Nasi: Entrevista exclusiva com o vocalista da banda Ira!
Postado em 18 de abril de 2002
Entrevista com Nasi, vocalista do Ira!, concedida logo após show da banda Os Bluesman, no Sesc Pompéia, em 13 de Abril de 2002. Agradecimentos a Gledson, do fã-clube do Ira! que gentilmente colaborou com a entrevista. O grupo Bluesman é formado por Nasi, pelo gaitista do Blues Etílicos, Flávio Guimarães, pelo trombonista Bocato, pelo parceiro de Celso Blues Boy e guitarrista do Blue Jeans, Marcos Ottaviano, pelo baixista Silvio Alemão, pelo baterista Mário Fabre e pelo pianista Adriano Grineberg. Nesta apresentação, teve como convidado, Luís Carlini, na guitarra.
Por Luciana Ueda
Foto: Site Oficial
Como começou Os Bluesman? De onde saiu a idéia?
Nasi / A idéia foi o seguinte: a gente foi convidado para um festival, o Festival de Guaramiranga, que acontece na serra de Fortaleza, e eles queriam uma banda que fosse a reunião de vários músicos de várias bandas que pudessem cantar os clássicos do blues. A partir daí, desse encontro, juntaram-se eu, o Marcos Otaviano do Blue Jeans, o Flávio do Blues Etílicos e os outros músicos que tocam com muitos músicos de blues do cenário paulista. Fomos buscar uma "jam session", um time de "all stars". Na carona nós fizemos o Reggae Beat, e o resultado foi tão legal, a química foi tão legal, que a gente estabeleceu uns "standards", umas composições e tudo para dar canja, para improvisos, e foi tão bom que a gente falou "Bem, a gente precisa levar...". Às vezes essas coisas de montar times pode não dar certo. Às vezes você sobe no palco e a coisa fica travada. O que aconteceu com essa turma foi que todo mundo se deu super bem, curtiu muito tocar. Para mim, por exemplo, foi a primeira vez que toquei com o Flávio Guimarães, que é um ícone do blues brasileiro, e eu tenho uma história de dez anos no blues no Brasil, ele tem mais ainda, mas a gente nunca tinha se cruzado no mesmo palco. O Marcos Otaviano é um dos guitarristas que eu considero um dos maiores do Brasil, e eu nunca tinha tocado com ele, tinha apenas dado uma canja, mas é um cara que admiro, que acho um dos maiores guitarristas que existem no Brasil. Então, quando a gente voltou lá do nordeste, falamos "Cara, a gente precisa mostrar esse show em outros lugares." Então a intenção é mostrar, promover essa "jam session" aqui em São Paulo mais algumas vezes, de repente no Rio e em outros lugares, porque essa é a beleza do blues. São músicos que se encontram, se afinam a partir da melancolia, da irreverência do blues, pra discorrer, se divertir muito no palco. Eu preciso muito disso. E espero, se o público se divertiu metade do que a gente se divertiu, então tá tudo muito bem, feliz.
E Os Irmãos do Blues?
Nasi / Oh! com Os Irmãos do Blues, estou me preparando para participar de mais um festival internacional, o Natu Blues, que vai acontecer em Porto Alegre e Curitiba, dias 23 e 24 (mais informações em http://www.natublues.com.br). Eu vou ter a honra de poder abrir mais um show de um grande nome que é o Magic Slim. Eu que já toquei ao lado do Matt ‘Guitar’ Murphy, Roomful of Blues, ‘Pine Top’ Perkins, agora vou tocar ao lado de mais uma lenda viva do blues. Então eu estou me preparando. Teve algumas modificações na banda, porque é uma banda itinerante, todo mundo toca com várias pessoas. Estou preparando um grande show. Infelizmente esse festival não vem pra São Paulo, mas vocês vão ter notícias dele através dos jornais, e a Directv parece que vai transmitir.
E está para sair um CD do Os Irmãos do Blues, "O Rei da Cocada Preta", nova edição com um CD bônus...
