Drakkar - Entrevista com o líder da banda, Andreas Stoltz
Postado em 02 de agosto de 1999
A Itália, país outrora praticamente nulo no cenário heavy metal, nos últimos anos vem se tornando berço de ótimas agremiações musicais em tal estilo, como Rhapsody, Labyrinth, Domine e Drakkar. O Whiplash entrevistou o guitarrista, líder e principal compositor desta última, Dario "Darian" Beretta, que teve em 1998 seu primeiro álbum lançado, "Quest For Glory", com lançamento no Brasil pela Hellion Records. Em tal entrevista foram abordados os novos rumos da banda, além de assuntos referentes a seu disco de estréia, dentre outros.
Entrevista concedida a Mário Del Nunzio.
Whiplash! / O Drakkar está trabalhando, num novo álbum, que chamar-se-á "Gemini", certo ? Como você compararia tal álbum a "Quest For Glory" ? Por obséquio, comente sobre tal novo trabalho.
Dario "Darian" Beretta / Bom, as músicas que estarão no novo álbum, "Gemini", são: 1) Beginning (intro), 2) Eridan Falls, 3) Pure Of Heart, 4) Soldiers Of Death, 5) The Climb, 6) The Voice Of The Wind, 7) Dragonship, 8) The Secret, 9) Until The End, 10) Death Of Slayn (instrumental), 11)The Price Of Victory. Talvez tenha também uma faixa bônus surpresa. As novas músicas estão num novo nível, milhares de vezes superiores às do primeiro álbum. O novo álbum será bem mais pesado e agressivo, principalmente nos riffs de guitarra e bateria, mas sempre com muita melodia. É também muito épico e um pouco mais sinfônico e progressivo que o primeiro. As gravações começarão dia 20 de setembro. O álbum deve ser lançado em janeiro do ano 2000.
Whiplash! / Vocês já parecem ter todas as músicas prontas para o álbum, e até a seqüência do álbum pronta, então poderia fazer um comentário sobre o disco música por música ?
Beretta / "Beggining" é a introdução do álbum. Uma peça sinfônica, só com instrumentos de orquestra - sintetizados, infelizmente - para introduzir os ouvintes ao conceito do álbum. "Eridan Falls" é uma música inteira rápida, bastante agressiva mas bastante melódica. Tem um interlúdio de violino do qual estou bastante orgulhoso. "Pure Of Heart" é uma canção bem mais lenta, também bastante melódica. Me lembra algo de Dio ou algo do começo do Crimson Glory. "Soldiers Of Death" é uma música épica e bastante "poderosa", na linha de "Dragonheart", do primeiro álbum, mas bem mais sinfônica, com um sentimento bastante "pomposo". Gosto bastante das linhas de guitarra e teclados. "The Climb" é a música mais progressiva do álbum; soa bastante "dark", e tem alguns riffs puxados para o thrash, e muitas mudanças de tempo. "The Voice Of The Wind" começa com uma parte acústica, com um sentimento bastante místico. Depois se transforma na segunda inteira rápida música do álbum, um verdadeiro hino, com um refrão que fica na sua cabeça desde a primeira vez, baseado em coros. "Dragonship" é uma música de metal clássico, com poucos teclados. A música mais "na cara" do disco. Acho que pode se tornar uma das favoritas ao vivo. "The Secret" é outra música bem rápida, cheia dois bumbos. O refrão dessa é um de meus favoritos, bastante atraente e "pegajoso", mas ao mesmo totalmente épico. "Until The End" é a suíte do álbum. Tem cerca de 10 minutos e é provavelmente a música mais pesada do álbum. Tem riffs esmagadores, bateria poderosa, e, novamente, refrão bastante épico. Também há bastantes partes sinfônicas e progressivas. É uma música da qual todos estamos bastante orgulhosos! Dez minutos de pura música pesada! "Death Of Slayn" é apenas um interlúdio acústico. "The Price Of Victory" é a balda do álbum, começando apenas com piano e vocais, e depois entrando toda a banda, tornando tal canção numa balada "power" com muito "feeling".
Whiplash! / Em "Quest For Glory", você escreveu todas as músicas e letras. E neste álbum, como foi o processo de composição ?
Beretta / Sobre as letras, eu escrevi a história do conceito e 5 músicas. Luca contribuiu em 4 letras. Sobre a música, escrevi quase tudo sozinho, com exceção de "The Climb", que escrevi com Alessandro Ferraris", e "The Price Of Victory", cuja introdução de piano foi arranjada por mim com Eleonora Ceretti.
Whiplash! / Depois de "Quest For Glory" houve duas alterações na formação do Drakkar: o baixista Alessandro Ferraris entrou e foi adicionada uma tecladista permanente Eleonora Ceretti. O que aconteceu com o antigo baixista, Alex Forgione ? Como os novos membros foram encontrados ? No que eles influenciaram a música da banda ?
