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Bob Lefsetz: se você é músico, ouça o que ele diz

Por Nacho Belgrande
Fonte: Site do LoKaos Rock Show
Postado em 24 de setembro de 2011

Provavelmente muitos de vocês no mundo do Metal não conhecem o nome Bob Lefsetz. Para aqueles que de fato o conhecem, você tem plena noção de que mina de ouro esse cara é em termos de conhecimento e perspectiva do ramo musical que ele possui.

Algumas pessoas não gostam de ouvir o que ele tem pra dizer, algumas pessoas afirmam que ele é maldoso e/ou cruel. Quer saber? 99,9% dessas pessoas são aquelas em bandas que são uma merda, aquelas que se queixam que a indústria não é justa, aquelas que acham que tudo tem que ser fácil para ser um rock star e que ainda não acredita como a «gravadora» Warner Brothers não veio ainda e os tirou da garagem de suas mães e os colocou em turnê com o Metallica abrindo pra eles.

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Por Justin Gosnell

Antes de começarmos, eu gostaria de perguntar um pouco sobre seu histórico. Como você chegou onde você está hoje e tornou-se esse bastião do conhecimento, se me permite a denominação, que é tão respeitado e reverenciado por tantos dos figures da indústria musical?

Bob: Eu ouvi a muitos discos e fui a muitos shows. Além disso, eu trabalhei na indústria cinematográfica, eu trabalhei no comando da Sanctuary Management nos EUA, mas isso foi muito tempo atrás, nos anos 80 e eu tenho editado uma newsletter faz 25 anos.

OK. Então você basicamente usou a mesma abordagem que construiu pouco a pouco ao longo de um extensor período de tempo de forma resumida para comunicar-se com essas bandas na sua newsletter?

Bob: Sim, exatamente! Como resultado da internet, tudo ficou totalmente diferente porque a newsletter era impressa, mas no ano 2000, eu entrei na internet e é incrível o quanto você pode alcançar, então se você faz algo de bom, as pessoas podem te achar. Ainda que eu tenha terminado não cobrando pelo informativo, o que eu costumava fazer, eu descobri que poderia alcançar mais pessoas e poderia acabar fazendo mais dinheiro com as oportunidades que surgiriam. Como eu digo, eu passei por isso tudo, então quando eu estou passando isso pras bandas – hey – é isso que eu estou fazendo.

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Isso é incrível, e você optou por doar tudo isso de graça…

Bob: Certo! E se você é um artista de verdade, seu principal objetivo é ser exposto ao máximo de pessoas que você puder com sua arte e isso é uma mudança enorme em relação a como era antes da internet. Agora estamos numa época louca com a internet onde há tanta coisa. As pessoas dizem que as crianças têm pouco poder de concentração, mas os garotos não têm déficit de atenção, vocês deveriam vê-los jogar o mesmo videogame por 20 horas! Eles têm um incrível detector de roubada, então se algo não for ótimo, eles não querem jogar. Antigamente quando as coisas eram limitadas e você tinha talvez apenas uma estação de radio no seu Mercado, se você ouvisse algo que você não amasse, você deixava rolar. Ninguém mais faz isso. Então se você for mesmo bom, as pessoas vão lhe achar na internet, mas é uma camada muito fina de pessoas que são muito boas. Muitas pessoas acham que são ótimas, mas na verdade a namorada e a mãe delas estão mentindo pra essas pessoas.

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Sim, com certeza. Qual você acha que é o maior erro que uma banda faz hoje em dia?

Bob: Bem, eu diria que não há erro algum em pegar um instrumento e formar uma banda e tocar, mas eu diria que é que elas acham que são muito melhores do que realmente são e que merecem um público.

Em sua opinião, o que é que uma banda começando hoje deveria fazer imediatamente de modo a começar com o pé direito logo de cara?

Bob: Concentre-se na música ao invés de no marketing. Uma grande música irá trazer dividendos que nenhuma quantidade de Facebook, Tweeting, distribuição de panfletos ou doação de CDs jamais traria.

Eu sei que você diz que entrar numa van e apenas tocar pra cacete é uma ferramenta sem preço para aprimorar sua técnica, acumular 10 mil horas de palco, e aperfeiçoar sua performance ao vivo. Entretanto, você acha que as bandas de hoje têm alguma chance de alcançar fãs de mente aberta em potencial tocando de bar em bar?

Bob: É mais fácil começar e pegar manha, mas é muito mais difícil de alcançar um público em massa. Mesmo se você for o melhor show – vamos dizer o Metallica. Quando o Metallica finalmente estourou com o ‘Black Album’, isso foi quando todo mundo ainda assistia à MTV então todo mundo poderia ser exposto a ‘Enter Sandman’. É muito difícil alcançar pessoas que não estão nem aí – sejam as pessoas que literalmente não gostam daquele tipo de música ou realmente não conhecem esse tipo de música. Se você voltar 40 anos atrás, todos nós estávamos ouvindo estações de radio AM, mas agora por meio de todos esses canais – e por canais eu me refiro a oportunidades – você pode achar as pessoas de mentalidade igual à sua. Você pode começar. Quanto a alcançar todo mundo, isso é muito mais difícil do que jamais foi.

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Verdade. Eu pergunto porque eu tenho tocado e excursionado em bandas por mais de uma década e eu cheguei à conclusão que mais e mais fãs de música estão ficando progressivamente enjoados de verem bandas novas. Eu já trabalhei com incontáveis casas noturnas – algumas até bem grandes – que só funcionam no esquema "venda esse tanto de ingressos que você pode tocar" e elas acabam com esses elencos de bandas misturadas que não fazem sentido – eles têm uma banda de metal, depois uma de rap, e daí um acústico solo – é bizarro. Eu posso entender que as casas precisem pagar suas contas, com certeza, mas parece que nenhum tempo é gasto pensando no que será um show matador do começo ao fim e eu descobri que mesmo as bandas que estão atraindo bastante público frequentemente perguntam o horário EXATO em que elas tocam, e daí aparecem 5 minutos antes de modo que as bandas escaladas saiam logo depois sem mesmo ouvirem um mísero segundo do set de outra banda. Eu gostaria de saber sua opinião sobre isso e se você acha que há um meio termo que os bares possam achar?

