Shaman: Reason era o testamento da banda
Resenha - Reason - Shaman
Por Marcio Machado
Postado em 31 de julho de 2019
Nota: 9
O Shaman continuava em alta após a estrondosa estreia com "Ritual" em 2002 e uma baita dvd em 2003. Assim sendo, um novo lançamento era mais do que aguardado pelos fãs aquela altura. Eis que surgia então, três anos após "Reason", que é um outro grande marco na história do Metal nacional, mas com outras qualidades diferentes de seu antecessor.
O disco foi gravado na Alemanha e de novo produzido por Sascha Paeth, todo em um sistema analógico, podemos conferir logo de início que a sonoridade foi para um lado mais cru e mais direto do que antes, mesmo que com vários momentos de muito peso no primeiro disco (oi For Tomorrow!).
"Turn Away" abre o disco e já abre carregada com uma banda muito afiada, carregando com guitarras pesadas e uma bateria bastante crua de Ricardo Confessori (olha esse bumbo) e um Andre Matos cantando com uma voz extremamente rasgada e cheia de corpo acompanhando a pegada mais direta da canção, mas sem deixar seus tons altos de lado, a última frase da canção prova isso. Logo ela explode em um grande refrão. Continua a banda super afiada e agora o outrora novato Hugo Mariutti se sente mais a vontade em suas criações e traz um belo andamento e um solo muito bom. Grade começo.
A faixa título já da as caras em seguida, "Reason" começa cadenciada e mais lenta. Aqui temos uma pegada mais gótica em seus primeiros versos e continua num bom refrão bastante melódico. Seu final é bem dramático com vozes líricas acompanhadas por pianos e bastante peso, e por falar em gótico…
A próxima da vez se trata de um cover, e que cover é esse?! "More", da banda The Sister of Mercy é quem é a escolhida e que versão maravilhosa foi essa que a banda criou. Cheia de peso e aliada a voz muito bem conduzida de Andre, criaram uma versão que consegue se sair até melhor do que a original. A banda respeitou muito bem o material primário e ao mesmo tempo colocar sua identidade mais Heavy Metal ali e praticamente se apoderar da canção como se fosse sua. Bela roupagem hein meninos!
"Innocence" é quem segue o trabalho e bom…desde os tempos do Angra, essa trupe sabia conduzir suas baladas não é?! Não perderam a mão e criaram uma linda faixa aqui. O começo é brando com Andre e um piano num momento bastante intimista e ele mostrando todo o domínio que tem e aos poucos tudo vai ganhando um crescendo até termos um refrão maravilhoso e em seguida um solo cheio de feeling e que final temos aqui, aos 3:45 é o momento que se você segurou a emoção até ali, irá se soltar.
Continuando de volta ao peso, está "Scarred Forever" que descarrega a fúria das guitarras de Hugo. A ponte é quebrada e a mudança no refrão é muito boa, levando para um lado mais melódico e lento e mostrando que a banda está muito bem alinhada. Outro solo surge aqui muito bem feito e teclados climáticos acompanham tudo dando mais charme para as boas frases construídas ali.
"In The Night" começa com alguns pequenos toques eletrônicos, mas logo o lado mais pesado dá as caras num pequeno flerte com algo mais prog e andamento cadenciado. O refrão é maravilhoso, um dos melhores criados pela banda e pega fácil e destaque para o timbre de Andre nesse momento. É uma das mais bem trabalhadas deste álbum e com certeza um destaque maior aqui é merecido.
Continuando com um ritmo mais lento, mas sem perder o peso está "Rough Stone" que invoca o Shaman de "Ritual". Aqui o baixo de Luís aparece em destaque e leva a canção nos versos e quando se junta aos demais as coisas ficam muito boas e aqui está o solo mais bem construído do álbum e sua ponte é bastante pesada.
"Iron Soul" já entra na pegada Power Metal, bastante rápida e cheia de vigor, começa sem muito tempo de respirar e ganha corpo nas vozes dobradas e refrão grande bem no estilo que faz lembra algo que poderia ter saído lá do "Fireworks". Há uma passagem onde o peso da espaço aos pianos deixarem sua marca e logo tudo volta a quebradeira do refrão.
Aliando peso e melodia temos "Trial of Tears", a que para mim é disparada a melhor faixa do disco todo. Tudo aqui funciona muito bem executado. É rápida, pesada e afiada com todos os instrumentos muito bem encaixados e um grande momento da voz de Andre Matos que mescla o lado mais brando ao mais agressivo e abusa de seus agudos com uma grande naturalidade. O refrão é forte e chega cheio de vontade aos ouvidos. Grande faixa da banda que merece um destaque maior do que o de fato tem.
Encerrando o disco, temos "Born to Be" que começa numa espécie de balada, mas logo caímos num andamento pesado e um ótimo refrão, e outro solo executado com maestria. O final é digno de figurar como encerramento com tudo passando a sensação de dever cumprido até ali. Que discaço tivemos a oportunidade de prestigiar aqui, mais um grande ponto para o Metal nacional.
"Reason" era o testamento do Shaman com esta formação que infelizmente morreu tão rápido quanto sua ascensão ao hall de bandas brasileiras que merecerem seu posto. Com dois discos mostraram uma grande versatilidade e competência agregando em muito para nós ouvintes e apreciadores do gênero e que vez ou outra vemos uma beldade dessas dar as caras por aqui. O futuro talvez reservasse mais coisas do tipo, porém como a vida é cheia de surpresas, dia 08/06 deste ano tivemos que ser obrigados a deixar de sonhar com algo assim novamente, mas com a felicidade de ainda poder apreciar o que nos foi deixado e que maravilha foram esses dois discos! Aplausos para esses caras, mais do que merecido.
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