Beretta / Alex Forgione ainda é um grande amigo nosso. Mas saiu do mundo da música. Os novos membros são amigos nossos ou amigos de amigos. Claro que eles influenciaram na música da banda; Alex trouxe algumas idéias que usamos em "The Climb", e Eleonora mudou nosso modo de usar teclados. Ela é extremamente boa, então podemos fazer partes bastante complexas, como a "bridge" em "The Secret", e às vezes alternar solos de guitarra e teclados. Basicamente ela pode fazer tudo nos teclados, então não temos limites fazendo arranjos para teclados.
Whiplash! / Você gostaria de mudar algo no "Quest For Glory" ? O que ?
Beretta / Provavelmente mudaria a mixagem final, que foi executada de forma deveras rápida. Os vocais também foram gravados bem rapidamente e Luca não pôde demonstrar todo seu potencial. Mas sei que ele vai, no próximo álbum. Fora isso, estou satisfeito com o álbum. Provavelmente o melhor resultado está em "The Walls Of lathoe", que me satisfaz completamente.
Whiplash! / Quais suas canções favoritas no "Quest For Glory" e em quais você pensa ter uma melhor performance como guitarrista ? Por quê ?
Beretta / Músicas favoritas... Hmm... "Coming From The Past", "The Walls Of Olathoe", "Dragonheart" e "Under The Armor". Acho que são as músicas mais maduras e mostram o som pessoal do Drakkar. Sobre os solos, o que gosto mais é o de "Coming From The Past", e também o de "Under The Armor". Gosto deles pois têm uma mistura de melodia e técnica.
Whiplash! / Na música "The Walls Of Olathoe" há uma citação da 9ª Sinfonia de L.W. Beethoven. Por que tal citação foi colocada na supra citada composição ? Você acha que citações clássicas podem fazer do heavy metal um estilo mais interessante ?
Beretta / Decidimos colocar tal citação pois percebemos que nosso riff naquela parte era próximo da melodia de Beethoven. Adoro Beethoven, ele é meu compositor erudito favorito, então obviamente ele me influencia de muitos jeitos. Acho que citações clássicas e atmosferas sinfônicas são bastante úteis para fazer metal mais épico e pomposo. E quero ser tão épico quanto for possível!
Whiplash! / As músicas em "Quest For Glory" basicamente seguem a mesma estrutura de verso-bridge-refrão-verso-bridge-refrão-solo-bridge-refrão ou algo parecido a isso. Há exceções, mas mesmo nas exceções há bridges e refrões bastante definidos. Você acha que heavy metal necessita isso ? Você considera refrões fáceis de cantar importantes em todas as músicas ? Por quê ?
Beretta / Bem, escrevo canções seguindo meus sentimentos; às vezes tais obras têm estruturas tradicionais, às vezes não - veja "Walls Of Olathoe" e "Follow The Prophet". Acho que pode-se fazer ótimas canções dos dois jeitos. E, sim, acho que uma boa canção necessita um bom refrão. Eu até gosto de coisas mais complicadas, como Death. Eles são ótimos. Mas esse não é meu modo de escrever músicas. Gosto de escrever músicas intrincadas - espere para escutar "Until The End", mas prefiro que toda música tenha um refrão forte, que você possa cantar junto.
Whiplash! / Por favor comente sobre as letras das canções do álbum "Quest For Glory", e suas principais influências na escrita delas.
Beretta / Sou inspirado principalmente por livros de fantasia, sci-fi e horror e por mitologias e lendas. Meus escritores favoritos são Tolkien, M. Z. Bradley, Moorcock, Lovecraft, Poe, Conan Doyle. Bem, também livros de humor, filmes e desenhos japoneses podem influenciar. "Coming From The Past" é sobre a lenda do judeu errante, "Dragonheart" é baseada no filme de mesmo nome, "The Walls Of Olathoe" é nossa sequência a uma história escrita por Lovecraft. "Under The Armor" é sobre o Homem de Ferro, da Marvel, "Morella" é baseada num conto de E. A. Poe.
Whiplash! / Ainda sobre as letras, o que o levou a fazer músicas sobre a mitologia nórdica, como "Quest For Glory (Valhalla)", considerando-se que vós não sois nascidos em tal região ? Por favor, comente sobre vossa ligação com a mitologia nórdica.
Beretta / Gosto dos mitos e lendas nórdicos, e sou um grande fã das revistas de Thor. Seriamente, não quero ter limites, quer escrever do que gosto, não ligando de onde vem. Muitos esperariam que falássemos sobre os mitos romanos ou sobre o Império Romano, apenas por nossa nacionalidade italiana, mas, honestamente, somos de Milão, do norte da Itália. Temos tradições diferentes, mais ligadas aos celtas do que romanos. O norte e o sul do país são bastante diferentes.
