Slippery: "onde o Heavy Metal e o Hard Rock se confundiam"
Por Willba Dissidente
Fonte: Die Fight
Postado em 03 de março de 2012
Formada em 2003 na cidade de Campinas, o SLIPPERY é um dos pouquíssimos representantes brasileiros do genuíno Hard Rock. Longe da atitude sleezy que predomina o movimento Sueco atualmente, a banda investe no Hard/Heavy tradicional feito nos anos 80 com alto nível técnico e muito bom gosto. Referências a nomes como DEF LEPPARD, DOKKEN e até mesmo QUIET RIOT são inevitáveis, embora a banda demonstre uma personalidade ímpar.
O quinteto acabou de lançar seu primeiro álbum completo, "First Blow". O show de lançamento acontece no próximo dia 09 de Março no Sebastian Bar em Campinas/SP. Antes disso, a redação do site Die Fight conversou com o guitarrista e principal compositor, Dragão, que nos trouxe todos os detalhes do disco e do universo musical da banda na entevista que transcrevemos abaixo.
"Prepare your ears, prepare your soul, this is SLIPPERY!"
Die Fight - Nos conte um pouco sobre o início da banda. Quando e como ela foi formada?
Dragão - Bom, a banda propriamente dita foi formada no início de 2004, embora essa idéia viesse tomando forma desde 2003. Da primeira formação, os remanescentes somos eu e o Rod. A SLIPPERY nasceu fazendo covers de bandas pelas quais somos influenciados, rolava muita coisa dessa fase oitentista do hard rock/heavy metal. O passo para que começássemos a compor foi dado de forma muito natural, um chegava com um riff, outro apresentava uma melodia, então pensamos "Por que não mostrar esse trabalho nos shows?". Quando o fizemos, a receptividade do público foi muito positiva, o que por sua vez nos incentivou para que continuássemos nesse caminho.
Die Fight - O primeiro trabalho da banda foi o EP "Follow Your Dreams". O que mudou, musicalmente e esteticamente, até o lançamento de "First Blow"?
Dragão - De maneira geral creio que amadurecemos bastante, foi um tempo relativamente longo entre os dois trabalhos, e nesse período passamos por muitas experiências que nos fortaleceram enquanto banda. Musicalmente, sem dúvida que a entrada do Kiko e a sua massiva participação no processo de composição de 'First Blow' fez com que naturalmente elevássemos o nível técnico das canções. Na verdade ele está com nós há bastante tempo e já havia participado de toda a gravação do EP, mas embora sua contribuição tenha sido de extrema importância nos arranjos finais das faixas lá apresentadas, ele não teve uma relação direta com essas composições, já que entrou para a banda no meio desse processo todo, diferentemente do que aconteceu na criação de 'First Blow', onde ele (Kiko) participou diretamente e como peça fundamental do processo de composição. Esteticamente falando, ouso dizer que estamos mais 'sóbrios' de lá pra cá, na verdade nunca fomos adeptos de um visual espalhafatoso, por assim dizer (risos), mas acho que alcançamos um consenso interessante na apresentação estética da banda.
Die Fight - O SLIPPERY faz um som assumidamente baseado no hard rock dos anos 80. Os fãs em potencial da banda estariam então restritos a esse segmento e época ou o som do SLIPPERY também pode ser uma opção para aqueles que buscam algo novo?
Dragão - Veja bem, temos uma sonoridade realmente calcada na década de 80, especialmente naquela fase onde o hard rock e o heavy metal por vezes se confundiam. Nas não raras vezes em que fomos tachados de "clichê", algumas pessoas diziam "ah! essa banda não apresenta nada de novo", mas sempre levamos isso como um imenso elogio, não temos a menor intenção de reinventar o hard rock e sempre buscamos, de fato, uma sonoridade próxima das bandas que admiramos. Comparações são inevitáveis, até o momento somente comparações positivas chegaram até nós. Enfim, fazemos sim um som voltado pra esse segmento e época, porém sempre notamos uma presença expressiva da meninada mais jovem em nossos shows, cantando junto e curtindo a cada refrão, a cada solo. Acho que nada é restrito, devemos ouvir aquilo que nos agrada e nos faz bem, sermos honestos com nós mesmos. Prezamos por todo um clima de nostalgia em nossa música, então pra quem busca algo de fato novo, no sentido de inovador, talvez não seja o mais indicado (risos). Mas se você é daqueles que gostam de cantar um refrão com os punhos cerrados, te desafio a conhecer nosso trabalho!
Die Fight - "First Blow" apresenta 10 músicas próprias e um cover para "Night Of The Demon", do DEMON. Entre esse tracklist, quais são músicas novas e quais já estão no repertório da banda há algum tempo?
Dragão - Em "First Blow" há três faixas que fizeram parte do EP, então desde lá vêm sendo apresentadas ao vivo, são elas "Follow Your Dreams", "No Time to Sorrow" e "Two Young Hearts", todas elas foram remixadas, remasterizadas e tiveram um detalhe ou outro alterado, porém sem que houvesse alguma alteração na estrutura da música. Decidimos por mantê-las no álbum, uma vez que a composição dessas faixas não contou com a participação de nenhum ex-integrante, além de acreditarmos no potencial delas no contexto do disco.
Die Fight - Em relação a "Night Of The Demon", o que os motivou a fazer essa versão? É apenas uma homenagem?