Nasi / Não... Tudo começou assim: eu gravei um show lá no Teatro Popular do Sesi, e o resultado foi tão bom, que eu chegue e falei "Vamos fazer um pirata oficial?". Antigamente, pirata era aquele cara que ia no show do fulano com um gravadorzinho... que saudade... pirata era uma coisa bacana... Então eu falei, vamos promover... Eu sempre tive um sonho de fazer um disco pirata do Ira! Eu sempre quis, porque as bandas dos anos setenta produziam seus proprios piratas oficiais... Led Zeppelin, Deep Purple, Sex Pistols, Clash, todos têm piratas oficiais, que eram coisas captadas rusticamente. Então eu sempre brincava com o (Luis) Calanca, do Baratos Afins, e falava "Um dia vamos fazer um pirata do Ira!". Mas é mais difícil porque o Ira! sempre esteve em grandes companhias, e nunca quis sujar a barra de ninguém. Então, com o resultado dessa gravação lá no Sesi, deu a idéia de fazer com o pessoal da Polythene Pam. O Marcelo (Fontanesi), ... vamos fazer uma edição limitada, sei lá, uns quinhentos, mil discos, pra distribuir nas lojas de rock. Um pirata oficial autorizado pelo artista. E o resultado foi tão bom que o pessoal da RDS, que distribui os discos da Polythene Pam, resolveu lançar o disco, e agora parece que a primeira notícia é que eles iam lançar um CD independente. Eu cheguei a fazer, produzir capa e tudo. Mas parece que a idéia agora é lançar uma nova edição do "O Rei da Cocada Preta", com os dois CDs. A princípio essa não foi minha idéia inicial, mas acabei me rendendo a isso, porque eu acho legal. A realidade é que um disco é tão caro, que o que puder incentivar uma pessoa a comprar a quinze reais, ou sei lá quanto, dez reais, dois CDs... é claro, esse CD ao vivo do Os Irmãos do Blues não tem a qualidade dos discos ao vivo, entendeu? Tanto que não tem nada regravado. No mais, é um show cheio de inspiração, e acho que para um pirata, um "bootleg", tá muito bem gravado.
Você ficava repetindo "I feel good"...
Nasi / Foi legal pra caramba!
E você tem idéia de fazer algum CD com Os Irmãos do Blues ou com Os Bluesman só de clássicos do blues ou jazz? Só regravação?
Nasi / Olha, cara... Irmãos do Blues, por exemplo, o pessoal da Polythene Pam está me cobrando, porque esse ano não vou lançar nada com o Ira!... só vou distribuir. Mas como eu tenho um trabalho independente com Os Irmãos do Blues, eu não gosto de sofrer pressão. Eu acho que os discos dos Os Irmãos do Blues tem que ser assim: quando eu tiver composições suficientes, pode ser de ano em ano, pode ser de cinco em cinco anos, porque eu não tenho uma preocupação de mercado. Eu tenho uma preocupação de lançar coisas quando elas estão prontas. Então, até tenho tempo. A princípio eu não estou com repertório pra lançar coisas novas. Mas na música é assim, pode ser que me dê um estalo. Outro dia, por exemplo, eu fiquei ouvindo um disco novo, um disco do White Stripes, que é uma banda, acho que é americana. É um duo americano, que é um casal. Ouvi a maneira que eles tocaram um blues e falei "Bicho, quero fazer isso!". Então de repente pode ser que surja um disco que talvez não seja necessariamente com Os Irmãos do Blues. Pode ser que eu faça um disco diferente de blues. Um disco, sei lá, que possa usar loops, também blues, uma coisa que pra mim está agora começando a soar mais de desafiante. Pode ser que surja. Vai ser assim: pode ser que daqui um mês eu tenha músicas, pode ser que daqui a cinco anos eu tenha. Mas depois desses shows, veio crescendo, é verdade. Foi bom que desse show muita gente veio cobrar "Meu, vocês precisam gravar alguma coisa"... Eu como "lead singer", eu fico agora tentado a juntar essas duas coisas. Agora, pô, porque não lança um disco com essas coisas que a gente toca, ou com outras, entendeu. Um disco só, de repente, com "standards" de blues, com todo esse time. Olha, eu saí muito tentado a isso. Muito tentado. Eu acho que é um projeto que pode ser muito interessante, porque tem grandes nomes e grandes músicos e eu estou saindo cabreiro desse show. De repente estou a fim de chamar essa galera pra fazer alguma coisa.
Você acha que, se acabasse o Ira!... vamos supor que daqui dez anos acaba o Ira!... o blues é uma coisa que continua até você ter uns cem anos? Você acha que você continua no blues? Até cem anos de idade? Uma coisa que vá continuar mais que o Ira!?
