Steel Warrior: acima de tudo, honestidade e paixão pelo Metal
Por Vicente Reckziegel
Fonte: Witheverytearadream
Postado em 03 de janeiro de 2013
Desde a década de 90 na ativa, três discos lançados e shows realizados pelo Brasil. O Steel Warrior é uma síntese do Heavy Metal nacional, e ainda anseia por mais. Nessa entrevista, Culver Yu, baterista, fala, sem papas na língua, sobre todo o nosso cenário musical, sobre a carreira da banda e sobre o futuro da banda, sempre da maneira mais genuína possível, resultando em uma entrevista muito bacana. E fica uma sugestão: Conheçam o Steel Warrior, pois, na minha opinião, trata-se de uma das melhores bandas de Heavy Metal do Brasil, não devendo em nada para qualquer "gringa"...
Vicente - Inicialmente, conte-nos um pouco sobre os 16 anos de trajetória do Steel Warrior?
Culver - Primeiramente uma grande saudação a todos que começaram a ler a entrevista, hoje algo bastante raro em tempos de rede social e de informação instantânea, muito obrigado! São quase 17 anos, 3 álbuns, 2 EPs, 2 demos, centenas de shows feitos, e temos a mesma formação há quase 14 anos, posso afirmar que valeu muito a pena estes anos de carreira, que, apesar de, sempre termos a consciência de que não viveríamos da banda e com o risco de sermos uma banda mais "Cult", nos dá a vantagem de não precisarmos nos adaptar às "modas" de mercado, podendo ser apenas "nós mesmos", fazendo tudo com total integridade e honestidade, creio que por não precisarmos sofrer pressões externas, conseguimos trabalhar nossas músicas de forma bastante natural, o que transparece para quem as escuta. Sendo isso diferencial ou não, creio que conseguimos atingir este objetivo. Começamos a banda como qualquer outra, juntar alguns amigos para tocar uns covers, começa a compor algo, fazer alguns shows a troco de um lanche, grava demo, posteriormente CD, com a diferença de que quando começamos, apesar da tecnologia de produção ainda não era tão evidente como é hoje em dia, que qualquer pessoa com um bom PC e manjar um mínimo de produção de áudio consegue trabalhar em casa e produzir um álbum inteiro, trabalhamos como as bandas dos anos 80, gravando fitas K-7, que a geração de hoje nunca viu na vida, a internet só servia para emails, pois era discada e multimídia nem pensar! Informação, tínhamos que comprar revistas para buscar, nada caía de mão beijada como é hoje, por isso ficamos de certo modo bem chateados com o comodismo que há hoje em dia, em que tudo está mais fácil e a geração não sabe aproveitar estes recursos. Mas estamos aqui, firmes e bem ativos!
Vicente - Quais seriam os próximos objetivos do Steel Warrior, um novo disco poderia surgir em breve?
Culver - Sim, estamos trabalhando nas musicas que farão parte do nosso quarto álbum. É Heavy Metal, como sempre foi, está na raiz, no sangue, não tem como mudar.
Vicente - O mais recente disco da banda foi o grande "Legends", de 2008. Como foi a gravação dele?
Culver - Optamos por produzi-lo e lança-lo como banda independente, após o fim do contrato com nossa gravadora. O trabalho todo foi feito em nosso estúdio, que terminamos de construir em 2007, com exceção da bateria, que foi gravada num estúdio do Deny Bonfante (guitarrista do Perpetual Dreams). Como era nosso terceiro trabalho, no mínimo tinha que ficar melhor que os dois anteriores, pelo menos na concepção, e acho que atingimos o resultado desejado, com uma produção mais moderna, porém sem deixar a agressividade e peso de lado. Sem dúvida é o melhor trabalho até o momento, e para o novo trabalho, mais uma vez, no pleonasmo vicioso, temos que nos superar novamente.
Vicente - E o retorno do pessoal, foi o imaginado por vocês?
