Coldplay: As canções estão chatas e a banda se repetindo
Resenha - Mylo Xyloto - Coldplay
Por Daniel Junior
Fonte: Aliterasom
Postado em 20 de novembro de 2011
Nota: 5
Banda nenhuma, por mais história que possua, deve estacionar sua criatividade. É fácil lotar estádios com meia dúzia de hits, um pouco de carisma e presença de palco. Uma declaração polêmica aqui, outra ali, um vazamento sobre a vida particular aqui, uma participação especial ali e sem muito esforço a carreira se constrói e anda.
Até que o Coldplay é uma banda discreta e os fatores acima se referem muito pouco a banda inglesa (quem não se lembra das acusações de plágio que o grupo sofreu nos últimos dois anos?), mas desde "Viva La Vida or Death All His Friends" (2008) que ela vem flertando com um som absolutamente centrado em Chris Martin e isto não tem feito bem à diversidade que o grupo demonstrou nos primeiros discos.
No disco anterior, faixas como Lovers In Japan e Cemeteries of London, não acrescentavam nada aos conceitos do disco e, uma vez ou outra, passaram a integrar os shows na turnê do disco. O que se vê em MX é Chris Martin e banda, simples assim.
As melodias se repetem com frequência. Mesmo que Martin capriche nas tentativas de soar pop como em Paradise e Charlie Brown, mas o seu falsete já não soa tão autêntico como em Trouble ou The Scientist, por exemplo, do primeiro e segundo disco respectivamente. Mesmo que Jon Buckland (guitarra) se esforce, para que, em um riff aqui e outro ali, imponha parte da sua personalidade musical, é encoberto por teclados, samplers e as vezes uma zoeira musical que tira muito da pureza das canções. As canções do Coldplay estão chatas e mesmo fã da banda, dá vontade de ‘levantar a agulha’ em algumas faixas.
US Againts The World é a mesma ladainha – desculpe o termo – que Martin já havia feito com algum louvor em X&Y na faixa Til Kingdon Come ou mesmo nas várias faixas de Parachutes em que Martin privilegia o som acústico. Geralmente com um violão muito ruim na mixagem (escolha da banda) e que sempre abre-alas para voz chorosa de Martin. Ao vivo – como se viu no Rock In Rio IV – a faixa até funciona, mas lembra tantas outras canções que o grupo já gravou.
O maior problema da banda – e por isso que digo que Martin tem sido o centralizador das decisões sonoras dos discos – é recorrer a arranjos que, mesmo ‘diferentes’ não são nada inusitados, já que deram as caras em outros discos da banda.
Em Every Teardrop is a Waterfall a banda aparece mais join and fun do que nunca. Talvez a melhor faixa do Coldplay em um disco que por ser muito diverso pode deixar o ouvinte perdido, não quanto as canções, mas por qual caminho que o grupo inglês deseja seguir. O som do disco também não é muito bom. Embora melhore – 70% – ao som de Viva La Vida… .
Em Major Minus vemos o ‘dedo’ de Brian Eno, pois a faixa é a cara do U2 fase Achtung Baby, com seus noises, vocais afetados e uma parafernalha eletrônica, mas a canção não fica e essa é a minha preocupação com relação ao futuro dos discos da banda. Será que Coldplay irá deitar na cama da fama de músicas como Yellow, Fix You ou mesmo In My Place?
U.F.O de tão curta parece uma vinheta e deixa a gente pensando se precisava entrar no disco mesmo. E temos mais uma vez Martin brincando de "essa é minha banda", com mais uma faixa acústica chorosa e cheia de falsetes.
Princess of China, não pela presença de Rihanna, pelo contrário, a voz da cantora americana é belíssima, mas como entender esta faixa como Coldplay, principalmente em apresentações ao vivo.? Uma programação de teclado faz o recheio da faixa – que se não é ruim – muito fruto de uma vocalização de ambos mas que caberia num disco do Placebo ou do Prodigy. Mesmo assim é uma das minhas faixas favoritas.
Up In Flames é uma boa canção, não fosse seu arranjo techno-dub, que esconde a boa música criada pela banda. Na intenção de soar diferente, as escolhas acabam sendo ruins justamente na moldura escolhida. Os arranjos parecem demos sofisticadas.
Em Don´l Let It Break Your Heart um pouco daquele Coldplay que o fã está acostumado de faixas como What If (X&Y), mas mantenho minha opinião pela mixagem duvidosa e tirando os detalhes mais bacanas, inclusive, é muito difícil entender o que Martin canta em quase todas as músicas deste disco.
Um fato que não pode ser menosprezado é o fato do pouco destaque individual de cada músico. Parece que a contribuição de cada integrante ficou renegada ao dever de casa trivial de acompanhar ao cantor, compositor, guitarrista, violonista, tecladista e tomara-que-não baterista da banda.
Em Up With The Birds o ouvinte pode (ou não) chegar à conclusão de que o disco está acabando e não se lembrar ou sentir saudades de quase nenhuma faixa ouvida nos últimos 30 e poucos minutos e isso é um demérito esquisito para uma banda que parece que havia herdado um legado da maior banda britânica dos últimos 25 anos (U2). Será que não?
twitter: @aliterasom
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