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Project 46: polêmicas, letras ácidas e Metal

Por Vitor Franceschini
Fonte: Blog Arte Metal
Postado em 11 de agosto de 2012

Polêmicas com rede de televisão, letras ácidas em português e Metal. Isso resume um pouco do que é o Project 46, banda que iniciou sua jornada fazendo cover do Slipknot, para depois investir numa sonoridade muito mais agressiva que a dos americanos e soltar o que estava acumulado no peito de muito banger oprimido aí no underground. Fazendo um som atual, mas sem seguir nenhuma tendência, Caio MacBeserra (vocal), Jean Patton e Vinicius Castelallari (guitarras), Rafael Yamada (baixo e vocal) e Henrique Pucci (bateria) uniram todas as suas influências e moldaram uma sonoridade própria e de peso. Divulgando seu debut "Doa A Quem Doer" (2011), o grupo segue com seu grito ecoando pela cena, deixando muitos vestígios. Em uma entrevista agradável, falamos com o baixista Rafael Yamada sobre vários assuntos. Confira.

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Não há como não iniciar com essa pergunta. Enfim, qual foi o motivo de ter gravado o primeiro trabalho "If You Want Your Survival Sign Wake Up Tomorrow" (2009) em inglês e o debut "Doa A Quem Doer" em português?

Rafael Yamada: O primeiro trabalho da banda, o EP de 2009, não tínhamos muito contato com a cena e com a galera, tínhamos boas idéias e muita vontade de fazer, e fizemos da forma como todos estão acostumados a fazer, gravar em inglês, sonhando com sucesso mundial repentino. No inicio da gravação do "Doa a Quem Doer", a ideia persistia na banda, pois apesar de já perceber um crescimento da cena underground e uma identificação do publico com a banda, todos achavam que não iria ficar bom em português, a não ser o Vander (nosso Técnico de P.A e Tour Manager) e o Adair Daufembach (produtor). Após algum tempo decidimos fazer uma música em português (Amanhã Negro) e convidar o Dijjy (Ponto Nulo No Céu) para fazer uma participação e lançar como bonus track no disco. Acontece que a música ficou tão boa que acabamos regravando todo o disco em português e assim nos descobrindo como banda. A mensagem chega da melhor maneira possível, nua e crua. E pesada.

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Conta pra gente como foi o processo de adaptação na hora de compor, já que compor em inglês e português é totalmente diferente?

Rafa: Eu imagino que quando se decide cantar em português o cara tem que sacar que a letra é um instrumento a parte e que vai ter mais relevância do que o resto do som, ao contrário de quando se canta em inglês. Com o Project não foi tão difícil assim, pois já tínhamos boas letras, e contamos com a ajuda do pessoal do Nuscorre (Mamute e Guma) que são rappers e se identificaram muito com o som e com a filosofia da banda.

E como foi o processo de composição de "Doa A Quem Doer"?

Rafa: As ideias foram praticamente brotando nas cabeças, as músicas que são do antigo EP foram feitas pelos guitarristas e moldadas pelo restante da banda. Daí pra frente a cada ensaio que rolava saia um som, o Vini Castellari, a nossa fábrica de ideias, chegava com um riff e a gente fazia um som inteiro. Qualquer riff que valesse a pena a gente trabalhava, variava, e compunha, usava ou descartava, mas nunca deixava de tentar. Acredito que não é necessário compor 20 músicas pra tirar 10 boas pra um disco, mas também não se pode prender a nenhum conceito antes de experimentar, hoje em dia a gente chega a ficar um ensaio inteiro trampando um riff, e dá resultado.

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O trabalho foi produzido por Adair Daufembach (Ponto Nulo no Céu, Hangar, Holiness, John Wayne, Command6, Trayce, Huaska). Como foi trabalhar com Adair e como vocês chegaram até ele?

Rafa: Conhecemos o Adair através do Ponto nulo No Céu, pois o EP deles "Ciclo Interminável" foi um soco na nossa cara, apesar de não ser exatamente o mesmo estilo, a gente se identificou muito com a banda, e até aquele dia não acreditávamos que existia alguém no Brasil capaz de gravar um disco pesado de qualidade. O Jean entrou em contato com ele e descobrimos que gravar com ele era bem mais barato do que gravar com esses estúdios conceituados de sampa, mesmo trazendo o cara de Criciúma e arcando com passagem, hospedagem, etc. Trabalhar com o Adair foi sensacional, eu teria que escrever três paginas aqui pra falar desse cara, resumindo, ele é um monstro do Metal contemporâneo, um gênio da produção e uma pessoa muito foda. O profissionalismo da banda aumentava a cada gravação, pois ele não deixa passar nada na música. Eu me lembro que passamos um dia inteiro, 16 horas mais ou menos, gravando as guitarras da Impunidade. Foi assim que percebemos que o disco ficaria cabuloso e num nível técnico absurdo.

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"Doa A Quem Doer" possui elementos que caminham entre o Thrash Metal e o Metalcore. Quais são as suas influências e o que vocês acham desse atual ‘boom’ do Metalcore pelo mundo?

Rafa: Gostamos de muitas coisas diferentes, eu venho do Thrash 90, da molecada do rap contemporâneo, do Punk Rock. O Henrique vem da escola do Hardcore, do Death Metal e dos Thrash antiguera. O gosto do Caio vai do Suicidal Tendences até o Despised Icon, o Vini é o que tá mais ligado no Metalcore e o Jean é o eterno Dime e o Thrash 80 e 90, passando pelos Deathcore atuais. Ou seja, temos um mix do Metal correndo nas veias da banda. O Metalcore precisa ser trabalhado com muita cautela pra não soar sempre a mesma coisa, pois é um estilo muito padronizado no que tange a composição. Atualmente existem bandas de Metalcore muito boas, como o as I Lay Dying, que além de precursores são referência até hoje.

