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A História do Black Sabbath - Parte 1 - Gangues de Birmingham

Por Denio Alves
Postado em 14 de novembro de 2000

Sempre, nos primórdios de algum importante acontecimento histórico, é muito difícil se imaginar o impacto real que aquilo terá ou deixará de ter para os eventos subseqüentes, e para todas as gerações futuras – algumas coisas são simplesmente efêmeras; outras, nem tanto, relativamente; e outras ainda, nos confiscam uma atenção e uma emoção desmedidas, que terminam por fazer-nos entender, freqüentemente muitos anos ou décadas depois, como a história estava se fazendo ali, naquele instante mágico, sem ninguém perceber. Assim, com certeza, as hordas e tribos de milhões de adolescentes, adultos ou coroas, disseminadas ao redor do mundo todo, podem muitas vezes se esquecer, ou não se dar conta, de certas situações e fatores que levaram o gênero musical que eles tanto curtem – o rock pesado, carinhosamente apelidado de "rock pauleira", por muitos – a atravessar o limbo das idéias fantásticas e irrealizáveis, para chegar aos aparelhos de som e toca-discos de todo o mundo despejando decibéis incríveis de criatividade e energia sobre tímpanos e mentes incrédulas com tal invenção! Como reza a velho clichê: pode ser que muitos já tivessem passeado por tal praia, e molhado os pés nesse mar vigoroso – Cream, Jimi Hendrix, Blue Cheer, e muitos mais. Mas nada faria tal experiência sair tão assombrosa e envolvente quanto as reminiscências sujas e rebeldes de quatro garotos recém-saídos de uma das mais entediantes e lúgubres cidades industriais do norte da Inglaterra... E é o que constataremos aqui.

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Foto: Divulgação - Warner Bros. Records
Foto: Divulgação - Warner Bros. Records

Tudo começou lá. E não é à toa que o título deste texto possa parecer uma alusão ao filme "Gangues de Nova Iorque", de Scorcese.

No início dos anos 60, Birmingham era um dos mais importantes pólos da indústria metalúrgica na terra de Sua Majestade. Talvez possa sair coincidência pretensiosa demais, mas é inegável que 80% do melhor heavy metal escutado no mundo inteiro, nas três últimas décadas do século XX, tenha saído justamente de lugares duros e árduos como esses – ninguém nega que todo mundo que tenha feito história no rock pesado inglês, de Iron Maiden ou Saxon a Def Leppard (com uma devida exceção ao Motorhead, que já nascia com grupos importantes como Hawkwind e outros na mamadeira) realmente saiu de ambientes relativamente comparáveis ao de Birmingham.

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Pois bem, foi neste cenário empobrecido, dominado pelo operariado rude e entorpecido pelo fanatismo pelo futebol e suas rixas lendárias (gente como os hooligans), de gente como mulheres que engravidavam cedo e se casavam para levar uma vida de eternas donas de casa de empregados metalúrgicos, ou de eternas empregadas de fábricas também (já naquela época homem e mulher tinham que trabalhar, nas pobres cidades industriais inglesas, para manter a casa), de jovens garotos e garotas que, pela pressão social da vida difícil a que estavam submetidos, não conseguiam dar vazão a tudo aquilo que a instrução escolar, frágil e falível, podia lhes oferecer – foi neste cenário que o jovem John Michael Osbourne (Ozzy Osbourne), nascido em 3 de dezembro de 1948, aos quinze anos desenvolveu um singular gosto pela atividade predileta da juventude local, exercida por nove entre dez garotos birminghianos: andar pelas ruas em grupo, testando constantemente sua virilidade ao se defrontar com gangues rivais, garrafinhas de long neck beer e correntes em punho, prontos para deflagarem a próxima chamada telefônica aos rotundos e entediados guardas de polícia locais, invariavelmente feitas por comerciantes trêmulos de pavor diante da idéia daqueles conflitos juvenis convergirem seus alvos para as vitrines repletas de tudo aquilo que eles, os garotos, sabiam que seus pais, e nem eles, podiam comprar.

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Na verdade, toda essa violência teen era a forma mais direta de expressão de uma geração desenganada e muito inconformada diante do destino que praticamente todos eles sabiam que iam, inevitavelmente, ter. "Eu nasci e vivi, durante muitos anos, num lugar em que a vida era trabalhar, trabalhar e trabalhar, do berço à sepultura, em fábricas de chapa de aço – e quando você queria comer algo diferente, não tinha opção: era ir pra dentro do mato caçar esquilos, veados e toda a sorte de bichos do mato para comer. Eu comia todos aqueles Bambi, cara – eu cansei de comer os bichinhos do mato, hahaha!", revelou Ozzy durante uma entrevista na década de 1990. A sua declaração, feita à sua típica maneira, com o humor e a ironia que lhe são habituais, pode indicar, no entanto, como a vida era dura e sofrida para toda uma população jovem num lugar como aquele, feito para o mundo adulto, sob as perspectivas do adulto e para os ideais adultos. E o pior de tudo: ideais adultos solidamente capitalistas, voltados para a máxima filosófica de linha de montagem de Henry Ford, o famoso "trabalho dignifica – trabalhe até morrer". Um trabalho, diga-se de passagem, sem o mínimo de boa remuneração ou perspectivas otimistas – trabalho pesado, tolo e brutal, sem espaço para quaisquer sonhos ou idílios. O mais engraçado disso tudo é que, alguns anos depois, esses mesmos adjetivos seriam usados pela grande maioria da imprensa musical dita especializada para descrever o som dos filhos mais queridos de Birmingham: um evidente reflexo de como a arte é produto do seu ambiente, de seu habitat natural. É gozado imaginar como o homem que hoje é catalogado como o terceiro roqueiro mais rico do mundo – perdendo apenas para Paul MacCartney, em primeiro, e os Rolling Stones, em segundo – e que é a sensação de um dos mais assistidos reality shows de todos os tempos (The Osbournes) possa, um dia, ter tido apenas um par de calças, uma camisa e uma jaqueta surrada para vestir. Ozzy disse, em recente entrevista, que, de fato, a sua família era muito pobre mesmo – além do fato de ele ter vivido grande parte de sua infância descalço, indo aos lugares quando precisava com sapatos emprestados (o que não mudou muito até os primeiros tempos do Black Sabbath...), Ozzy dormiu, até os dez anos de idade, em uma só cama, decrépita e que pertencera a seu avô, com todos os seus cinco irmãos, e a sua casa não tinha aquecimento central e nem banheiro dentro, obrigando o jovem John Michael Osbourne a ir fazer suas necessidades fisiológicas em uma apertada toalete de tijolinhos feita por seu pai, com muitas economias, nos fundos da casa, durante os avassaladores invernos gelados de Birmingham. Ou, como o próprio Ozzy gosta de dizer: "Tinha que sair para cagar naquele mato, com o c... congelando".

