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Antidemon: "Não queremos nunca encobrir que somos Cristãos"

Por Ben Ami Scopinho
Postado em 22 de agosto de 2010

Uma banda de Heavy Metal extremo que prega o Cristianismo – e com guturais na língua portuguesa! O paulistano Antidemon é um dos mais atuantes nomes do estilo do Brasil, com uma infinidade de registros que vão desde demos-tape, coletâneas nacionais e gringas, splits e CDs, e com excursões que praticamente já cobriu todo o planeta. São incansáveis!

Desde que liberou o álbum "Satanichaos" em 2009, o Whiplash.Net já vinha tentando contatar o Antidemon, mas suas freqüentes excursões fez com que esta entrevista fosse protelada. De qualquer forma, Batista (voz e baixo), Juliana (bateria) e o novato Luis Oliveira (guitarra) conseguiram uma brecha em sua agenda, e o resultado o leitor confere a seguir:

Whiplash.Net: Saudações, pessoal. Passaram-se cerca de sete anos desde seu último álbum de estúdio, "Anillo de Fuego". Por que toda a demora envolvendo o lançamento de "Satanichaos"?

Antidemon: Saudações Whiplash.Net e todos os seus milhares de leitores! É uma honra estar com vocês e ter a oportunidade de falar de nosso trabalho! Respondendo à pergunta... O Antidemon passou por várias mudanças em seus componentes nesse tempo em que não aconteceram novos lançamentos, e com certeza essa situação de instabilidade prejudicou a composição de um novo disco e uma possível gravação.

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Whiplash.Net: Aliás, "Anillo de Fuego" foi o resultado de sua estréia pelos palcos gringos, o México. Deve ter sido uma experiência inesquecível, não? Mas como rolou a oportunidade de gravar o disco nesse país, e cantado em castelhano?

Antidemon: Sim! O México foi o primeiro país que o Antidemon se apresentou estando fora do Brasil e realmente foi incrível. A partir daí o Antidemon iniciou uma seqüência ininterrupta de apresentações e tours por todo o mundo. A oportunidade de gravar o "Anillo de Fuego" foi por parte dos organizadores dessa tour no México e realmente foi um presente poder gravar esse álbum.

Whiplash.Net: "Satanichaos" resultou em um excelente álbum. Mas, na atual situação, com o Antidemon já tendo tocado por tantas nações, não seria mais interessante cantar em inglês neste novo disco?

Antidemon: Não deixamos de pensar nessa hipótese, pois gravarmos em inglês seria uma conquista inédita para o Antidemon, porém não temos isso ainda definido, pois nossa estrada é sempre marcada por surpresas! Recentemente recebemos o convite de gravarmos um split com uma banda colombiana. Essa gravação seria na cidade de Bogotá e a exigência é que cantássemos em castelhano... Ou seja, tudo pode acontecer em relação a essa questão, sobre que idioma vamos gravar o próximo trabalho... Pois essa nossa constante presença e contato com diversas línguas e variados países nos apresenta esse tipo de oportunidade.

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Whiplash.Net: O guitarrista Maurício Cebalho deixou o grupo logo após o lançamento de "Satanichaos". Justo agora... Ele não estava mais satisfeito com a música do Antidemon? Qual o estilo de seu novo projeto?

Antidemon: O Maurício é alguém que gostamos muito e foi muito bom tudo que fizemos juntos... Desde quando ele começou a tocar conosco em 2006, até novembro de 2009, quando expressou seu desejo de iniciar um projeto em outro estilo musical. Ele sempre demonstrou seu lado eclético, porém isso foi aumentando nos últimos tempos. Sempre nos apresentava suas composições em diversos estilos, além do (estilo do) Antidemon e notávamos seu prazer e aprimoramento nisso que estava fazendo. O seu novo projeto parece estar na linha do Blues Rock.

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Whiplash.Net: A "Antidemon World Tour 2010" já está agendada. Por onde essa excursão os levará? Já possuem um novo guitarrista?

Antidemon: Após sete meses excursionando fora do Brasil, iniciamos o ano de 2010 com shows de lançamento por todo o país... Alguns em São Paulo, Minas Gerais e uma rápida tour pelo Nordeste incluindo cidades da Bahia, Ceará e Rio Grande do Norte... Depois fizemos o lançamento oficial do disco "Satanichaos" em São Paulo, na inauguração do novo espaço da Crash Church e partimos para Manaus (AM), onde fizemos nossa derradeira apresentação no Brasil nesse primeiro semestre.

