Moonspell: a qualidade decaiu e o entretenimento aumentou no metal
Por Edilson Luiz Piassentini
Fonte: Rock N'Breja
Postado em 26 de dezembro de 2017
Um dos grandes expoentes do metal de Portugal para o mundo, o Moonspell caminha fortemente durante os seus 25 anos de carreira, e recentemente lançou um álbum que tem tudo para se tornar um grande marco na história da banda, o álbum 1755!
O Rock N’Breja entrevistou essa semana o vocalista e líder da banda, Fernando Ribeiro, que com muita simpatia, nos contou sobre o processo e curiosidades sobre 1755, a cena do metal nos dias de hoje, sobre a relação do metal entre Portugal e Brasil e muito mais.
Confiram mais essa entrevista exclusiva com Fernando Ribeiro do Moonspell para o Rock N’Breja.
ROCK N’BREJA – Olá Fernando Ribeiro, primeiramente agradeço pela entrevista. O mais novo álbum da banda, 1755, lançado em novembro desse ano pela Napalm Records, vem ganhando um grande destaque na mídia e por parte dos fãs. Realmente um grande álbum tanto pela parte instrumental, quanto as letras. Como foi o processo de composição do álbum?
FERNANDO RIBEIRO – Obrigado. A nossa esperança como banda é contar uma boa historia, reforçando a nossa música com esse conceito. O processo de 1755 foi idêntico a muitos outros, mas um pouco mais explicativo com as orquestrações de Jon Phipps que procuravam recriar a toada ética do acontecimento. O disco foi quase todo produzido em Portugal e foi sem dúvida um tempo muito bem passado entre amigos que mais uma vez se juntaram para ampliar a sua criatividade.
ROCK N’BREJA – Como mencionado, a parte instrumental do álbum apresenta riffs muito vibrantes e com orquestrações épicas e vozes que transparecem a agonia nas letras que contam a história do terremoto que quase destruiu Lisboa no ano de 1755. Um álbum conceitual e o primeiro trabalho da banda cantado todo em português. Houve algum motivo em especial para que o álbum fosse gravado todo no idioma local e acredita que esse trabalho pode se tornar um grande marco na história da banda?
FERNANDO RIBEIRO – O motivo para usar o Português foi instintivo. Comecei logo a escrever e cantar na minha língua local. Não faria sentido outra coisa, por questões de nos mantermos genuínos ao conceito e a historia do terremoto. Se vai tornar um marco ou não, depende dos fãs e sem dúvida que Portugal e Brasil terão responsabilidades na boa aceitação do disco, já que é um disco que entenderão mais facilmente e que talvez, esteja mais próximo de algumas das suas referências.
ROCK N’BREJA – Uma grande surpresa do álbum, principalmente para nós brasileiros, é a faixa de encerramento, uma recriação da música Lanternas dos Afogados, de uma das maiores bandas de rock do Brasil, Os Paralamas do Sucesso. Uma versão emotiva, emocionante, soturna e épica. Como surgiu e qual o propósito para a escolha dessa música? Chegaram a receber alguma opinião do próprio Paralamas do Sucesso?
FERNANDO RIBEIRO – Não sei os Paralamas ouviram, se gostaram, se tem algo a dizer, mas o fato é que esta canção em particular se reveste de uma nota de tristeza e esperança incomum, com uma letra magnífica que podia bem ser daqui. A mim, pareceu-me, perfeita para finalizar o disco, mas tivemos de dar o toque Doom Metal que nos caracteriza. Muitos fãs do Brasil ficaram excitados com esta versão e quando formos tocar por aí com certeza vai ser magnífico cantarmos a uma só voz esse clássico.
ROCK N’BREJA – Já são 25 anos de estrada, 12 álbuns de estúdio lançado, e uma das bandas portuguesas de maior reconhecimento a nível mundial. Como você analisa toda a trajetória da banda, desde seu início, e acredita que o hoje a banda encontra-se no seu auge?
FERNANDO RIBEIRO – Não. O auge é algo impossível de atingir para nós. Eu me dou por muito satisfeito de ter resistido estes 25 anos e estou focado em sobreviver, com estilo, e algo a mais. Eu não sou grande fã do que o se tornou o Metal hoje, pois muita gente e muito talento têm morrido, e parece que todo mundo é músico de Metal hoje em dia. Inevitavelmente, a qualidade decaiu e o entretenimento aumentou. Por isso, não faço festa, continuo focado, e é complicado para uma banda de Portugal (ou do Brasil), os amigos do Sepultura e Krisiun, por exemplo, sabe que temos de trabalhar e provar dez vezes mais que uma banda gringa ou escandinava.
ROCK N’BREJA – O que poderia nos contar sobre a cena do metal em Portugal? Quais bandas de seu país pode nos indicar? E sobre o Brasil, o que conhece sobre nossa cena e sobre nossas bandas? E nos dias de hoje, como tem visto a cena do metal como um todo? Quais bandas têm ouvido ultimamente?
FERNANDO RIBEIRO – Sou um fã e um grande colecionador do Metal Brasileiro. Tenho uma admiração e um respeito profundo pelo Sepultura, para mim a melhor banda de sempre do Brasil, sem puxa-saco, é um fato. Adoro Krisiun, que para mim é uma das melhores bandas Death do mundo, e claro coleciono e guardo como tesouros os discos da Cogumelo Records: Sarcofago, The Mist, Overdose, Sepultura, Genocidio, Volcano. Atualmente destaco Nervosa, que power trio! Wolfheart and the Ravens onde sei que é inspirado no som do Moonspell e Semblant, uma maravilhosa banda de Curitiba. Conheço muita coisa, mas isso só reflete a atenção dada ao que vem do Brasil por parte de Portugal. O inverso é complicado. Eu acho que já não gosto do estilo, gosto sim de bandas que são metal mas que têm algo que as destacam no seu estilo como Satyricon, Septic Flesh, Sorcerer, Tribulation que lançaram grandes discos esse ano, mas este ano o meu preferido foi Assassination of Julius Cesar de Ulver, um som dark pop, sem preconceitos, muito dark, zero de metal.
ROCK N’BREJA – Já que mencionei o Brasil, o Moonspell já fez vários shows eletrizantes por aqui. Como foi tocar em um grande festival como o Rock in Rio em 2015? E sei que tiveram problemas com alguns cancelamentos de shows aqui em nosso país recentemente. Mas quando teremos uma nova turnê com o álbum 1755 por aqui?
FERNANDO RIBEIRO – Sim. Mas o passado é passado. Nós explicamos o que aconteceu e seguimos em frente. Vamos anunciar pelo menos quatro datas no Brasil antes do fim do ano, como parte da tour mundial de 1755, integrada na parte da América Latina. Vamos passar 2018 em tour e queremos visitar o Brasil pelo menos duas vezes, e estamos a trabalhando nisso. Acho que o Moonspell tem ainda muito ainda para dar ao Brasil, vocês não viram nada.
ROCK N’BREJA – Fernando Ribeiro, mais uma vez agradeço pela atenção e pela entrevista. Deixe um recado para os fãs do Moonspell aqui no Brasil para os nossos seguidores. Abraços e sucesso sempre.
FERNANDO RIBEIRO – Um forte abraço e um obrigado épico a todos os fãs, old e new school, que escutam e seguem Moonspell por todo o país. Estaremos convosco em breve para celebrarmos juntos. Da Santa terrinha, over and out, under the spell! Gratos pela entrevista.
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