Vulcano: Uma verdadeira instituição do Metal nacional
Por Vicente Reckziegel
Fonte: Witheverytearadream
Postado em 22 de setembro de 2018
Há pouca coisa a se dizer sobre o Vulcano e sua carreira. Trata-se simplesmente de um dos maiores nomes da historia do Metal nacional, um dos pilares desse estilo tão amado por tantos. Nessas quatro décadas, lançaram álbuns clássicos, fizeram shows inesquecíveis aqui e no exterior, e nunca perderam o foco e a humildade, ganhando assim o respeito de todo o público.
Nessa entrevista, o guitarrista Zhema conta mais sobre os primórdios da banda, a carreira e tudo que cerca o Vulcano, demonstrando pique para trilhar ainda mais alguns anos fazendo a música que gosta. Feliz de nós, que podemos assim continuar acompanhando a história ainda sendo escrita...
Vicente – Voltando bastante no passado nesse primeiro momento. Como foi o inicio da banda, os primeiros ensaios, e como chegaram ao nome Vulcano?
Zhema - Lá pelo meio dos anos 70 eu morava em Osasco, SP e era um adolescente que tinha dois amigos próximos que tinham uma banda chamada Sangue Azul. Paulo Magrão Guitarrista e Carli Cooper Baixista e eu tinha essa linguagem de "rock band" com eles. Em 1978 me mudei para Santos, SP e algum tempo depois os chamei para montar uma banda com a finalidade de apresentações ao vivo, algo mais comprometido, etc. No início éramos Eu e Paulo Magrão nas guitarras, Carli Cooper no baixo e Wilham "o ponta" na bateria, fizemos alguns shows com essa formação até Wilham deixar a banda. Bem, depois disso veio o "OM PUSHNE NAMAH" e toda a história que a maioria conhece. Com relação ao nome da banda, VULCANO, vou lhe dizer a verdade, se eu for contar essa história aqui e agora vou tomar duas páginas de sua publicação. Eu já detalhei isso em algumas entrevistas e é uma longa história. Por hora posso dizer que é fruto de um estudo sobre "Magic Square of the Sun", não exatamente o que se encontra na internet atualmente, mas aquele do conceito proposto por Cornelius Agrippa.
Vicente – Há 35 anos, a banda entrava pela primeira vez num estúdio, lançando o EP "Om Pushne Namah". Consegue lembrar e descrever a sensação que sentiram com essa primeira gravação?
Zhema - Claro! Uma sensação de total insegurança, onde éramos principiantes, sem qualquer noção da linguagem que ouvíamos lá dentro - canal 2, panorâmica, na linha, input, fita de ½", Fita de 2", dobra, +2db, eu pensava, meeuuu o que é isso? Mas eu fiz tudo que me pediram para fazer e deu certo, de certa forma. Um mês depois quando eu estava na sala de meu apartamento com minha esposa colocando o vinil nas capas e senti uma emoção do tipo: - Caramba! Gravei um disco! Somente bandas "grandes" faziam isso e através da RCA, Polygram, etc.
Vicente – Em 86 veio à luz o inesquecível "Bloody Vengeance". Como foi gravá-lo e, principalmente, ver a repercussão que até hoje o disco possui?
Zhema - Antes dele teve o "Live!" Que qualifico como tão importante quanto o "Bloddy Vengeance". Quando o "Live!" foi lançado em 1985 as músicas do "Bloody" já existiam e as executávamos nos shows ao vivo naquela época. Não tínhamos dinheiro para gravações e posso dizer que o "Live!" me custou um Chevette 83 e o "Bloody Vengeance" um Passat 84. Eu não tinha a menor noção sobre como esse álbum iria repercutir naquela época, e sobre o futuro então, nem passava pela minha cabeça.
Zhema - Gravamos aquele álbum em São Paulo em apenas um final de semana. Meu amplificador DUO VOX 100 foi responsável pelos timbres tanto das guitarras como pelo contrabaixo, alugamos pratos para o baterista, simplesmente não tínhamos nada! Na primeira noite os camaradas do Golpe de Estado, Helcio, Catalau e Paulo Zinner estavam lá nos ajudando no que podiam. Foi divertido. Depois do álbum gravado, o dinheiro do meu Passat havia acabado, não havia mais dinheiro suficiente para a prensagem e capas, foi quando o Antônio "Toninho" Pirani entrou e fizemos uma parceria.
Vicente – O mais recente lançamento de estúdio da banda foi "XIV", em 2016. Após esse tempo, como avaliam o resultado obtido com o disco, e como foi todo o processo de composição e gravação do mesmo?
Zhema - Eu coloco esse álbum como um dos 3 melhores de minha carreira ao lado do "Bloody Vengeance" e "Tales from the Black Book". Eu tenho no meu notebook o que chamo de "uma gaveta" de "riffs". Durante minhas "brincadeiras" com a guitarra, quando faço um riff interessante eu gravo com meu "Q3 da Zoom" e abaixo e guardo no computador. Depois de um tempo vou ouvir o que tem lá e aquele que me agrada eu desenvolvo para uma música, começo, meio e fim. Depois de um monte de músicas prontas nesse formato, chamo o Arthur e fazemos as divisões e arranjos de bateria, vamos para o estúdio do Ivan Pellicciotti e gravamos os "takes" de bateria. Eu coloco as guitarras e passo aos demais da Banda e cada um faz seu arranjo. Depois de gravado, então escolhemos as que tocaremos ao vivo. Interessante é que escolhemos sempre priorizar as músicas do álbum mais recente para executa-las ao vivo, mas aos poucos vamos retirando do "set list" porque o público sempre demora para interagir com elas.