Bob: Se um bar não pode pagar por bandas, então não deve permanecer aberto. Minha experiência diz que a maioria das bandas que se queixam que não vão ser contratadas e que elas têm que trazer seu próprio público são as com as quais ninguém se importa. Há uma camada muito fina de pessoas que são boas de fato e que podem tocar em casas noturnas e trazerem público. O que eu descobri e o que eu ouço é que a melhor coisa a se fazer é construir um público em sua própria comunidade e então estabelecer um intercâmbio com artistas que estejam em outras comunidades. Eles podem trazer algumas pessoas e dizer: "vamos deixar vocês abrirem para nós e vice-versa em seu mercado". Quanto às casas noturnas, é um negócio muito difícil. Até mesmo os grandes promotores não conseguem fazer dinheiro nelas. Hey, não é papel do dono do bar tornar você famoso. Se você realmente acha que é tão bom, ache o quintal de alguém pra tocar, ache algum outro canto pra tocar, porque hoje em dia há tanta coisa disponível que deve haver um forte boca-a-boca e tem que ser bom pra alguém vir. Ouça, eu não quero defender os donos de bares. Existem donos de bar inescrupulosos por aí? Com certeza. Mas, as pessoas têm que se dar conta que só porque elas ensaiaram e elas tocaram, não quer dizer que elas merecem um público e que as pessoas vão assistir a seus shows.

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Ao mesmo tempo em que sou um grande fã da internet e de todas as ferramentas maravilhosas que ela pode fornecer às bandas, eu também sinto que ela causou um grande dando devido a quão fácil é para qualquer pessoa criar uma página de música, colocar uma música com qualidade de merda no sentido de produção e daí espalhar isso por aí via spam. Quando você acha que essa inundação, por assim dizer, vai machucar as boas bandas?

Bob: O público está saturado então a pessoa que vai ficar com todo o dinheiro vai ser o filtro que diz às pessoas o que escutar. Isso ainda não existe. Nós temos sites como o Pandora onde tudo funciona à base de algoritmos, mas um computador não pode lhe dizer ao que ouvir, outra pessoa tem que lhe dizer isso. Mas há pessoas demais, seja em sites onde elas têm resenhistas demais e você não obtém um ponto de vista consistente, ou as pessoas são amigas da banda, tudo gira em torno de fontes confiáveis. Então é um problema enorme no qual a barreira pra entrada é tão lenta que eu prefiro o sistema antigo onde as coisas eram enfiadas em nossas gargantas. Ainda estamos em um período da evolução e há várias facetas de tudo. O público está saturado e não tem tolerância para palhaçada. E daí você tem as pessoas que conseguiam fazer isso nas antigas dizendo ‘bem, isso é muito mais difícil pra mim’, e daí você tem a banda que basicamente é uma merda e está sobrecarregando o sistema e como resultado as pessoas se desligaram. Não são só as bandas, quando alguém está te dando um golpe por qualquer coisa, você se liga e sai for a, então é separar o joio do trigo e vamos chegar a um ambiente melhor, mas ainda não chegamos lá.

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Você fala de ter um filtro e eu sei que algumas das grandes estações de radio na internet têm processos de aprovação onde alguém ouve ao material entregue antes e decide se tem qualidade suficiente para ser acrescentado ao catálogo da emissora – não é nem baseado em texto – e sim na produção. Alguns sites de radio funcionam através de um sistema de votação onde se a banda tem uma música que tem muita rejeição ou ‘não gostei’, ela é retirada. Eles fazem isso como um esforço no sentido de manter a qualidade da programação. Você acha que sites que as bandas usam, como o MySpace, BandCamp, Facebook, etc., poderiam se beneficiar de ter algo assim?

Bob: Você tem todas essas bandas no Spotify que se queixam do pagamento baixo e ninguém está ouvindo à música delas! Eu não aguento ouvir alguém reclamar que não consegue entrar no Pandora. Pessoalmente, eu acho o Pandora uma merda. Eu não me importo se você o escuta, eu só acho que quando eu construo uma estação, eu não aceito as sugestões deles. Quando alguém senta ali e diz "ah cara, eu estou sendo excluído, eu não sou divulgado, todo mundo está contra mim", o YouTube é DE GRAÇA! Muitos desses sites são DE GRAÇA! Se você é tão bom pra caralho assim coloca seu bang lá e as pessoas vão achar você. O problema é que você não é bom pra caralho! (...)

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Esta matéria pode ser lida na íntegra no site do LoKaos Rock Show:
http://lokaos.net/sua-banda-nao-decola-bob-lefsetz-sabe-o-porque/

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Sobre Nacho Belgrande

Nacho Belgrande foi desde 2004 um dos colaboradores mais lidos do Whiplash.Net. Faleceu no dia 2 de novembro de 2016, vítima de um infarte fulminante. Era extremamente reservado e poucos o conheciam pessoalmente. Estes poucos invariavelmente comentam o quanto era uma pessoa encantadora, ao contrário da persona irascível que encarnou na Internet para irritar tantos mas divertir tantos mais. Por este motivo muitos nunca acreditarão em sua morte. Ele ficaria feliz em saber que até sua morte foi motivo de discórdia e teorias conspiratórias. Mandou bem até o final, Nacho! Valeu! :-)
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