Antidemon: Então continuamos com a tour "Satanichaos" por países da América do Sul ainda não visitados... A primeira parada foi Assunção (Paraguai), onde realizamos duas apresentações, depois uma série de shows por toda a Argentina... Começando por Santa Fé, depois Rosário, Buenos Aires, Junin de Los Andes e Bariloche... Terminando por Santiago no Chile quando voltamos ao Brasil... Essa passagem pela América do Sul deverá continuar em setembro de 2010 com alguns shows na Bolívia... País esse que começamos a tour mundial com o disco "Satanichaos". Sobre o novo guitarrista, sim, já temos ele conosco! Chama-se Luis Oliveira e está conosco desde março desde ano, e realmente estamos muito felizes com a sua integração ao Antidemon e de como a sua presença nos tem trazido alegria e muita garra nas apresentações dessa atual tour.

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Whiplash.Net: Seus lançamentos são muito underground... Poderia dar mais informações acerca do DVD "Live In Ecuador, Colombia, Peru & Brazil" e do CD ao vivo "Anel de Demonichaos"?

Antidemon: Sim... Esses dois últimos lançamentos são bastante undergrounds!!! Esse DVD foi lançado no México por uma produtora que organizou a nossa tour nesse país em 2009, e o DVD foi para se conseguir fundos para dar suporte a esses shows... Está bastante caseiro, porém contém partes de vários shows e imagens da tour. Já o CD ao vivo, não fora planejado... Pois o áudio foi gravado por uma câmera de vídeo em uma apresentação na cidade de Kandern, sul da Alemanha em 2009... E o organizador desse show, que é também o dono da Vomit Bucket, achou muito bom o áudio gravado e fez esse lançamento... Tanto um como o outro tiveram nossa aprovação para serem distribuídos.

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Whiplash.Net: O Brasil possui uma infinidade de igrejas, e muitas certamente não teem como prioridade a evangelização. Batista, quais os benefícios da "Crash Church", considerando que você e sua esposa Juliana são os líderes e fundadores?

Antidemon: Sim... A Crash Church é uma das poucas Igrejas que existem em nosso país que tem esse posicionamento e paixão por alcançar pessoas do meio underground... Em meio a tantas Igrejas e um crescimento tão grande do evangelho, essa parte da sociedade fica meio que ignorada e esquecida, ou simplesmente generalizada como gente da parte do diabo, que não são bem vindos por seu visual e estilo de vida. Bom... Na verdade nos sentimos muito felizes por podermos passar o evangelho da maneira que é... Simples e acessível! Afinal, foi assim que Jesus Cristo fez quando estava na Terra, e sem preconceito a nenhuma classe da sociedade... Por isso mesmo, entre outras coisas, foi criticado e condenado à morte na cruz pelos religiosos e supostos donos da verdade de sua época.

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Whiplash.Net: Algo que vem fazendo com que os fiéis repensem sobre os valores da Igreja Católica são as atuais denúncias de pedofilia em seu meio. Esses casos não são novidades, mas somente agora seus dirigentes estão aceitando que esses padres sejam julgados e punidos pelos seus atos. A que você acha que se deve tal mudança de postura?

Antidemon: A pedofilia é algo realmente repugnante e não pode deixar de ser combatido de todas as formas e em todos os dias! Esse mal tão inescrupuloso sempre esteve presente na sociedade e ultimamente tem sido mais levado ao conhecimento de todos nós, pois as pessoas, ao invés de acobertarem por vergonha ou falta de coragem, passaram a denunciar e buscar alguma forma de justiça. O mesmo está acontecendo com a Igreja Católica, que a partir de tantos casos de pedofilia com padres se tornarem mais públicos e as denúncias aumentarem, já não foi possível tapar o sol com uma peneira, e o mais inteligente foi assumir e cuidar para que seja feita justiça a tais pessoas que, através de sua posição utilizando o nome de Deus, prejudicaram a tantas crianças, causando feridas irreparáveis, nelas e em suas famílias.

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Antidemon: Porém, acreditamos que essa podridão, em nível de lideres religiosos, não se restrinja somente à Igreja Católica... Infelizmente deve haver muitos pastores evangélicos e outros religiosos que se valem da boa fé e confiança de seus fiéis para os defraudarem com essa atitude asquerosa e injustificável que são os atos de pedofilia. Todos nós devemos estar com os nossos olhos bem abertos para que a pedofilia seja combatida, nas Igrejas, nas famílias, nas escolas e em todas as partes onde essa brutalidade tem sido cometida.

