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Torture Squad: Banda continua forte e focada

Resenha - Esquadrão de Tortura - Torture Squad

Por Felipe Cipriani Ávila
Postado em 27 de junho de 2014

Nota: 9 starstarstarstarstarstarstarstarstar

A banda paulistana Torture Squad iniciou as suas atividades em 1989, e de lá para cá passou por várias mudanças e adversidades. Sendo o sétimo álbum de estúdio do agora power trio, "Esquadrão de Tortura" tem como conceito lírico o período no qual o Brasil foi governado por um regime militar (1964 a 1985), nos apresentando temas densos, pesados e catárticos.

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Gravado no Norcal Studios e contando com a produção da própria banda, além de Brendan Duffey e Adriano Daga, "Esquadrão de Tortura" foi lançado oficialmente no dia 15 de novembro de 2013, dia da Proclamação da República. É, então, um álbum muito forte e que contêm um tema conceitual lírico muito simbólico, já que aborda uma época muito conturbada para a história do país, a ditadura militar, que durou mais de vinte anos.

Sendo o primeiro álbum gravado como trio e com o guitarrista André Evaristo assumindo também os vocais principais, já que em março de 2012 o vocalista Vitor Rodrigues deixou a banda após 19 anos de atividade, "Esquadrão de Tortura" é um trabalho muito consistente e variado, contendo onze temas, além da regravação para "A Soul In Hell", da demo autointitulada de 1993. Embora as mudanças tenham deixado muitos fãs receosos quanto ao futuro do conjunto, o álbum em questão mostra que este tem ainda muito combustível para queimar e não serão as adversidades e mudanças que o abalará.

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Como é sabido, o Regime Militar no Brasil foi instaurado no dia primeiro de abril de 1964 (sim, dia da mentira, como bem aponta a faixa de abertura "No Escape From Hell") e durou até 15 de março de 1985, sendo um período de muita repressão e de caráter autoritário e nacionalista. O tema, então, é de difícil abordagem e há a necessidade de muito estudo a fim de analisá-lo mais profundamente. Todavia, a tarefa foi muito bem cumprida, com letras muito bem construídas e detalhadas. Seria injusto não tecer elogios à parte lírica, mas o resultado final não seria tão satisfatório caso não houvesse um casamento perfeito com o instrumental agressivo, intrincado e denso da banda.

A faixa de abertura, "No Escape From Hell", já dá a tônica para todo o álbum, sendo bem agressiva, rápida e com vocais muito bem encaixados e marcantes. Logo nos primeiros segundos já se nota todo o esmero por trás dos detalhes, com um excepcional trabalho do baterista Amilcar Christófaro, além da excelente ponte e refrão. A letra foi muito bem construída e descreve bem o início do Regime Militar no Brasil, citando o presidente João Goulart, que era popularmente conhecido como Jango, que foi deposto pelo Golpe Militar, no ano de 1964, além dos atos institucionais que foram instaurados pelos militares a fim de pôr "ordem na casa" contra quem se opusesse ao regime. Voltando à parte instrumental, temos um solo de guitarra melódico e soberbo de André Evaristo, além de um breakdown sensacional, logo retornando com o ótimo refrão!

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Em "Pull The Trigger" temos uma excelente cozinha, com o contrabaixo bem presente, além de riffs de guitarra muito técnicos, mas, ao mesmo tempo, grudentos e memoráveis. A letra aborda de forma muito inteligente a repressão da época do Regime Militar, de modo que, quem não concordasse com a nova ordem vigente e se manifestasse contra, seria preso e torturado, como foram vários estudantes, trabalhadores e artistas. O baterista Amilcar Christófaro, mais uma vez, arrebenta!

