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Afghan Whigs: a caracterização do Mal no videoclipe "Debonair"

Por Don Roberto Muñoz
Fonte: theafghanwhigs
Postado em 21 de junho de 2016

No videoclipe da música "Debonair", Greg Dulli encarna uma caracterização surpreendente do diabo. Sim, como negociador de pactos. A sutileza inaudita derrama todas as proposições sussurradas por aquele que manca. E o tumulto das paixões inconsequentes transbordam à mercê da bandeja do coxo.

Nem o diabo baixinho, gorducho e sarcástico do "Fausto", 1926, de Murnau, nem o diabo agressivo e fisicamente viril de "Tenacious D: Uma Dupla Infernal", de 2006. Mas muito próximo daquele citado por John (Keanu Reeves) para Angela (Rachel Weisz), em "Constantine", 2005, pois o diabo acredita muito no ser humano que não acredita no Mal. Bem, num mundo promotor da extroversão centrífuga do ser humano, a cegueira geral tende a debochar das nuanças simbólicas.

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E diante de um mundo embrutecido pela realidade estritamente laica, não poderia o diabo deixar de deslizar debochadamente no lago petrificado pelo gelo. No vício e na violência pode focar o elemento destrutivo da vida. E lá está ele quando isso acontece. Escapa a juventude da arte, da poesia, do romance cavaleiresco, e o desregramento pode aparecer no movimento comportamental que descamba justamente para o vício e para a violência, suculentos aperitivos para o diabo. Não, o diabo não força ninguém a cometer delitos.

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Mas caso a pessoa esteja na iminência de fazer alguma coisa grave, ou perigosa, lá estará ele, sempre atento a possíveis recaídas do ser humano. O diabo nunca dorme, perambulando entre os humanos e de maneira estrategicamente afável. Greg Dulli imprime uma desdramatização onde o assombro faz-se notar. Simplesmente o histrionismo não aparece. A caricatura dá espaço para uma atuação baseada na contenção solene. Uma expressão da natureza maléfica.

Sim, o cachorro também está no videoclipe, preto como aquele que aparece no "Fausto" de Goethe, e da mesma raça do protetor do Anticristo no filme "A Profecia", 1976. Numa das cenas do vídeo de "Debonair", o diabo abarca uma festinha juvenil ao ar livre. Claro, época humana de descobertas. Vale lembrar, entretanto, que os excessos humanos independem de faixa etária, ocorrendo em qualquer momento da vida. E ele está sempre por perto quando problemas podem acontecer.

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O desvario da turma no vídeo remete a situações perigosas, à lá "Kids", o filme de Larry Clark, lançado em1994, que escancara posturas juvenis nada românticas no que diz respeito a sexo e drogas. O zelo pelo perigo que flerta com a morte. A descrença no Mal passa pela banalização da vida. E a simbólica do "outro", do "adversário", "daquele que manca" e por isso a utilização da bengala, antecede colorações específicas. O terno branco – aliado à postura refinada, discreta e minimalista do vocalista em cena – transtorna o público sedento por uma cultura enlatada e de fácil assimilação.

Apresentando a "festinha", sentado na tampa traseira de uma pick-up GMC, 1973, ou vislumbrando o evento em seu final, escorado num Camaro, 1978, com o semblante onde um sorriso cruel se apresenta, o elemento maléfico, em segundos, transforma-se em pura expressão fechada, evidenciando que não está ali para brincadeiras. Claro, o diabo também se mistura à turma, pedindo um cigarro a uns desavisados, e de maneira mui afável. Exímio negociador, o diabo sabe como estimular almas carentes. Mas nada pode contra as crianças, os pequeninos de Christo. A primeira cena do "diabolus" não deixa especulações agnósticas fluírem, pois a sua incapacidade diante d’Ele devido a questões supranaturais dos Primórdios, é mais do que notória.

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Desta forma, inexistem incoerências metafísicas no perfil do "maleficum" neste vídeo, e muito menos intromissões artísticas "modernas", que adoram vulgarizar em uma obra de arte tal situação espiritual que nada tem de superficial ou "engraçadinha". Inclusive a virada para o autoconhecimento aparece nas cenas onde estão as crianças. Ou seja, no Temor de Deus atento ficamos contra o Mal, mas no Amor de Deus o foco está fundamentado, afinal, é na pureza infantil que o mundo simbólico frutifica – eis a vitória da não-reação contra o Mal.

Roberto Muñoz, escritor

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