Ayreon: apenas adicionei uma dimensão extra para a música
Por Leonardo Daniel Tavares da Silva
Postado em 25 de maio de 2017
Conversar com Arjen Lucassen é uma delícia. Culto e educado, o dono da mente por trás do AYREON mostra em um papo a grande habilidade que tem em criar histórias, situações, universos, personagens. Com todo esse talento, ficou até mais fácil juntar tantos outros grandes nomes da música (James LaBrie, Paul Gilbert, Guthrie Govan, Tobias Sammet, Hansi Kurschi, Floor Jansen, Simone Simons, Russel Allen, só para citar alguns) para ajudá-lo a contar sobre "a fonte" da humanidade no novo álbum do AYREON, "The Source", lançado mundialmente pela Mascot e aqui no Brasil pela Hellion Records (em maio). A primeira parte desta conversa com Arjen, em que ele fala um pouco sobre o álbum em si e como consegue sobreviver de música mesmo sem se apresentar ao vivo, você confere logo abaixo. Em breve, você conferirá aqui o restante da conversa.
Daniel Tavares: Bem, minha primeira questão, obviamente é sobre o "The Source". Digamos que eu tenha caído na Terra hoje e não saiba nada sobre o planeta Alpha, sobre o planeta Y. Seria possível você explicar o conceito do álbum para mim em poucas palavras?
Arjen Lucassen: Em poucas palavras será difícil. [risos] Porque esse universo AYREON basicamente começou em 1993. Então ele cresceu e se tornou um grande, grande universo em 20 anos. Seria como explicar Star Wars em três frases, sabe. [risos] É bem difícil. Mas este último álbum é uma prequela. É um prelúdio da estória inteira, então, é possível começar aqui. Se você não conhece nada de toda a estória do AYREON, este é um bom ponto de começo, porque o "The Source" se refere à fonte da humanidade, então eu estou basicamente explicando neste álbum de onde nós viemos. Ele também começa no Planeta Alpha, há muito, muito tempo atrás, um planeta que está enfrentando os mesmos problemas que nós estamos enfrentando agora, aqui na Terra, todos os problemas ecológicos. Eles constroem um computador central, um mainframe, que é chamado The Frame, para solucionar estes problemas. E o computador diz: "tá certo e deduz que a humanidade é o problema e desliga todos os sistemas de suporte à vida, o que quer dizer que todo mundo no planeta começa a morrer. E a única forma deles preservarem a sua raça é se mudar para outro planeta. Então, basicamente, este é o começo da estória.
Daniel Tavares: Ok. Eu sinceramente vejo este álbum nas listas de melhores álbuns de 2017. Pelo menos nas listas de álbuns de rock, prog e metal. Você compartilha essa visão comigo? Como tem visto a recepção do álbum pelos fãs e críticos, nesta semana, até agora.
Arjen Lucassen: É maravilhoso. Eu realmente não esperava porque todo álbum que eu faço eu dou meus 100%, mas eu nunca sei como as reações serão. E algumas vezes elas não são tão boas, como com meu álbum anterior, "The Theory of Everything". Ele não teve o impacto que este álbum teve. E então, completamente de repente, esse novo álbum é um grande sucesso, eu realmente não sei porque. É maravilhoso, sabe? As pré-vendas estão as maiores que já tivemos. Eu não sei se você chegou a ler no Facebook, mas ele acabou de entrar na lista holandesa na primeira posição, nada mais que no número 1, batendo todos esses artistas de pop, artistas de hip hop e tudo mais. E eu também soube que ele entrou na lista da Alemanha na décima posição, o que é maravilhoso. Ele entrou em todos os países da Escandinávia. Então, sim, a recepção está surpreendente.
Daniel Tavares: Isso é muito bom. Já que falamos do "Theory of Everything", você já escutou "A Teoria de Tudo" do SOULSPELL, que regravou o "Theory of Everything" na íntegra?
Arjen Lucassen: Sim, eu ouvi e ficou bonito. Infelizmente eu ainda não o ouvi inteiro, mas ouvi algumas canções e eles fizeram um grande trabalho, sabe? E o idioma é bonito, sabe? Algumas partes ficaram até mais bonitas que em inglês. Ele soa tão bem. Eu ouvi a canção "Mirror of Dreams" que eles fizeram e os cantores são maravilhosos, em um idioma bonito. Sim, ficou fantástico.
