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Ulrich: "o filme serviu para irritar Kerry King"

Por Marco Néo
Fonte: Metal Hammer
Postado em 06 de agosto de 2007

A revista britânica Metal Hammer realizou uma entrevista exclusiva com Lars Ulrich, do METALLICA, sobre o progresso das gravações para o novo álbum da banda, além de outros tópicos.

Metal Hammer: Vocês já gravaram as partes de bateria, guitarra e baixo para o novo álbum e o resto será gravado ainda em agosto.

Lars: "A base das músicas está pronta, sim. Mas o Rick (Rubin, produtor) gosta de manter as coisas orgânicas e trabalhar de uma forma que pode ser descrita como 'de momento'. Se retomarmos o trabalho ainda em agosto, pode ser que lá pra outubro já tenhamos concluído tudo".

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MH: Rubin não é conhecido por estar sempre presente. Qual foi o papel dele nas gravações?

Lars: "Até agora ele esteve presente todos os dias. Ele sempre olha o todo, não vai analisar coisas como tempo de bateria ou dizer ao James para tocar em Lá sustenido. Ele se preocupa mais com o 'feeling': todos estão tocando juntos? O Rick é um cara que se liga em climas".

MH: E pra você tem algum problema em Rick chegar e falar que algo que você fez ficou uma bosta?

Lars: "De forma alguma. E acredite, ele fala. Pra ele não tem meio termo. Ele realmente diz o que pensa. Ou algo é ótimo ou é uma merda".

MH: Foi fácil pra vocês descartar o Bob Rock?

Lars (franzindo a testa): "Esse não é um termo que eu gostaria de usar. Gravamos com ele por quase 20 anos. Foi uma relação tão criativa quanto possível, seja em música, filme... Qualquer coisa. Mas chegou a um ponto em que um já sabia o que o outro pensava. Sentimos a necessidade de procurar em outro lugar pela nossa sanidade, sobrevivência e satisfação".

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MH: Como vocês falaram para ele que a relação estava acabada?

Lars: "Nós falamos muito pelo telefone, esse é o segredo. Eu já disse muitas vezes: Bob sempre foi primeiramente um amigo, depois um produtor. E a amizade não diminuiu de forma alguma".

MH: Ao contratar Rubin, o que vocês esperavam alcançar?

Lars: "Até um certo ponto, teve a ver com 'limpar a casa' no que se refere ao processo de compor e gravar discos. Eu conheço o Rick faz muitos anos mas nós nunca trabalhamos juntos. Ele trouxe uma nova energia e uma nova dinâmica".

MH: Apresentando como argumento o fato de que vocês têm tocado ao vivo a faixa título do "...And Justice For All", os últimos boatos da internet dão conta de que algumas das músicas novas serão longas.

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Lars: "Eu não diria que são mais longas do que coisas que já fizemos. Já fizemos músicas longas no passado. A maioria das músicas novas fica entre seis e oito minutos. Tem uma com cinco minutos. Estamos gravando 14 músicas e planejamos terminar as 14 porque gostamos de todas. Mas só nove ou dez vão aparecer no novo álbum".

MH: Kirk Hammett disse que ainda que este seja o décimo-primeiro álbum do METALLICA, parece que é o sexto. Há alguma parte de você que considere o "St. Anger" um erro?

Lars: "Não. O erro foi a jaqueta de couro branca (vestida na infame fase rock star do baterista, na época da turnê por estádios com o GUNS N' ROSES em 1992). A disputa contra o Napster não foi um erro, mas nos pegou desguarnecidos. A música sempre foi pura. Foi a coisa certa a se fazer em 2003. Dito isso, eu ouvi o disco há alguns meses e é um trabalho difícil, eu consigo ver isso. Mas quando eu o terminei, me deu o mesmo tipo de arrepio na nuca que todos os outros discos me deram".

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MH: Você deve ter ficado sabendo que após o "Some Kind of Monster" algumas pessoas - incluindo-se aí o Kerry King, que chamou vocês de "velhotes frágeis" - nunca mais levariam a banda a sério novamente.

