Witchfinder General: sentimento de que podia ser melhor
Resenha - Resurrected - Witchfinder General
Por Igor Natusch
Postado em 29 de setembro de 2008
Nota: 6
Para os entusiastas do Heavy Metal oitentista, esse lançamento tem tudo para ser recebido como um verdadeiro milagre. Afinal, "Resurrected" é nada menos do que um novo CD do Witchfinder General – uma das bandas mais lendárias da NWOBHM, que influenciou boa parte do que foi feito depois dela, especialmente em estilos como o Doom Metal. Mas, além da euforia pela chegada de um disco como esse, acaba surgindo uma questão: a música nele contida se sustenta além da carga histórica que envolve o nome do grupo?
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Resgatando um pouco a história do Witchfinder General, veremos que ele lançou dois LPs em seu período de (relativa) glória: um deles se tornou um dos álbuns mais cultuados do Heavy Metal ("Death Penalty"), enquanto o outro não tem o mesmo cartaz, mesmo que alguns o considerem ainda melhor que o debut ("Friends of Hell"). A destacar a banda das centenas de concorrentes surgidos na mesma época e área geográfica, a forte influência de Black Sabbath – especialmente nos riffs e solos do guitarrista Phil Cope – a voz estranhamente fascinante de Zeeb Parkes e as letras inspiradas em filmes de terror, bastante incomuns na primeira metade dos anos 80. Mas como apenas status de lenda não garante uma carreira, o Witchfinder General dissolveu-se na metade dos anos 80, antes de conseguir realizar as gravações do seu terceiro disco – e só voltou a chamar atenção muito tempo depois, com toda a reputação adquirida com o passar dos anos surpreendendo os próprios músicos originais. A Nuclear War Now entrou no jogo, lançando primeiramente um CD ao vivo com gravações de 1983, depois uma semi-coletânea chamada "Buried Amongst the Ruins" – e agora esse "Resurrected", que nada mais é que uma regravação das músicas que seriam incluídas no terceiro LP, lá longe nas areias do tempo.
A banda é quase a mesma do período clássico, contando com a cozinha de Rod Hawkes (b) e Derm Redmont (d) e especialmente com as guitarras bastante características de Phil Cope. Os riffs que se engancham uns nos outros são muitas vezes contagiantes, e respondem por muitos dos melhores momentos do CD. A produção, intencionalmente ou não, é bastante simples, soando até um pouco "magra" em alguns momentos – o que pessoalmente nem penso ser tão problemático, já que produções de luxo nunca foram exatamente o forte da banda, e o clima quase-tosco dá até um certo charme ao material. O grande problema, se é que podemos falar assim, é a ausência de Zeeb Parkes na "linha de frente" do Witchfinder General. Não houve quem convencesse o homem a retornar da aposentadoria, e Gaz Martin foi encarregado de gravar as vozes no disco. O cantor se esforça, tenta de todas as formas incorporar o espírito quase doentio da interpretação de Parkes, mas infelizmente a voz de Martin é demasiado genérica e acabam sendo poucos os momentos em que não sentimos uma falta danada do antigo cantor.
Como resultado da mal suprida ausência de Zeeb Parkes, muitos momentos que poderiam ser memoráveis acabam encontrando no registro vocal de Martin quase que um anticlímax. Na faixa de abertura "The Living Hell" isso é especialmente sensível: a introdução é macabra, os riffs são excelentes, mas quando a voz aparece o sentimento de que podia ser (muito) melhor é quase inevitável. Condenar os músicos ou a gravadora, nesse caso, seria uma injustiça – afinal, o projeto surgiu de maneira espontânea, com o objetivo de resgatar músicas nunca ouvidas de uma banda cultuada mundo afora, e tudo que envolve sua realização possui um ar de sinceridade muito grande. Graças a esse esforço, podemos ouvir composições como "Final Justice", "Brutal Existence", "Euthanasia", a dobradinha "The Funeral / Beyond the Grave" e até mesmo a já citada "The Living Hell" – todas músicas que longe estão de serem antológicas, mas que certamente agradarão fãs da banda e da época e sonoridade que ela representa. Mas que falta alguma coisa, falta – e é uma pena que Gaz Martin não tenha sido capaz de supri-la, porque se tivesse tido sucesso, aí sim teríamos um trabalho digno de empolgados elogios.
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