Nasi / Olha, é difícil falar nisso porque acho que o Ira! tem uma coisa que já transcende a nossa vida. As vezes o Ira! até pensou em falar "cada um vai pro seu lado". Mas a gente viu uma galera na nossa frente e falou "Meu, a gente não pode ir". Uma coisa é verdade: o blues tem muito a ver... por exemplo... eu sou um cara que não tem crise nenhuma em estar ficando mais velho. Eu acho demais estar com quarenta anos, entendeu? Então, isso tem muito a ver com o blues. Eu acho que o músico só amadurece no blues mesmo. Por isso que não acredito em Jonny Lang. Eu acho que o cara pra cantar o blues, ele precisa ter vivido muito, sofrido muito, bebido muito, chorado muito, trepado muito. É tudo, entendeu? Então eu sinto que é uma música... agora, não quer dizer que eu sempre vá gravar discos essencialmente de blues. Mas eu acho que sempre vai ter essa coisa blues no meu trabalho solo. Acredito que sim. Porque eu sou um cara meio, não digo pessimista, mas sou um cara meio sarcástico. Eu acho que isso tem a ver com o blues. Eu não consigo ver a vida com alegria. Nunca consegui ver, desde minha adolescência, e agora nos trinta, nos quarenta, indo pros cinquenta, eu acho que vou ver cada vez mais a vida com sarcasmo. Eu acho que isso combina mais com o blues do que com o rock.
Muitas pessoas acham que você tem muito mais a cara dos Os Irmãos do Blues do que do Ira!. Você tem uma performance melhor do que com o Ira!, não que você passou do Ira!...
Nasi / Isso eu já escutei muito. E vocês têm que entender o seguinte, que o Ira! sou eu também pra caralho. Eu acho que vocês já tiveram a oportunidade em momentos que eu estive internado, em outras situações, de até ver o Ira! tentando tocar sem mim. A energia rock do Ira!... o que acontece é diferente...O Ira!, por ser uma banda assim, tem tanto a cara do Gaspa, a cara do Edgar... Pô, é claro, o Edgar é compositor de oitenta por cento das músicas. Mas você pode ter certeza que o Ira! é o tipo de banda que se sair o Gaspa, que é o cara até mais quietinho da banda, nunca vai ser a mesma coisa. Se sair o André, também. E eu também. Eu acho que é essa química que faz o Ira! é tanto a minha cara... tanto que eu tenho certeza que talvez um dia, digamos assim em hipótese, que nunca vai acontecer você pode ter certeza, mas em hipótese... o dia que eu saísse do Ira!, se por acaso eles quisessem continuar ou o Edgar cantando, ou com outro cantor, aí as pessoas iriam ver um show do Ira! e iriam falar assim "Puxa, mas o Nasi faz falta pra essa banda"... O que acontece é o seguinte, Os Irmãos do Blues é um trabalho mais autoral meu. E não é que eu me solto mais, porque a relação do show é diferente. Com o Ira! é uma banda que tem músicas com arranjos, então tem muita gente que fala "Nossa, o cara canta rouco, grita"... mas tem músicas do Ira! que eu sou assim...
Carlini / Tchau. Obrigado... É o Carlini se despedindo aqui...
Falou, Carlini!
Carlini / Bom show lá!
Nasi / Se vocês forem ver, por exemplo, esse novo disco, músicas como "Pecado", como "O Bom e Velho Rock’n Roll"... é o Nasi. É uma música que o Arnaldo (Antunes) chegou e falou "Porra, cara, parabéns cara...você conseguiu fazer uma coisa que, pô, achei cara...". Então, no Ira! eu estou a serviço da banda, entendeu? Se tem música que se tem que cantar suave, eu canto suave. Talvez não pareça. O público vai lá irado, talvez queira ver eu cantando assim "Éhh", mas não é assim... Lá estou a serviço da banda. Nos Irmãos do Blues, é um trabalho autoral, onde eu passeio e onde, por mais que eu destaque todos os músicos, são composições minhas, de um jeito que só no Irmãos do Blues eu iria cantar. Está tudo cercado pra mim como "lead singer". No Ira! já é um trabalho mais químico. Eu já escutei isso muito. Não é questão de eu ficar magoado. Eu entendo as pessoas falando isso porque eu entendo como elas compreendem isso. Mas se por algum dia vocês vissem o Ira! sem eu cantando, iriam notar muita diferença.
Um contato para Os Irmãos do Blues?
Nasi / Eu sou um nômade... Qualquer um pode vender Os Irmãos do Blues. Mas vou deixar um contato...Se quiser comprar um show dos Irmãos do Blues, ou liga pra Cecília 21 92791109 ou pro Silvio Alemão no 21 96325800.
OK. Valeu!
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