Lars: "Oh, olha, a razão pela qual nós fizemos o filme foi pra irritar o Kerry King. É ótimo ser a fonte de irritação dele!"

MH: Por mais que tenha sido fascinante na tela, será que não teria sido melhor ter mantido todas aquelas coisas em portas fechadas?

Lars: "Esse argumento tem sentido. Mas desde o começo o METALLICA sempre foi uma banda que se relaciona com os fãs. Ao contrário de bandas como o LED ZEPPELIN, que sempre tentou manter uma aura mística, nós sempre procuramos nos manter tão acessíveis quanto fosse possível. Nossas raízes são mais punk do que isso. 'Some Kind of Monster' foi a conclusão lógica dessa linha de pensamento".

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MH: Então eu presumo que você discorde dos argumentos geriátricos do Kerry?

Lars: "É claro que sim. Se ele odiou o 'Some Kind of Monster', esse é o único selo de aprovação que eu preciso".

MH: De qualquer maneira, o filme levantou uma série de questões sobre sua coesão como banda. Como vocês estão se relacionando agora?

Lars: "Certamente que algumas questões importantes foram levantadas. Mas tenha em mente que foi uma fase que ocorreu há cinco anos atrás. Phil (Towle, terapeuta ocupacional) não está mais conosco e nos damos todos muito bem. E mencionar o nome do Phil me fez lembrar, ele sempre nos dizia que a nossa música iria brilhar de novo no disco sucessor do 'St. Anger'. Eu acho que ele estava certo sobre isso".

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MH: Nem todo mundo aprovou as novas músicas que vocês tocaram na turnê.

Lars: "Olha, o que é que nós podemos fazer? Fazer uma pesquisa com as pessoas que saem no meio dos shows? Parar de tocar as músicas? Eu acabei de sair do fórum do METALLICA, tem muita lamentação sobre todo tipo de coisa rolando. Mas também tem gente falando que o show da noite passada (o show no Estádio de Wembley, ocorrido em 8 de julho de 2007) foi o nosso melhor show até hoje na Inglaterra".

MH: Você considera que o novo álbum é um álbum de thrash metal?

Lars: "Oh, peraí, deixa eu pegar meu dicionário... checar minha terminologia".

MH: Não é isso que os fãs querem que vocês façam?

Lars: "Alguns querem, sim. Mas é mais fácil dizer o que o novo álbum não é. Não é 'St. Anger' parte dois. Este álbum tem dinâmica. Tem partes lentas, partes muito, muito rápidas. Tem partes melódicas e partes bem pesadas. O Rick está focando bastante nos vocais do James, mas musicalmente o álbum detona. Então você pode até dizer que ele se encaixa nessa categoria que você mencionou, mas, seguindo essa mesma linha, qualquer um que siga a banda vai saber, nós sempre olhamos para a frente, não pra trás".

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MH: Você acha que deve algo para as pessoas que adoravam o METALLICA nos primórdios mas não gostam muito da música da banda desde o "Black Album"?

Lars: "Hm, não. Não mesmo. Eu tenho reponsabilidade com meus filhos e com minha esposa para ser um bom companheiro. Também comigo mesmo, para criar música honesta, real e que deixe o meu pau duro. É claro que é ótimo que tenhamos nosso trabalho apreciado por tantas pessoas quanto possível. Mas quando colocamos violões na 'Fade To Black', há uns duzentos anos, foi aí que as reclamações começaram. Nós acabamos por nos acostumar com a idéia de que esse tipo de pessoa sempre vai estar por aí, não importa o que fizermos. Então, basicamente, faz tempo que nós paramos de tentar agradar essas pessoas".

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Sobre Marco Néo

Nascido na primeira metade dos anos 70, teve seu primeiro contato com sons pesados quando o Kiss veio para o Brasil, em 83, mas não compreendeu bem o que era aquilo. A contaminação efetiva ocorreu um ano depois, quando conheceu Motörhead, Judas Priest, AC/DC, Iron Maiden. Desde então, tornou-se um apaixonado colecionador de tudo o que se refere a Metal e Rock'n'Roll, independentemente de subestilos.
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