Culver - Lançamos o álbum na era do mp3 e downloads gratuitos, além disso, foi um período o qual a imprensa grande começou a fechar suas portas para bandas nacionais, limitando-se a divulgar somente meia dúzia das grandes bandas brasileiras, bandas estrangeiras, e claro, quem utiliza a imprensa como uma ferramenta de propaganda, ou seja, pagando e comprando espaço de anúncios em troca de uma matéria, ou vocês nunca perceberam que as bandas que dão entrevista tem anúncio pago de seu trabalho mais recente? Coincidência que não é! Então aquilo que sempre teve ficou pior, o jabá fala mais alto. Acabou que o trabalho não teve sua merecida divulgação, ficando mais restrito a quem já acompanha a banda. Então, infelizmente, não conseguimos atingir um novo público devido a estas questões, assim como estivemos 5 anos fora da "mídia", e se você não está em evidência na mídia, não aparece, então você é esquecido, pois com tanta informação e saturação, o espaço certo para a banda divulgar o trabalho sem bajulação e tapinha nas costas, se fecha. Mas de qualquer modo, o "Legends" cumpriu o seu papel e temos vendido o CD muito bem nos shows.
Vicente - A faixa-titulo Legends, é daquelas perfeitas para abrir um disco, pois possui um impacto grande em quem a ouve. Quais seriam as outras músicas que indicaria para quem ainda não conhece o Steel Warrior?
Culver - Ouça os nossos 3 álbuns por inteiro!!! Sou muito suspeito para dizer quais são as indicadas, até porque não somos o tipo de banda que compõe 15, 20, 30 músicas para escolher 10 para entrar num álbum, fazemos aproveitamento de 100% das composições. Então indico que realmente ouça todos os álbuns e tirem suas próprias conclusões, o que posso afirmar é que todos são 100% metal! É fácil encontrar estes álbuns para download (Visions from the Mistland e Army of the time) na internet, não que eu esteja incentivando a pirataria contra nós mesmos, mas é que os CDs físicos destes trabalhos estão bem difíceis de encontrar. Se curtirem, comprem o Legends!!!
Vicente - De quem foi a ideia para a capa do disco, pois a mesma ficou muito bacana.
Culver - Obrigado pelo comentário, a ideia veio a partir das letras, que, depois de compostas, vimos à temática que o álbum iria abordar então o Anderson (baixista) chegou com essa ideia maluca e o Makila Crowley captou estas ideias e transformou na capa do álbum
Vicente - O som da banda é o velho e bom Heavy Metal, com grandes influências de Power Metal. Como você avalia essa cena nos dias atuais, tanto aqui no Brasil como no exterior?
Culver - Dentro do metal também existem seus ciclos de "modismos", assim como era NWOBHM, veio o thrash, veio o death, veio o Black, virou o melódico e o power, daí pro new, voltou o Black, e hoje a moda é thrash oitentista então o estilo mais tradicional "caiu" um pouco, mas faz parte do mercado, o importante é cada um se manter fiel no que faz, pois tudo é um ciclo, então não nos importamos que o que está em voga é o thrash oitentista que por isso vamos tentar dar uma encostadinha lá, nosso estilo é Heavy Metal e seremos sempre!
Vicente - Culver, agora uma pergunta até um pouco "fora" da música. Você e Boon são irmãos, nascidos em Hong Kong, correto? Como foi a vinda para o Brasil, e como é essa relação familiar dentro da banda?
Culver - Sim, nascemos lá, e sair de lá foi uma decisão que criança não teve escolha! (risos). Dentro da banda não há problema algum, mesmo sendo irmãos de sangue, pois administramos os conflitos sempre bem separados, cada coisa no seu lugar, mas não muda muita coisa, pois todos na banda são quase irmãos, com tanto convívio e vidas compartilhadas por tantos anos.
Vicente - Quais são as suas maiores influências?
Culver - Heavy Metal. Precisa dizer mais?
Vicente - Vocês já tiveram oportunidade de tocar com grandes nomes como o Gamma Ray, Grave Digger, etc. Como foram esses shows em questão?