Dragão - Dentre as muitas e muitas bandas que forjaram nosso estilo, o DEMON sempre esteve presente, ao lado de outras também não tão difundidas na grande mídia, como PICTURE, por exemplo, e esses covers tinham seu espaço reservado no setlist para serem executados ao vivo. Eis então que durante o processo de gravação do disco, fizemos contato com Mike Stone (manager do DEMON já há muitos anos) e falamos do interesse em gravar essa música e que ela fizesse parte do disco. Ele gostou bastante da idéia e nos autorizou a usá-la. Quando terminado o processo de masterização, o enviamos a versão final e recebemos com empolgação a aprovação dele. Representou pra nós a confiança que ele depositou no nosso trabalho. Basicamente sim, uma homenagem, mas se formos homenagear todas as bandas e artistas dos quais gostamos, teríamos que prensar uma coletânea gigantesca (risos).
Die Fight - "First Blow" foi produzido por Átila Ardanuy. De que forma o trabalho dele contribuiu para o resultado final do álbum?
Dragão - O conhecemos por intermédio do Andria Busic. O Andria ouviu algumas faixas do disco ainda na fase de pré-produção e nos indicou o Átila. A contribuição dele foi primordial para que alcançássemos a sonoridade que buscávamos para o disco. O Átila é um cara extremamente experiente e gabaritado. São muitos e muitos anos trabalhando a frente do ANJOS DA NOITE e DR. SIN, então quando pensávamos em falar o que esperávamos de uma determinada passagem da música, antes mesmo que abríssemos a boca, lá estava ele fazendo exatamente aquilo que tínhamos planejado. Foi muito fácil e divertido trabalhar com ele.
Die Fight - Ao contrário de algumas bandas atuais de Hard Rock que tem se aventurado pelo Sleezy e até um certo flerte com o Punk, vocês fazem um som sofisticado, técnico, muito bem tocado e de bom gosto, o que de certa forma remonta às origens do estilo. Qual a opinião de vocês então sobre essas bandas contemporâneas que muitas vezes valorizam mais a atitude do que a musicalidade?
Dragão - Primeiramente, fico muito feliz com os elogios! Bom, procuramos não ser radicais com ninguém além de nós mesmos. Há espaço pra todo mundo, e se essas bandas estão tomando seu espaço é porque há quem goste, e respeitamos isso. Mas posso te afirmar com toda certeza que a SLIPPERY não trilhará por esse caminho! Não é essa música que nos comove, então simplesmente não é essa a música que fazemos.
Die Fight - Mesmo que a musicalidade predomine no universo do SLIPPERY, ainda assim notamos uma preocupação da banda com o aspecto visual. Quão importante, de fato, é esse aspecto para vocês?
Dragão - Extremamente importante. Pense por esse lado, se você está afim de somente ouvir uma música, você põe o CD pra tocar e pronto, simples assim, mas se você vai à um show, essa música transcende o aspecto puramente sonoro de até então e passa a envolver uma série de outros sentidos. Imagine que você vá ao teatro e o ator que interpreta Peter Pan (por exemplo) não passe por processo algum de caracterização, então você olha para o palco e vê Peter Pan com uma camisa da seleção, acabou a magia! Não estou falando de usar batom e quilos de laquê, também não fazemos isso. O que quero dizer é, quando saio para ir a um show, quero olhar para o palco e ver um artista que seja responsável pelo espetáculo sonoro e visual, e acreditamos que as pessoas também queiram e mereçam isso.
Die Fight - Em termos de letras, notamos que o SLIPPERY não investe tanto nos temas peculiares do Hard Rock tais como noitadas, mulheres, bebedeiras, encrencas com a polícia, etc. Há letras com mensagens positivas, histórias de amor e algumas que retratam o próprio universo da banda. Gostaria que comentassem mais sobre isso.
Dragão - O processo criativo é absolutamente livre, todos têm total liberdade pra compor e não há regra alguma além do bom senso quando escrevemos uma letra. É interessante que você tenha citado esse aspecto de mensagens positivas, alguns amigos até brincam e dizem que são letras de auto-ajuda (risos). É claro que não passa de uma brincadeira. Mas de fato tentamos transmitir esse positivismo, mais especificamente letras como as de 'Sons of Freedom', 'Follow Your Dreams' e 'No Time to Sorrow' têm uma relação direta com isso, outras nem tanto. Muitas vezes criamos correntes que nos mantêm atados e nos impedem de correr atrás de um objetivo, cabe somente a nós quebrar essas correntes, e nós podemos, basta querer de verdade.
Die Fight - A capa de "First Blow" é, digamos, expressiva! De que forma ela representa o conteúdo do álbum e a proposta da banda?
Dragão - O título do disco foi escolhido justamente por se tratar de um primeiro trabalho completo da banda, digamos assim, já que o anterior era um EP, e a música 'The First Blow' fala justamente disso. "Prepare your ears, prepare your soul!" - é o que diz o primeiro verso dessa música. É um convite à que todos conheçam a banda e nosso trabalho. Creio que a capa sintetize bem o que você pode encontrar no disco, fica evidenciado o teor 'explosivo' das faixas sem deixar de lado toda a malícia inerente ao estilo. A foto é do Fábio Barella e arte ficou a cargo da San Martins.
Die Fight - Para finalizar, quais os planos para o futuro?
Dragão - Bom, temos muito trabalho pela frente ainda com a divulgação desse disco, muita coisa legal tem acontecido, fechamos recentemente com a Som do Darma e isso com toda certeza vai nos ajudar a alavancar esse trabalho. Temos discutido bastante sobre a produção de um vídeo-clipe, é bem provável que em breve tenhamos novidades com relação a isso. Paralelamente ao trabalho de divulgação de 'First Blow', temos nos empenhado em produzir material novo, novas canções estão sendo moldadas e arranjadas. Apesar de muita coisa legal ter acontecido nesses oito anos de banda, temos consciência de que 'First Blow' é de fato o primeiro grande passo para a consolidação da SLIPPERY e continuaremos trabalhando firme para que isso aconteça.
Entrevista publicada originalmente no site Die Fight, por Márcio. Entrevistador: Tom Santos.
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