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A banda também deixa transparecer, não só na sua sonoridade, mas também nas letras, algo oriundo do Punk e Hardcore. Vocês concordam com isso?

Rafa: Não sei te responder essa pergunta com um concordo ou não concordo. As letras são feitas baseadas em situações vividas pelos integrantes da banda, ou testemunhadas por algum integrante da banda. Não estamos fazendo um protesto contra o sistema, contra o governo, ou contra o capitalismo, o nosso protesto sempre foi e sempre será contra o ser humano, contra qualquer ser humano que mereça. Às vezes a gente se condiciona a pensar que todo político é corrupto e todo mauricinho é filho da puta, o que nem sempre é verdade. Tem nego que tá na merda porque merece estar lá e fica querendo culpar quem tá correndo e se dando bem. Esse cara ai tem que se fuder mesmo.

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Além disso, a banda investe em uma sonoridade moderna que muitas vezes é condenada pelos mais conservadores dentro do Metal. O que vocês pensam a respeito disso?

Rafa: Quando o Slipknot começou a fazer sucesso todo mundo falava, essa porcaria aí não vai durar porque é New Metal, onde já se viu nove nego numa banda de Rock, e essas máscaras aí, os caras só querem aparecer, não tocam nada e o som é ruim. Algumas coisas só vêm com o tempo. Com o Project46 eu acredito que vai ser assim também, com o passar do tempo o pessoal vai começar a digerir o som e talvez se identificar. Enquanto isso vamos continuar sendo taxados de emo, fazer o que?

Como tem sido a repercussão do trabalho até então, tanto na crítica, quanto por parte do público?

Rafa: Tivemos resultado positivo de tudo o que fizemos até agora, coisas que nem nós mesmos acreditávamos que poderia acontecer, chegamos a vender todo o nosso merch em uma noite, dar "sold out" em dois shows e ter 30 mil acessos no YouTube num único dia. Modéstia a parte, a gente tá de bem com a galera. Acabamos fazendo muita amizade com o público, quem cola no show sabe que não somos frescos ou achamos que somos rockstars. A gente cola lá na pista toma cerveja, troca ideia com todo mundo, e até abrimos umas rodas se a banda for boa (risos). A crítica aceitou bem o nosso trabalho, e tem elogiado bastante, embora eu particularmente, não ligo muito pra isso, quem tem que gostar do nosso som é a molecada que vai ao show, compra camiseta e CD, e mostra pro amigo o som, chama uma galera pra ir ao show, canta a letra toda e escreve no Facebook "essa letra é a tradução do meu dia hoje". Isso vale mais do que uma nota 10 em um site ou revista.

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E como tem sido os shows? Como anda a agenda da banda?

Rafa: No ano de 2011 e 2012 estamos divulgando nosso disco "Doa a Quem Doer" lançado em agosto de 2011. Já fizemos muitos shows em 2012 e estamos agendando o segundo semestre de 2012, com muitos shows legais e maiores dessa vez. Nossos shows estão com uma média de público muito boa atualmente. O que a banda está investindo agora é em show no interior de sampa e fora do estado, e até fora do país... Estamos ai a disposição da galera (risos).

Uma música de vocês, "Se Quiser", foi vetada pela TV Globo no programa de esportes da emissora. Quando vocês ficaram cientes disso o que sentiram e o que pensam a respeito até então?

Rafa: No dia em que isso aconteceu, primeiro demos risada, depois ficamos extremamente chateados, depois voltamos a dar risada (risos). Ter sido vetado da Globo foi melhor do que ter tocado na Globo, as pessoas que assistem televisão, em sua maioria, não gostam de Metal, e não vão gostar nunca, independente de se você aparece na televisão ou não. Agora a galera da net, ouve, curte, e se não curte, respeita, e então no fim das contas, deixamos de "bombar" na Globo pra "bombar" na internet, o que é muito mais importante pra gente. O sistema de televisão do Brasil está ultrapassado, mórbido, e sem cultura, hoje em dia só é dirigido para as grandes massas (que não ouvem Metal), com todo o respeito, mas a dona Maria lá da esquina, nunca vai querer ouvir Project46. Quer bombar na televisão faz uma dupla sertaneja e vai cantar "Ai Se Eu Te Pego" e seja feliz muito longe de mim!

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Muito obrigado, poderia nos deixar uma mensagem?

Rafa: Queria agradecer pela entrevista, e dizer que hoje o underground está enorme graças aos fãs. Banda boa sempre vai ter tocando no rolê, mas pela primeira vez, desde quando eu tocava cover a dez anos atrás, ser underground vale mais a pena do que estar no mainstream. Não é a toa que estamos vendo bandas de gravadora largando tudo pra voltar a ser independente, o Brasil tá batendo no peito e ouvindo o que é daqui, o que não toca na televisão e o que não toca no radio. O apoio de vocês público, que faz o Project46 crescer, e é por vocês que a gente mata um leão por dia pra fazer um show de qualidade. Obrigado a todos, a gente se vê nos shows!

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Baixe o CD "Doa A Quem Doer" gratuitamente no site da banda:
http://www.project46.com.br

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Sobre Vitor Franceschini

Jornalista graduado tem como principal base escrever sobre Rock e Metal, sua grande paixão. Ex-editor do finado Goredeath Zine, atual comandante do blog Arte Metal, além de colaborador de diversos veículos do underground.
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