Culver - Abertura de shows internacionais sempre é um bom aprendizado, afinal você acaba conhecendo mais o que rola nos bastidores (geralmente muitos podres) e um acúmulo de experiências para ajudar sempre, e por esforço e mérito próprio, não se tratando de nos gabar, nós nunca PAGAMOS para nenhuma destas aberturas. Do Gamma Ray e Symphony X foram memoráveis com uma resposta do público à altura da atração principal, nos sentimos felizes que o público nos aceite tão bem. Já na abertura do Grave Digger em 2003 fomos sabotados porque estamos agitando demais o público em Curitiba, onde sempre tivemos uma base muito fiel de público. Aquela produção foi um verdadeiro lixo e felizmente já estamos "escolados" hoje.
Vicente - Como vocês vêem o cenário no nosso país nesse momento, visto o longo tempo de estrada do Steel Warrior? Acreditam que piorou ou houve uma pequena melhora na divulgação e espaço para shows?
Culver - Se começar a falar sobre isso, esta entrevista não terminará, mas resumindo, a cena no Brasil nunca foi boa, se trata de uma questão cultural do povo, não é do estilo em si, que é marginalizado até hoje, porém, com uma ultra valorização do que vem de fora, isso desde sempre, em qualquer área, então com a valorização da moeda, ultimamente o Brasil se tornou uma verdadeira mina de ouro para as bandas estrangeiras, independente do estilo e variantes, que lá fora, tocam para 50 pessoas e vem pra cá tocar para 1000 pessoas ou mais a preços astronômicos e o povo paga, porém acha caro pagar R$ 10, R$ 15 para ver uma banda regional, de outro estado ou até mesmo de nível nacional tão boa ou melhor que qualquer gringa, só porque é do mesmo país, o que não ocorre em outros países, onde o pessoal valoriza e muito a sua cena local, assim como as estrangeiras, tem tratamento igual, nas suas devidas proporções, claro. Mas falando em nível nacional, a questão piorou muito, tudo está concentrado num lugar só, o que não vem de lá não tem chance, não vou citar o estado nem cidade porque não é necessário, a "panelagem" hoje é tão absurda que a mídia fez uma verdadeira "lavagem cerebral" nas pessoas sem que estas percebam a tamanha hipocrisia que se tornou a cena brasileira, reduzindo o país inteiro a 6 bandas, que são muito boas, experientes e tudo mais, porém, estamos num país de 27 estados e 200 milhões de habitantes, por que há espaço só para meia dúzia? Os números de produções menores de shows estão cada vez menores e cada vez mais relaxados, sem dar a mínima condição de boa apresentação porque o público também está cada vez menor, pois tem que fazer economia e viajar para ver uma banda underground da Finlândia que virá para o Brasil no mês que vem. Enfim, a cena está cada vez mais regionalizada e creio que teremos 27 "Brasis" em breve se este comportamento não mudar ou pelo encontrar um "equilíbrio", com o público valorizando mais o que é daqui.
Vicente - Em poucas palavras, o que acham das seguintes bandas:
Angra: Representou o Brazil e provou que o país tem bandas tão boas quanto qualquer país "exportador" de heavy metal, não só o Sepultura.
Helloween: grande influência
Iron Maiden: Lenda viva
Judas Priest: outra lenda viva
Gamma Ray: Kai Hansen é de uma humildade impressionante, além de um super compositor, pode não ser um ultra virtuoso.
Vicente - Uma mensagem para os fãs e amigos que curtem o trabalho do Steel Warrior e para aqueles que gostariam de conhecer melhor seu som e apostam no Metal nacional.
Culver - Obrigado pelo espaço Vicente e também pela paciência de todos por ler esta exposição de ideias, muito grato mesmo! Apóiem a cena nacional, de um em um, este quadro patético pode mudar, vá mais em shows nacionais, os ingressos são muito mais baratos e com certeza você terá diversão igual! Stay Metal!
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