A banda que fazia rock nacional dos anos 80 já nos anos 70
Por Bruce William
Postado em 25 de fevereiro de 2025
O rock nacional dos anos 80, muitas vezes chamado de Brock, foi mais do que um estilo musical: foi um movimento que trouxe o rock para o mainstream, impulsionado pelo fim da censura da ditadura e pelo crescimento das rádios FM e da indústria fonográfica. Bandas como Titãs, Barão Vermelho, Legião Urbana e Paralamas do Sucesso misturavam rock com influências do punk, new wave e pop, o que criou uma identidade própria dentro da música brasileira. Além da sonoridade moderna e acessível, o Brock se destacava pelas letras que refletiam o cotidiano, os dilemas da juventude e as transformações sociais do país, aproximando o gênero do grande público como nunca antes.
1982 é o ano em que o movimento se consolidou graças ao álbum de estreia da Blitz, mas algumas bandas com discos lançados antes deste ano, como 14 Bis, Premeditando o Breque e Roupa Nova, já traziam elementos que depois se tornaram comuns no rock nacional. Porém uma delas, o Joelho de Porco, foi muito além. Criado no começo dos anos setenta por Tico Terpins, Próspero Albanese e Gerson Tatini, além de outros músicos que foram sendo substituídos ao longo dos anos, o grupo misturava rock, country, jazz, samba e até marchinhas, criando um som único no Brasil da época. Mas o que realmente os diferenciava era a atitude irreverente e o humor ácido.
O primeiro disco, "São Paulo 1554/Hoje" (1976), já trazia músicas como "México Lindo" e "Aeroporto de Congonhas", que satirizavam a cultura brasileira e o estilo de vida paulistano. A banda chegou a se autointitular "a primeira banda punk do Brasil", e de fato havia ali um espírito de provocação e transgressão que antecipava o tom debochado do rock nacional da década seguinte.
No entanto, havia uma grande diferença entre o Joelho de Porco e as bandas que surgiram nos anos 80: a estética e o público-alvo. Enquanto o Brock era um movimento fortemente geracional, com bandas formadas por jovens e para jovens, abordando temas urbanos, políticos e comportamentais com uma linguagem acessível, o Joelho nunca teve essa preocupação. Seus integrantes estavam longe dos padrões visuais do rock oitentista, e sua sonoridade sofisticada, cheia de referências inesperadas, fazia com que nem sempre fossem compreendidos de imediato.
Para se ter uma ideia de como a idade pesava na cena dos anos 80, Humberto Gessinger chegou a chamar Marcelo Nova de velho por ele ter apenas doze anos a mais. O Joelho de Porco tinha a irreverência e a mistura de estilos que depois fariam sucesso no rock brasileiro, mas faltava esse vínculo direto com o público jovem, o que pode explicar por que não foram absorvidos pelo movimento.
O humor e a postura debochada da banda também antecipavam movimentos que só viriam depois. Quando os Mamonas Assassinas surgiram nos anos 90, misturando rock com sátira, muitos enxergaram um conceito inovador. Mas, na prática, o Joelho de Porco já fazia isso duas décadas antes, assim como outras bandas, como o Premeditando o Breque e o Língua de Trapo, que tinham uma abordagem mais voltada para a MPB. A diferença é que os Mamonas falavam diretamente com a juventude dos anos 90, enquanto o Joelho mantinha um certo distanciamento, seja pela estética, seja pela proposta musical.
Mesmo sem ter sido parte do Brock, o Joelho de Porco abriu caminho para um rock brasileiro mais irreverente, misturado e cheio de personalidade. Se tivessem surgido alguns anos depois, talvez estivessem lado a lado com bandas como Ultraje a Rigor e Blitz. Mas, por terem sido pioneiros, acabaram sendo vistos como uma banda cult, lembrada por quem conhece a fundo a história do rock brasileiro - mas muitas vezes esquecida quando se fala em rock nacional dos anos 80.
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