Vicente – Esse ano vocês lançaram o álbum ao vivo "Live III - From Headbangers to Headbangers". Essa foi uma forma de homenagear os fãs do Vulcano?
Zhema - Este lançamento foi interessante, pois não estava planejado fazê-lo. Havia um show agendado pelo Wilton da Heavy Metal Rock para comemorarmos juntos os 34 anos da loja dele. Como não era festival e o VULCANO poderia usar o tempo que fosse necessário no palco, preparamos um repertório extenso e que passasse por toda carreira da banda. Durante esse processo o Wilton jogou a ideia de que poderíamos gravar o show e lançar um novo CD. Eu concordei e disse faremos como 32 anos antes na mesma região "de Headbangers para Headbangers"
Vicente – Vocês irão tocar no Setembro Negro. Qual a expectativa para este show em particular? E das bandas que irão se apresentar no Festival, quais são as que realmente curtem, ou tem vontade de conferir o show?
Zhema - Razor, tocamos com eles nos Estados Unidos, e também estou muito interessado em assistir ao Coven. O Enthroned tocaremos com eles em um Festival na Bolivia no mês seguinte. Teremos 50 minutos no palco para mostrar o que temos de bom em uma carreira de 37 anos, é pouco e isso me incomoda, mas não o suficiente para chegar lá com "fogo nos olhos". Daremos o melhor de nós nesses 50 minutos.
Vicente – A banda já teve muitas alegrias durante sua trajetória, mas também ocorreram perdas irreparáveis, como o falecimento dos guitarristas Soto Jr e Johnny Hansen. Como foi receber essa notícia?
Zhema - Notícia desse tipo sobre pessoas próximas não é nada bom. É sim um impacto muito forte. O Junior foi embora muito cedo, 39 anos. É pouco! O Hansen também me deixou surpreso porque ele estava trabalhando duro no HARRY e sempre nos encontrávamos em uma padaria aqui perto de casa para conversar, ele não bebia álcool mais e eu tomava minhas cervejas, foi ruim!
Vicente – Zhema, você no inicio da banda era o baixista, porém alguns anos depois assumiu a guitarra no Vulcano, Essa mudança foi algo natural para você?
Zhema - Sim! Na verdade, eu sempre toquei guitarra, porém Soto Junior e o Zé Flavio tocavam melhor do que eu então eu ficava no baixo. A partir de 1987 eu fiquei com as guitarras dos próximos álbuns, sendo que no "Tales from the Black Book" novamente haviam guitarristas melhores do que Eu e então fiz os baixos. Daí em diante resolvi ficar para sempre nas guitarras.
Vicente – Vocês já tiveram a oportunidade de tocar em outros países durante a longa carreira da banda. Como foram essas experiências, e qual a principal diferença que percebem no público daqui, com relação ao estrangeiro?
[an error occurred while processing this directive]Zhema - O público daqui é dividido em "Headbangers" e "Metalheads" o primeiro abrange o segundo, mas o inverso não acontece. Este tipo de coisa que "lá fora" não existe.
Zhema - É ótimo fazer shows lá fora, o profissionalismo está presente sempre, tanto faz se o "pub" é para 40 pessoas, ou se é uma casa de shows para milhares de pessoas.
Vicente – Com quase quatro décadas de atividade, como você enxerga o futuro do Vulcano? Orgulho pela trajetória da banda, que sempre teve total respeito dos fãs e do cenário metálico em geral?
Zhema - Claro! Tenho muito orgulho da Banda e muito respeito pelo fã, porque fã do VULCANO é como fã de Ópera. É uma relação de proximidade e paixão, como essas que existem como times de futebol e por isso mesmo cercada de muitas opiniões contrárias às deles, mas nosso fã é fã de verdade! Pro futuro? Trabalhar em mais um novo álbum e fazer mais e mais apresentações ao vivo, pois são nelas que conquistamos mais fãs.
Vicente – Em poucas palavras, o que acham das seguintes bandas:
Sarcófago – Lenda consagrada
Exodus – Minha preferida isolada da "bay area"
Rotting Christ – Trinta anos após "Leprosy of Death" continua entre as melhores
Krisiun – O mais conhecido representante do atual Metal Brasileiro nas terras além-mar
Morbid Angel – Não é uma das minhas preferidas atualmente, deferentemente dos tempos de "Altar of Madness".
Vicente – Por fim, deixem um recado para os fãs da banda e para todos aqueles que querem conhecer mais sobre o Vulcano e apostam no Metal nacional.
Zhema - Primeiro sou grato pela oportunidade desta entrevista contigo porque me permite levar aos leitores algumas informações e ideias por traz da Banda. Aos fãs é desnecessário dizer que são os principais responsáveis por eu estar aqui respondendo essas questões, então convido aqueles que ainda não conhece por inteiro a "estrada" do VULCANO a se situarem em uma "nave do tempo", pois já se passaram quase 40 anos, e ouçam pouco a pouco nossos álbuns. Comecem pelo último "X I V" e vão regredindo no tempo até 1983 porque assim fazendo compreenderão a História do VULCANO e uma parte da história do Metal Brasileiro. Keep Banging!!
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