Whiplash.Net: Quais as maiores dificuldades que uma banda de Heavy Metal extremo que prega o Cristianismo na língua portuguesa enfrenta em um país como o Brasil?

Antidemon: Sermos explícitos naquilo que acreditamos nos faz pagar o preço de termos muitas oposições, mas isso não nos incomoda ou nos faz pensar em mudar nossa postura! Queremos ser sempre autênticos e passar em nosso som o que está dentro de nossos corações! E isso é tão forte que não pode ser amenizado, maquiado ou subliminar, mas totalmente explícito e sem reservas. Pregar o evangelho através de nosso som, em português, faz com que ninguém tenha dúvida de nossos propósitos em nosso próprio país. E somos felizes por termos conseguido fazer o mesmo por todos os outros países onde temos tocado, pois temos podido ter tradutores que transmitissem nossa mensagem no idioma local e isso tem feito com que muitas pessoas se interem de nossa fé e passem a acreditar naquilo que acreditamos! Além disso, nossos CDs estão sempre acompanhados de um encarte onde nossas letras estão, no mínimo, em dois idiomas, sendo um deles o inglês.

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Antidemon: Não queremos nunca encobrir que somos Cristãos, pelo contrário, queremos que todos saibam e conheçam como somos convictos e apaixonados pelo que mudou as nossas vidas, que é a nossa fé em Deus! E a boca fala do que o coração está cheio! Não podemos tocar e cantar outra coisa!

Whiplash.Net: Passaram-se 10 anos desde seu primeiro álbum, "Demonocídio", e muitas conquistas desde então. Quais as melhores lembranças, tocando para platéias tão distintas ao redor do planeta?

Antidemon: As melhores lembranças são inumeráveis e poderíamos escrever muitos livros contando sobre todas elas... Mas é inesquecível ver alemães, noruegueses e gente de dialetos tão diferentes tentarem cantar as nossas músicas em português em nossos shows... Ver gente se emocionando ao ouvir nossos riffs ou chorando de alegria ao nos conhecerem... Saber que muitos foram transformados pela nossa mensagem, outros encontraram uma saída, outros desistiram de se matar... Outros até começaram a curtir Metal a partir de ouvir o Antidemon... Foi muito bom ver tudo isso... Viver tudo isso! Tocar em cidades onde nunca havia chegado uma banda de Metal ou dividir o palco com uma banda que você mesmo curtia, era fã há muito tempo. Um dia dormir no chão e no outro em um hotel de muitas estrelas... Em um dia não poder comer nada e em outro dia ter a impressão de comer uma comida de rei. Tocar em um final de semana na gelada Oslo (Noruega), e na semana seguinte tocar sob os 45 graus de Maracaíbo (Venezuela)... Sim... São muitas as coisas que temos sentido... Ter a impressão de não ter nada e, de repente, ter tudo! Necessitar de ajuda e mesmo assim ajudar a outros... Parecer não ter mais sua própria cama... Sua casa... Viver na estrada... Bom, é isso mesmo que queríamos... É por tudo que batalhamos e como ter conseguido!

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Whiplash.Net: Ok, pessoal. O Whiplash.Net agradece pela entrevista e deseja boa sorte em sua próxima excursão. O espaço é de vocês para os comentários finais.

Antidemon: Queremos agradecer ao Whiplash.Net por existir e fazer forte o Metal nacional e também por esse espaço tão importante, no qual foi possível fazer conhecido um pouquinho mais de nossa história e do que pensamos como banda. Agradecemos também aos leitores que já nos conheciam e aqueles que passam a nos conhecer através dessa matéria! Super abraço e nos vemos por aí!

Contato:
http://www.antidemon.net

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Sobre Ben Ami Scopinho

Ben Ami é paulistano, porém reside em Florianópolis (SC) desde o início dos anos 1990, onde passou a trabalhar como técnico gráfico e ilustrador. Desde a década anterior, adolescente ainda, já vinha acompanhando o desenvolvimento do Heavy Metal e Hard Rock, e sua paixão pelos discos permitiu que passasse a colaborar com o Whiplash! a partir de 2004 com resenhas, entrevistas e na coluna "Hard Rock - Aqueles que ficaram para trás".
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