Daniel Tavares: Oh, isto é legal. Eu vou te perguntar sobre o Brasil agora. Eu normalmente faço no final das entrevistas, mas já que começamos a falar do Brasil, você não faz turnês. Então, não existe mesmo a menor chance de tê-lo no Brasil?
Arjen Lucassen: Não. Não. Infelizmente não. Sinto muito. Eu odeio tocar ao vivo. Eu sou realmente um produtor, eu sou um compositor e é isso que eu faço. Eu não sou um artista que se apresenta. Eu fiz isso por 15 anos nos anos 80 e 90, e eu simplesmente não gostava. Eu simplesmente não gostava. Eu sou muito recluso e só quero ficar em casa e ser criativo. Sinto muito, caras.
Daniel Tavares: Ok, talvez a gente vá a Holanda para vê-lo. 03:13 Mas, nessa era de streaming, hoje nós temos Spotify, Deezer, iTunes, sem fazer turnê é mais difícil viver como músico. Como você consegue?
Arjen Lucassen: Bem, a coisa boa é que eu tenho fãs extremamente leais e eles ainda compram os produtos físicos, então, sim, eu vendo um monte de álbuns, sabe. É assim que eu entro nas paradas em todos os lugares, e eu acho que é porque, sabe, não é só música. É a aventura inteira que você compra, você compra este belo folheto, com 44 páginas de bonita arte... e tem a estória... e tem as letras. Tem também um DVD com cenas de bastidores, entrevistas com os músicos. Tem todos os vídeoclipes. Você pode comprar uma camiseta, um capuz, posters e cartões postais. E eu acho que, agora, eles sabem que eu os deixei mal-acostumados. Eles sabem, que mesmo antes de ouvi-lo, eles terão um pacote bom. Então, sim, eu realmente tenho muita sorte. Eu ainda vendo muitos CDs e posso continuar fazendo o que eu faço.
Daniel Tavares: Ok. Esta é também uma coisa diferente que acontece de forma diferente com o AYREON e outras bandas. Normalmente as pessoas ao redor do mundo hoje escutam uma canção, duas canções de um álbum, depois mudam para alguma outra coisa. Mas no caso do AYREON nós todos estamos interessados na história inteira. Nós ouvimos da primeira à última canção de um álbum e um álbum em sua íntegra é completamente diferente... não deveria ser completamente diferente, porque eu acho que esse é o jeito certo e deveria ser assim com todos os outros artistas, mas é. O que você acha disso?
Arjen Lucassen: Sim, é verdade. Quando eu comecei a fazer isso, ninguém mais fazia. Eram os anos 90 e todo mundo estava vivendo para o grunge. Você sabe que eles estavam ouvindo NIRVANA e PEARL JAM e coisas assim. E não era permitido fazer algo como o que eu fiz. Não estava na moda. Você tinha que usar roupas sujas, não dar a mínima e escrever canções sobre drogas ou sobre garotas ou o que quer que seja, sabe? Então eu cheguei com minha ópera rock progressiva e essa história completa de ficção científica. As pessoas pensavam que eu estava doido. Mas, quando eu era garoto eu adorava esse tipo de coisa. Eu amava "Jesus Christ Superstar", eu amava o trabalho com as palavras, amava o THE WHO e o "Tommy", sabe, tudo aquilo. E eu não conseguia acreditar que ninguém mais queria aquilo, ninguém mais queria a aventura completa. Então eu apenas persisti e disse: eu vou fazer de qualquer jeito. E, por sorte, em algum lugar sob a superfície, haviam todas essas pessoas que estavam esperando por algo assim. Eles estavam esperando pela aventura. Elas não estavam querendo ir para o YouTube e assistir um pedaço de coisa. Elas queriam quase como ler um livro ou assistir um filme, elas queriam se sentar diante da música e ler as letras em suas mentes e ter todas aquelas imagens do que estava acontecendo, ver todos aqueles cantores e coisas assim. E eu acho que apenas adicionei uma dimensão extra para a música.
Daniel Tavares: Eu também nunca pensei em ouvir Abigail ou The Wall em uma ordem diferente do que foram criados.
Confira semana que vem a segunda parte desta entrevista. Não deixe também de ver as resenhas do álbum aqui no Whiplash.net.
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