É realmente elogiável como o álbum logo captura o ouvinte, mantendo-o preso aos detalhes e à atmosfera densa, tensa e pesada que permeia todas as faixas. Por se tratar de um trabalho conceitual, é imprescindível que as faixas se interliguem e que haja relação entre o instrumental e a parte lírica, o que, sem sombra de dúvida, foi cumprido com êxito no álbum em análise, pois logo somos envolvidos por todos os detalhes. Em "Pátria Livre", temos a participação especial de João Gordo (Ratos de Porão), com um tema com instrumental longo e técnico. É a única que possui a letra em português, do início ao fim. Enquanto que "Wardance" fala sobre a CCC (Comando de Caça aos Comunistas), que foi uma organização paramilitar anticomunista brasileira de extrema direita surgida em 1963, em plena Guerra Fria, composta por estudantes, policiais e intelectuais favoráveis ao Regime Militar, além dos agentes da polícia que se infiltravam entre os estudantes que se manifestavam contra o regime. Tudo isso embalado por um instrumental muito técnico e agressivo, que combina perfeitamente com o tom da mensagem contida no tema. A faixa seguinte, "Architecture Of Pain", começa com a gravação do Ministro da Justiça da época, Gama e Silva, anunciando a promulgação do Ato Institucional N°5, no dia 13 de dezembro de 1968. Logo após isso, a banda já começa "quebrando tudo", com um trabalho de bateria, mais uma vez, no mínimo formidável, aliado às ótimas linhas vocais de André Evaristo. A letra, como é de se supor, aborda a época da instauração do já citado Ato Institucional N°5, e toda a repressão que se seguiu às pessoas contrárias ao regime militar, com muitas sendo presas, torturadas, sem saber sequer o porquê disso, sendo que até os dias atuais famílias sofrem com parentes que "desapareceram", simplesmente porque não seguiram o lema "Brasil, ame-o ou deixe-o". No que tange a música em si é, sem dúvida, um dos grandes destaques do trabalho.

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As faixas posteriores seguem sendo uma ótima aula de história, nos informando sobre um período que nunca poderá e nem deve ser esquecido. "Never Surrender" versa sobre a importância e persistência dos movimentos armados contrários ao regime militar, como o MCR (Movimento Comunista Revolucionário) e ALN (Ação Libertadora Nacional), por exemplo, que lutavam de todas as formas para derrubá-lo. O guitarrista e vocalista André Evaristo tem ótima dicção, de modo que facilita e muito a compreensão e entendimento acerca do tema, tudo acompanhado por ótimos riffs de guitarra e por uma cozinha entrosada e competente. O final da música nos brinda com um breve solo de guitarra, um dos mais bonitos de todo o álbum. A sétima faixa, "In The Slaughterhouse", versa sobre as torturas infringidas a todos que se opunham ao regime. No que diz respeito à seção instrumental, temos um excepcional trabalho de bateria, além de partes nas quais o contrabaixo de Castor domina tudo, com ótimas e criativas linhas. O conjunto da música é excelente, sendo que esta é muito agressiva, densa e intensa, com outro solo de guitarra formidável, para se dizer o mínimo, contribuindo e muito para a atmosfera tensa que envolve o ouvinte. Eis que somos, em seguida, brindados com um tema brilhante e muito intrincado. "Conspiracy Of Silence" começa bem lenta e tensa, e é a segunda maior do álbum, totalizando quase oito minutos. Logo fica bem pesada, com o trio apresentando um trabalho instrumental intenso, cada um tendo o seu devido espaço para mostrar o seu talento como instrumentista. Desta vez, a letra aborda sobre os militantes revolucionários que eram contra a ordem vigente da época e lutavam a fim de mudarem o quadro geral. Cita, por exemplo, a Guerrilha do Araguaia, que foi um movimento armado existente na região amazônica, ao longo do Rio Araguaia, como o próprio nome dá a entender, tendo funcionado entre o final da década de sessenta e primeira metade da de setenta. O movimento pretendia derrubar o regime militar e instaurar um governo comunista, nos moldes de Cuba e China. Porém, dos cerca de oitenta guerrilheiros, menos de vinte sobreviveram, tendo sido mortos em combate ou executados nas prisões, já nas operações finais, entre 1973 e 1974. No nono tema, "Nothing To Declare", temos uma introdução marcante, com o contrabaixo bem evidente, acompanhado por ótimos riffs e solos de guitarra e um excelente trabalho de bateria. São pouco mais de quatro minutos repletos de técnica, velocidade, com bem encaixadas linhas vocais, assim como backing vocals que complementam tudo muito bem. No que concerne à letra, esta versa sobre os guerrilheiros e pessoas assassinadas por se posicionarem de modo contrário ao regime, muitas tidas como "desaparecidas" até os dias atuais. Já em "For The Countless Dead", temos a música mais curta do disco, com pouco mais de dois minutos. A atmosfera desta é tensa e trágica, com uma letra muito reflexiva: "Mas o preço por tudo não é alto demais?". Em contrapartida, "Fear To The World", é a mais longa do disco, totalizando quase nove minutos. O início é lento, tenso e muito bonito. Todavia, logo fica mais encorpada, enérgica e empolgante. A letra aborda sobre o final do Regime Militar, citando o movimento "Diretas Já", que reivindicava a volta das eleições presidenciais no país no período de 1983 e 1984, e descrevendo o panorama da época, com a sociedade pronta para votar em 1985. Cita também a nova constituição de 1988 e todas as mudanças que vieram após esta. A mensagem mais fascinante, contudo, é a correlação feita do fim e do regime como um todo com os dias atuais, nos mostrando que para compreendermos e entendermos o presente é imprescindível que analisemos o passado, não o desvalorizando. Daí a necessidade de nunca se esquecer duma época tão tenebrosa como o Regime Militar. Por fim, temos o último tema, que, na verdade, é uma regravação da faixa homônima da primeira demo da banda, lançada em 1993, "A Soul In Hell", que impressiona pela sua fúria e peso.

