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Mutantes: o inicio da fase progressiva

Resenha - O A e o Z - Mutantes

Por Rafael Lemos
Postado em 29 de abril de 2016

Nota: 10 starstarstarstarstarstarstarstarstarstar

Algumas pessoas não sabem mas os Mutantes teve uma fase onde produziram albuns de Rock Progressivo de altíssimo nível. "O A e o Z" deu início a esse período tão rico e bastante ofuscado devido ao sucesso que tiveram na fase anterior.

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Um dos maiores motivos de eu estar escrevendo esta resenha é uma raiva acumulada por muitos anos. Há quase uma década atrás, descobri a fase progressiva dos Mutantes e, muito empolgado, fui falar a um amigo que tinha na época, com quem mantinha contato pela Internet. Falei que era genial, que em nada ficavam devendo a bandas clássicas como Yes ou Premiata, tendo muitas influências deles inclusive etc etc etc. E ele disse "Até parece. Mutantes? Você está louco: não tem nada disso, deve ser chato". Como resultado, ele não ouviu o som dos caras devido a uma mistura de preconceito e ignorância, de teimosia e desconfiança. E pensei: "Que idiota! ".

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E o que eu falei era verdade. Podemos separar os Mutantes em duas fases bem distintas, como se fossem duas bandas. A primeira, que é a fase famosa, foi um grupo psicodélico, experimentalista e que fez um sucesso gigantesco com músicas como "Banho de lua" e "Ando meio desligado", tendo como uma das integrante a Rita Lee. Particularmente, embora reconheça a importância, não gosto dessa fase deles e acredito que muitos achem essas músicas estranhas para se ouvir. Porém, o que muitos não sabem é que os Mutantes não foram apenas isso: o melhor seria gravado depois.

Na segunda fase, a sonoridade marcou um verdadeiro corte com o período anterior. O grupo já estava morando há um certo tempo em uma comunidade hippie na Serra da Cantareira chamada Mutantolândia. Lá, basicamente compunham, ensaiavam, praticavam o amor livre e usavam o corpo como experiências de drogas como o LSD. As influências musicais não eram as mesmas mais, partindo em busca de sonoridades mais complexas, como Mahavishnu Orchestra, Emerson Lake and Palmer e King Crimson e isso se refletia no som.

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Até ai, tudo bem. Totalmente de acordo com o espírito da época. Só havia um problema: a Rita Lee não se encaixava musicalmente com a banda mais. Todos eram ótimos músicos, dominavam as técnicas dos seus instrumentos e a Rita não tocava nada. Sendo assim, acabaram a retirando da banda, que passou a contar com os irmãos Arnaldo Baptista (orgao e violoncelo) e Sérgio Dias (guitarra, violão, cítara e voz), além do Liminha no baixo e Dinho na bateria. O visual refletia o pensamento místico que pairava na cabeça dos caras: uma busca pelo misticismo e pela liberdade através das drogas, uma criatividade ímpar que repercutiu nas exuberantes canções que se seguiram.

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"O A e o Z", primeiro trabalho progressivo dos Mutantes, foi totalmente composto, ensaiado e gravado sob efeito de LSD para melhor captar o sentimento da banda. Foi gravado em 1973 mas, devido ao pouco interesse das gravadoras em lança-lo, ficou guardado por muito tempo, saindo apenas em 1992, em CD. O vinil só viria a ser lançado em 2015, com as ordens das músicas diferentes da que saiu em CD e com a correção do título da faixa, "Rolling Stone", uma referência a Mick Killingbeck, editor da primeira edição da revista no Brasil e uma espécie de conselheiro espiritual da banda, e não "Rolling Stones" como saiu no CD, parecendo uma referência à banda inglesa.

A edição em cd de 1992 possui um encarte todo semelhante a escrita feita por uma criança, inclusive nas letras das músicas. Tem uma boa sonoridade quanto a remasterização.

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A faixa de abertura tem uma das letras mais viajadas da história da música e potentes solos de guitarra e bases fortes de órgão, demonstrando que os Mutantes não estavam brincando quando disseram que mudaram de verdade o estilo.

"Rolling Stone" tem um ritmo mais compassado até o corte no refrão, dominado por linhas diferentes de melodias de vozes integradas que se sobrepõem cantando frases diferentes ao mesmo tempo, o que se chama Contraponto.

Como é comum no Progressivo feito no Brasil, temos o uso de muitos violões. Sérgio Dias esbanjou o seu conhecimento e técnica na música "Você sabe", pra mim um dos pontos altos do disco, enriquecida com as vozes harmoniosas.

"Hey Joe" tem uma letra esotérica maravilhosa, totalmente espiritualizada, que transpira paz em cada frase, ideia que continua na próxima música, "Uma pessoa só", que retoma algumas ideias da faixa título.

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Temos o encerramento com a divertida e até politizada "Ainda vou transar com você", um pouco mais Rock and Roll do que as anteriores.

Totalmente desbundado, os Mutantes prosseguiram com bases fortes na complexidade erudita do Progressivo e acertaram na mosca. Vale a pena romper preconceitos e ouvir essa fértil fase da banda que, como eu disse ao meu amigo, em nada devem aos grandes nomes internacionais do gênero. Se duvida, não faça como ele: ouça este álbum do início ao fim, ou melhor, de A a Z.

Faixas:
(Edição cd, 1992):
01- O A e o Z
02- Rolling Stones
03- Você sabe
04- Hey Joe
05- Uma pessoa só
06- Ainda vou transar com você

(Edição vinil, 2015):
Lado A
01- O A e o Z
02- Uma pessoa só
03- Ainda vou transar com você

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Lado B
01- Rolling Stone
02- Você sabe
03- Hey Joe

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Sobre Rafael Lemos

Rafael Lemos começou a gostar de Heavy Metal, Hard Rock e Progressivo em 1991, sem influência de ninguém, realizando pesquisas sobre as bandas.
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