Tripa Seca: supergrupo underground retorna dançando no caos
Resenha - Charivari - Tripa Seca
Por Victor de Andrade Lopes
Postado em 12 de junho de 2022
Nota: 9
Três anos depois de sua estreia explosiva e autointitulado, em que rock, MPB e música latina colidem com a mesma violência das partículas que saíram do Big Bang, o "supergrupo underground" Tripa Seca (Renato Martins (vocais, guitarra), André Paixão (vocais, guitarra, teclados), Melvin Ribeiro (baixo) e Marcelo Callado (bateria, percussão)) retorna nesta reta final (será?) da pandemia com um aguardado sucessor.
Neste segundo lançamento, Charivari, a experimentação com sons, a densidade, as mudanças bruscas de estilos e a velocidade de algumas faixas criam um caos paradoxalmente organizado que alude ao título da obra - "charivari" era um tipo de desfile medieval em que a meta era fazer o máximo de barulho possível, independentemente do som resultante virar música ou não.
Neste trabalho aqui, indiscutivelmente a cacofonia virou música. E música das boas. Não tem uma vez que eu escute este disco que eu não fique bestificado diante da polidez do som, da "envolvência" dos ritmos e do bom gosto dos arranjos.
Algumas peças caminham para o indie rock, como a abertura "Supernova" (Renato Martins, Marcelo Callado), "Pessoas Loucas" (André Paixão, Marcelo Callado), "Feitiço do Tempo" (Marcelo Callado) e a "tripasequisticamente" irreverente "Não Peida no Amor" (idem). A explosão do indie e a casualidade das letras dão certo aqui - e isto está sendo dito por alguém que tem pouca paciência para tudo que gira em torno da palavra "indie".
Outras adotam uma roupagem inesperadamente árida, quase country, como em "Dois Pesos e Duas Medidas" (Melvin, André Paixão, Marcelo Callado) e "Em Voga" (Marcelo Callado, André Paixão), que nos transportam para os desertos norte-americanos ou quem sabe para o sertão nordestino - de onde você jura que o grupo vem até descobrir que são de origem carioca.
O carro-chefe do trabalho, "Que Dia" (Renato Martins), destoa muito do restante da obra, mas mesmo assim ganhou um clipe. Eu teria escolhido praticamente todas as outras músicas antes desta para virar um clipe, mas há quem se apaixone pelo clipe tanto quando os personagens retratados.
Charivari é álbum merecedor de condecorações de fim de ano e essa coisa toda, com direito a participação em trilha sonora de novela da Globo e tudo (pela força e pela brasilidade das canções), mas o Tripa Seca parece ser aquele tipo de banda que já se sente extremamente realizada só de lotar uma modesta casa de shows com os fãs mais fiéis. Motivos para celebrar, estes últimos certamente têm.
Abaixo, o clipe de "Solstício de Inverno".
FONTE: Sinfonia de Ideias
https://sinfoniadeideias.wordpress.com/2022/06/09/resenha-charivari-tripa-seca/
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