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Além da já citada participação de João Gordo (Ratos de Porão), temos também outros convidados ilustres, como Sphaera Rock Orquestra (quarteto de corda que participa de duas músicas, contando com a regência e arranjos criados por Alexey Kurkdjian), a contrabaixista e vocalista Fernanda Lira (Nervosa), os bateristas Paulinho Sorriso e Dino Verdade, além do ex-membro e atual Fanttasma, Augusto Lopes.

Como se pode observar através da análise feita para "O Esquadrão de Tortura", temos aqui um trabalho muito acima da média, que possui vários predicados e que cresce audição após audição. No que diz respeito ao conceito lírico escolhido pelo trio, não há como deixar de elogiá-lo pela coragem e comprometimento em abordar um período tão negro como a Ditadura Militar no Brasil. Todas as letras são muito inteligentes, bem explicativas e descritivas, e mostram a importância de nunca esquecermos o passado histórico do nosso país, por mais doloroso que ele possa ter sido. Afinal de contas, para não cometermos os mesmos erros é necessário aprendermos com os que cometemos no passado. Entretanto, nada disso valeria se não houvesse composições ímpares, fortes e que casassem perfeitamente com o conceito proposto, tarefa que foi cumprida com muito êxito, nos brindando com um resultado final que não poderia ser mais satisfatório. Para quem achou que o futuro do conjunto era incerto após a saída do vocalista Vitor Rodrigues, ouça por completo o disco e fique tranquilo, pois o Torture Squad ainda tem muito a nos orgulhar, com toda a certeza! Parabéns a todos os envolvidos!

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Formação da banda:
André Evaristo – Guitarra e vocal
Castor – Contrabaixo e vocal
Amilcar Christófaro – Bateria

Faixas:
1 – No Escape From Hell
2 – Pull The Trigger
3 – Pátria Livre
4 – Wardance
5 – Architecture Of Pain
6 – Never Surrender
7 – In The Slaughterhouse
8 – Conspiracy Of Silence
9 – Nothing To Declare
10 – For The Countless Dead
11 – Fear To The World
12 – A Soul In Hell (Bonus Track)

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Sobre Felipe Cipriani Ávila

Headbanger convicto e fanático, jornalista (graduado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUC Minas), colecionador compulsivo de discos, não vive, de modo algum, sem música. Procura, sempre, se aprofundar no melhor gênero de música do mundo, o Heavy Metal, assim como no Rock'n'Roll, de um modo geral, passando pelo clássico, pelo progressivo, pelo Hard setentista e oitentista, e não se esquecendo do Blues. Play It Loud!
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