Uganga: promissora banda da cena metálica brasileira
Resenha - Vol. 3: Caos Carma Conceito - Uganga (2010)
Por Ricardo Seelig
Fonte: Collector's Room
Postado em 08 de março de 2010
Nota: 8
Fazer heavy metal com letras em português não é para qualquer um. Assim como acontece no rock, no metal a língua universal também é o inglês. Gerações e gerações cresceram ouvindo os discos de bandas como Black Sabbath, Motorhead e Metallica, e décadas de exposição sonora a clássicos deste calibre, todos cantados na língua da Rainha Elizabeth e do Tio Sam, condicionaram nossos cérebros a um padrão sonoro.
Quer dizer então que não se pode fazer metal com letras em português? Não, não foi isso que eu disse. O que eu estou dizendo é que, por causa desses fatores descritos no primeiro parágrafo, é preciso ser muito competente, até mais do que o habitual, para conceber um disco de heavy metal cantado na língua que falamos aqui no Brasil sem que ele soe estranho aos ouvidos de quem passou as últimas décadas tendo os ícones mundiais do gênero como companheiros do cotidiano. E o Uganga consegue isso com folga em "Vol. 3: Caos Carma Conceito".
O grupo mineiro está há 15 anos na estrada. No início, a banda se chamava Ganga Zumba, e fez parte da lendária cena mineira que gerou nomes importantíssimos para o metal nacional, como Sepultura, Sarcófago, Chakal e Overdose, entre outros. A sonoridade atual dos caras agrega enormes doses de peso a elementos do hardcore e algumas passagens que remetem ao rap e ao reggae, tudo feito com muita criatividade e talento.
A banda já lançou três demos, participou de várias coletâneas e tem três discos no currículo: "Atitude Lótus" de 2003, "Na Trilha do Homem de Bem" de 2006 e "Vol. 3: Caos Carma Conceito", lançado no início de 2010. Esse último disco foi gravado pelo novo line-up do grupo, que atualmente conta com Christian Franco e Thiago Soragi nas guitarras, Rasphael Franco no baixo, Marco Henriques na bateria e Manu "Joker" Henriques no vocal. Uma curiosidade: Manu foi baterista do lendário Sarcófago, uma das mais importantes bandas brasileiras de heavy metal de todos os tempos, influência confessa de grandes nomes do metal extremo em todo o mundo. Além disso, o grupo conta com o DJ Vouglas "Eremita" nas pick-ups, convidado especial em todos os discos e também nos shows.
Gravado no Orbis Estúdio em Brasília (mesmo local onde nomes como Violator, DFC e Rumbora gravaram alguns de seus discos) com produção de Riti Santiago (ex-Câmbio Negro) e da própria banda, o CD é pesadíssimo, colocando na mesa influências de thrash e death metal somadas a características punk e hardcore. A masterização, feita na Alemanha pelo conceituado produtor Harris Johns, o mesmo nome por trás de clássicos como "Pleasure to Kill" do Kreator, "Killing Technology" do Voivod, "Persecution Mania" do Sodom e "Brasil" e "Anarkophobia" do Ratos do Porão, foi fundamental para tornar essas características ainda mais evidentes. Além disso, o álbum segue a ideia apresentada no título, sendo dividido em três partes: "Caos", "Carma" e "Conceito". O som que sai das caixas de som é muito bem produzido, mostrando uma banda competente, talentosa e que sabe exatamente o que quer.
Entre as faixas, destaque para a abertura climática com "Kali-Yuga", com belas passagens de cítara; a ótima "Meus Olhos de Enxergar o Mal (2 Lobos)", com passagens thrash e influências que lembram o Trivium, além de uma bem-vinda e surpreendente escaleta, que enriquece demais a música, e também alguns trechos reggae que servem de contraponto para a pancadaria; "ISO 666", onde o convidado especial Vouglas "Eremita" mostra a que veio; a excelente instrumental "Velas", que serve de introdução para a segunda parte do CD, intitulada "Carma"; "Zona Árida"; a também instrumental "P.A.X.", que simultaneamente encerra a segunda parte do play e introduz a terceira, "Conceito"; e o encerramento com a longa "O Primeiro Inquilino", onde em mais de sete minutos são narrados os fatos de um assassinato sobre uma base que une guitarras heavy metal com um vocal rap. Aliás, "O Primeiro Inquilino" é apenas a primeira parte de uma história que contará com mais dois capítulos, que serão desenvolvidos e apresentados nos discos futuros do grupo.
O CD é muito bom. Inspirado, com letras inteligentes, instrumental excelente e muito, muito peso. Além disso, vem em uma bonita e muito bem acabada embalagem digipack, com um longo encarte com todas as letras e informações sobre o grupo. Resumindo, um trabalho gráfico nota dez, que só valoriza ainda mais o conteúdo do álbum.
Um ótimo registro de uma das mais promissoras e talentosas bandas da atual cena metálica brasileira, um quinteto com imenso talento, que não tem medo de ousar e experimentar em busca de sua própria sonoridade. Se você gosta de música, vá atrás de "Vol. 3: Caos Carma Conceito", porque vale muito a pena.
Faixas:
1. Kali-Yuga
2. Fronteiras da Tolerância
3. 3XC
4. Meus Velhos Olhos de Enxergar o Mal (2 Lobos)
5. Asas Negras
6. ISO 666
7. Velas
8. Sua Lei, Minha Lei
9. Encruzilhada
10. Milenar
11. Zona Árida
12. P.A.X.
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