Mas, assim como a idéia que fazemos do disco parece ser precipitada, a produção também parece ser. Há boas homenagens a Dimebag Darrel e Dio, faixas que poderiam ser hinos do heavy metal, como "Fight" e "Judge Me", a belíssima "One More Step", que poderia estar em um disco de 1969. Mas, tudo merecia uma segunda "demão de tinta". O que se vê é um grande desperdício de boas idéias, um grande e enorme "quase". Escute a terrível "Beggining" e repita comigo: "Eu, gripado, posso fazer muito melhor que isso".
Perda do Ano: JON LORD
Jon Lord revolucionou o rock em uma das bandas que compõe a tríade sagrada a qual se credita a criação do Heavy Metal. Sua partida não é triste apenas pela pessoa que ele foi, mas é a perda de tudo de bom que ele ainda poderia criar. Mas o mestre deixa um legado inegável e perene que está em todos os músicos influenciados por ele.
Clipe do Ano: RUSH - The Wreckers
O clipe, além de plasticamente muito bonito, segue a idéia da música. Atenção: spoiler. O navio passa por todo tipo de tormenta, monstros do mar e perigos. De repente, quando as dificuldades parecem que acabaram, ele se desfacela e afunda. "Tudo que eu sei é que, às vezes, a verdade é o contrário de tudo aquilo que você achava saber na sua vida".
Mico do Ano
Tudo que é ruim ainda pode piorar. E piora quando um certo vocalista de banda de power metal/heavy metal brasileira, em um festival que já foi um fracasso, pede para platéia (a mesma que se comportou de maneira headbanger, ou seja, exemplar) ser educada com atrações internacionais que viriam após ele. Isso merece ou não o singelo adjetivo usado por outro vocalista no ano passado.
DVD do Ano
LED ZEPPELIN "Celebration Day" & SUPERTRAMP "Paris"
O posto é indiscutivelmente do "Celebration Day". Ponto.
Mas, outro DVD que merece ser lembrado e foi eclipsado pela fantástica reunião dos membros originais do LED ZEPPELIN com Jason Bonhan, filho do falecido octopus John Bonhan é o "Paris", do SUPERTRAMP. O show, cujo som já era conhecido através dos discos e CDs, teve suas imagens ocultas por mais de trinta anos (e continuariam assim, se dependesse de Roger Hodgson e Rick Davies). Agora, os fantásticos shows de Paris, em Novembro de 1979, finalmente chegaram às nossas mãos, com qualidade de imagens de 2012. Em breve, publicarei uma resenha mais apropriada (com mais detalhes) sobre esta jóia. Interessante notar que os dois grandes lançamentos em DVD do ano exibem shows que já aconteceram há alguns anos (5 anos e 33 anos, respectivamente).
Show Nacional do Ano - KORZUS, no MOA
Nem tudo foi decepção naquele festival. Grandes amizades foram feitas e perduram até hoje. E grandes bandas se apresentaram nos palcos Dio e Cliff. O KORZUS não era headliner, mas obteve este posto com as circunstâncias e fez um dos melhores shows do Metal Open Air, dirigindo a multidão de humilhados e indignados. Hoje, 27 de dezembro, meu coração ainda bate meio errado ao ver o vídeo do Wall of Death.
Reunião do Ano
O VIPER se reuniu com ANDRE MATOS para tocar seus dois primeiros álbuns na íntegra. A tour que duraria apenas um mês, julho, acabou começando mais cedo e terminando mais tarde, passando por várias cidades do Brasil. Fortaleza recebeu a banda em setembro para um show memorável. Há relatos de que Pit Passarell teria exagerado na dose antes de alguns shows, mas, pelo menos aqui, isso não comprometeu a apresentação do quinteto. Não há certeza do futuro do VIPER, mas um DVD foi gravado no show em São Paulo, em 1 de Julho e deve ser lançado no ano que vem.
Momento de orgulho do ano
Boicote e cancelamento do show do DESTRUCTION. Nenhum banger em sã consciência gostaria de perder um show de uma das maiores expoentes do thrash metal alemão. Mas, novamente por causa das circunstâncias, aconteceu uma mobilização nacional nas redes sociais que chegou aos ouvidos da banda. Resultado: show cancelado. Ano que vem, a banda volta ao Brasil, através das mãos mais sérias.
Coletânia/Tributo Nacional
BRazilian Xtreme Way MMXII
A Metal Media, agência que tem grandes bandas nacionais (NERVOCHAOS, UNEARTHLY e a já citada aqui ENCÉFALO, entre outras) em seu cast, juntou todas na coletânea ‘BRazilian Xtreme Way MMXII’, disponibilizada para download gratuito. São 37 faixas de bandas de vários estados, uma oportunidade de conhecer o trabalho de muita banda boa que vem fazendo a cabeça dos bangers.
http://metalmedia.com.br/_brxw/
Coletânia/Tributo Internacional
Re-machined, A Tribute to Deep Purple's Machine Head
No ano do falecimento de Jon Lord e também no ano em que "Machine Head", um dos melhores álbuns do DEEP PURPLE completa 40 anos, artistas do naipe de IRON MAIDEN, METALLICA e SANTANA aparecem neste disco tributo com covers de todas as faixas do "Machine Head", algumas mais de uma vez. Mesmo que algumas versões não cheguem nem perto das originais, vale a pena conferir esse trabalho.
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