Whiplash! / Falando de "Quest For Glory (Valhalla)", por que os vocais em tal canção foram executados por você e não por Luca Capellari ?
Beretta / Apenas achei que minha voz era mais apropriada para uma canção com tal atmosfera.
Whiplash! / Há uma proliferação de bandas de "metal verdadeiro" atualmente na Europa, e muitas apenas copiam outras bandas e colocam uma atitude do tipo "eu faço verdadeiro metal, metal é a minha vida", etc. O que você acha dessa proliferação de bandas sem originalidade ? Bom ou ruim para o heavy metal ?
Beretta / Honestamente, mesmo gostando muito de metal clássico, não acho a situação boa. Muitas bandas novas só querem copiar as bandas dos anos 80, querem apenas soar como Helloween, Accept, Iron Maiden ou algo assim. Quero que minha banda soe apenas como Drakkar! Não vou dizer que somos totalmente originais, talvez ninguém seja original hoje. Mas nós certamente nos esforçamos para criarmos nosso som pessoal, e olhamos para frente, não para trás. Apesar de sermos bastante ligados ao metal clássico, acho que temos um som mais moderno, especialmente pelo uso de sintetizadores. E em "Gemini" acho que definiremos nosso estilo ainda mais. Quero que as pessoas nos escutem e reconheçam que é Drakkar.
Whiplash! / Na lista de agradecimentos de "Quest For Glory" há agradecimentos a guitarristas como Y. J. Malmsteen e M. Romeo, mas não vejo muitas ligações entre o jeito de tocar de tais músicos e seu modo de tocar, acho seu estilo mais próximo ao de Kai Hansen - que também está mencionado. No que os citados guitarristas influenciara você exatamente ?
Beretta / Bem, simplesmente agradeci alguns de meus guitarristas favoritos. Considero meu estilo basicamente influenciado por Kai Hansen e Vivian Campbell, nos discos do Dio, mas também gosto de palhetadas rápidas, no que Yngwie é rei. Você vai achar mais disso no novo álbum. Sobre Michael Romeo, gosto muito de seus padrões rítmicos, bastante pesados mas ao mesmo tempo melódicos.
Whiplash! / Vocês fizeram muitos shows para promover "Quest For Glory" ? Como foram tais concertos ?
Beretta / Não fizemos uma turnê real, mas fizemos vários shows aqui na Itália, sempre com ótima resposta. Também abrimos o Monsters Of Rock em junho de 98 aqui na Itália com Deep Purple, Primal Fear, HammerFall, Joe Satriani e outros. Recentemente abrimos um show do Scorpions, que foi ótimo. Muitas pessoas estavam lá e todos gostaram da banda, ficaram gritando o tempo inteiro. Foi ótimo!
Whiplash! / Como foram as respostas por crítica e fãs a "Quest For Glory"? Como foram as vendas ?
Beretta / O álbum foi bem em quase todos os lugares, e muito bem na Itália e América do Sul. Tenho uma cópia da edição brasileira em casa! Não sei exatamente sobre as vendas, mas devemos estar em torno de 5000 cópias agora.
Whiplash! / Recentemente apareceram bastantes bandas italianas que ficaram conhecidas em boa parte do mundo, o que era um pouco raro alguns anos atrás. O que você acha da atual situação do heavy metal na Itália ?
Beretta / A melhor coisa desse crescimento da cena italiana é que temos muitas bandas e todas soam diferente. Mesmo em um mesmo gênero, como o power metal, todas as bandas têm personalidade; pense sobre esses nomes: Rhapsody, Labyrinth, Mesmerize, Centurion, Hyperion e até mesmo Drakkar. São todas bandas fazendo algo entre metal clássico e power metal, mas não há confundi-las, todas soam diferente. Ainda temos muito trabalho a fazer, mas no futuro acho que o metal italiano estará em ótima posição.
Whiplash! / Por favor, comente sobre esses guitarristas:
Whiplash! / Roland Grapow:
Beretta / Ótimo! Realmente ótimo, tanto como guitarrista quanto como compositor. Também é uma pessoa muito boa.
Whiplash! / Jason Becker:
Beretta / Ótimo "feeling", ótima técnica, tudo ótimo!
Whiplash! / Greg Howe:
Beretta / Bem, tem ótima técnica, mas não é o que eu gosto de ouvir. Não gosto de ouvir "guitar heroes"; gosto de ouvir boas canções, com boas melodias e bons cantores.
Whiplash! / Por favor, deixe uma mensagem aos leitores do Whiplash e seus fãs brasileiros.
Beretta / Obrigado novamente por sempre terem sido tão bons conosco, e terem feito o Brasil o país que mais ama o Drakkar, logo após a Itália. Todos podem visitar nosso website - http://listen.to/Drakkar - e mandar emails para nós em [email protected] . Esperem por "Gemini", vocês não ficarão decepcionados. Adeus e "Keep the metal faith"!!!
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