Resenha - Anoraknophobia - Marillion
Por Thiago Sarkis
Postado em 12 de julho de 2001
Nota: 8
A primeira palavra que me vem à mente para descrever esse novo trabalho do Marillion é inusitado. Talvez isso seja um tanto quanto óbvio, pois com esse nome ("Anoraknophobia") e essa capa (com 9 cópias de Barry, candidato a ‘mascotinho’ do grupo, bem semelhante ao Kenny de South Park), só poderia sair algo bem diferente e inovador. Com certeza não haverá uma revolução no mundo do rock a partir desse disco, principalmente porque as músicas nele contidas não levam ninguém a ter grande divulgação. De qualquer forma, trata-se de um material poderoso, que mostra novos caminhos para o pop rock e o progressivo ao mesmo tempo.
Os mais fanáticos pela era-Fish, que nunca se entenderam com Steve Hogarth, são inimigos em potencial deste novo álbum. O Marillion continua com um pé na modernidade e está definitivamente livre das rédeas de excelentes trabalhos de seu passado, como "Script For A Jester’s Tear" e "Fugazi". O caminho é outro e parece bem traçado. Quem não gostou da mudança, que já vem acontecendo há vários anos, continuará torcendo o nariz para novos lançamentos do grupo.
Experimentalismo, sensibilidade, bom instrumental e contato com o movimento rock atual, especialmente o britpop, se reúnem nesse disco, no qual o Marillion dá a nítida impressão de fazer o que tem vontade, sem se preocupar em provar algo ou vender milhares de cópias. E nada melhor do que uma banda em seu estado mais puro, tocando da maneira que bem entende. O resultado disso vem, principalmente, nas faixas "Quartz", "The Fruit Of The Wild Rose", "Separated Out" e "If My Heart Were A Ball It Would Roll Uphill", nas quais há uma convivência intensa entre blues, jazz, rock, e outros estilos. Juntas elas somam mais de trinta minutos, nos quais as passagens inspiradas preponderam sobre as idéias mais fracas. Algumas partes são um pouco maçantes, mas nada que não se resolva em alguns segundos, com as freqüentes e boas intervenções de Ian Mosley e Pete Trewavas, os maiores destaques nessas músicas.
Podemos dividir as faixas ainda não comentadas, em duas categorias: na primeira estão "Between You And Me" e "Map Of The World", caracterizando uma união perfeita entre pop rock e progressivo. Em meio a levadas modernas típicas, momentos como o que podemos ouvir depois dos 3 minutos de "Between You And Me", enchem os olhos e mostram que a inserção de outras referências, como a do progressivo, no pop rock, pode levar esse estilo a evoluir e atingir patamares bem altos; na segunda entram "When I Meet God" e "This Is The 21st Century", que vão além de qualquer expectativa, proporcionando instantes de rara emoção. Ambas poderiam, facilmente, estar presentes em álbuns como "Brave" e "Afraid Of Sunlight". Estão entre as melhores composições do Marillion e colocam às claras toda a alma do grupo, e mais especificamente de Steve Hogarth. Aliás, após ouvir essas composições, fica difícil saber se Hogarth e seus companheiros são músicos geniais ou pessoas extremamente sensíveis, que nasceram com um dom, um poder imensurável, de expressar sentimentos. Impossível dizer o que é exatamente; talvez seja um pouco dos dois. O certo é que trata-se de coisa de outro mundo.
"Anoraknophobia" aparece como o melhor disco do Marillion desde "This Strange Engine", tendo passagens que retomam os áureos anos de clássicos da era-Hogarth. Quem gostou de "Seasons End" não tem porque não gostar deste novo álbum. A ‘embalagem’ realmente mudou, mas a essência, repleta de sensibilidade e musicalidade, continua a mesma.
Site Oficial – http://www.marillion.com
Steve Hogarth (Vocais)
Steve Rothery (Guitarras)
Mark Kelly (Teclados)
Pete Trewavas (Baixo)
Ian Mosley (Bateria)
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