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O jovem Ozzy, um garoto rebelde que ainda não havia se decidido sobre no que se graduar, – uma espécie de "piada" local da cidade, já que todos acabavam mesmo era se graduando nas pesadas atividades técnicas locais – vinha, de qualquer forma, deixando uma numerosa família mais ou menos preocupada com os seus novos interesses, visto que na escola ele já revelara, anos antes, uma intolerância e uma despreocupação exemplares de um menino que, ao ouvir o primeiro acetato dos Beatles a chegar em uma loja de discos de Birmingham, no início de 1963, simplesmente saiu correndo para a sua casa e gritando para a sua mãe "Quero ser como esses caras!", feito um doido. Ozzy era filho de John Thomas Osbourne, um histriônico e fanfarrão ferreiro do bairro de Aston, de quem Ozzy herdou muito de seu temperamento, e de Lilian Osbourne, sua esposa, mais um exemplo de como marido e mulher tinham que dar duro para pôr o pão na mesa da família: Lilian era empregada do setor siderúrgico da empresa de carros populares Lucas, que tinha uma grande fábrica em Birmingham.

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John Thomas e Lilian não tinham televisão em casa: além de Ozzy – que recebera este apelido, ao contrário do que reza a lenda, não em um reformatório, mas de um coleguinha na própria escola onde fez o primário, por ser uma maneira mais fácil de se referir ao sobrenome "Osbourne" – eles tinham mais cinco filhos, dois homens e três mulheres, chamados Paul, Tony, Jean, Íris e Gillian.

Como o desempenho de Ozzy na escola demonstrou estar entrando em uma interminável curva descendente, - trajetória desastrosa, em relação à de seus irmãos - e agora ele se mostrava muito mais interessado em quebrar garrafas de cerveja na rua com seus "coleguinhas", logo papai Thomas e mamãe Lilian se empenham em tentar dar um outro rumo à vida do seu querido filhinho, visto que, como já rezava a velha máxima, "o ócio é a oficina do demônio" – demônio este que, por sinal, já desde essa época mostrava exercer uma certa atração sobre Ozzy, cujo único ponto de interesse, na escola, parecia ser o professor Parry Williams, que nos intervalos das aulas, costumava entreter os alunos contando-lhes estórias entremeadas de satanismo – pequenos contos de Edgar Allan Poe e H. P. Lovecraft, além de historietas nórdicas sobre as bruxas e espíritos das florestas. Nascia ali o crescente interesse de Ozzy por tramas e personagens diabólicos.

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Dois meses após o seu aniversário de 15 anos, Ozzy sai do Instituto Escolar de Ensino de Tregarth – para nunca mais voltar. Seus pais lhe arranjam um emprego como aprendiz de bombeiro. Não dura mais do que três semanas, no entanto: o garoto alega que é muito difícil se inteirar de todas aquelas normas de segurança e, alegando haver se desentendido com os bombeiros-chefes, justamente por não se dar com os regulamentos do trabalho, deixa eles falando sozinhos numa das muitas cinzentas tardes de sexta-feira de Birmingham – para também nunca mais voltar. John Thomas e Lilian começam a perceber, a partir daí, que vai ser muito difícil domar o inconstante instinto rebelde de Ozzy.

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Alguns dias após ter abandonado o primeiro serviço, um amigo dos pais de Ozzy consegue uma vaga para o rapaz como ajudante de uma casa de carnes próxima à casa deles. O salário era um pouco melhor do que ele receberia no corpo de bombeiros, e com um grande incentivo de seus pais (leia-se: um tremendo puxão de orelha de seu Thomas no filho), Ozzy se anima de ir conhecer o tal açougue. Lá chegando, até que se afeiçoa pelo serviço e resolve ficar – é um dos empregos em que Ozzy permanecerá por mais tempo, antes de bandear sua cabeça para a música. O garoto, já desde cedo bastante mal intencionado, acha um barato aprender o ofício de matar e sangrar cerca de 250 vacas por dia e arrancar fora tripas de carneiro...

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Após quatro meses de árduo batente no açougue, Ozzy novamente se cansa, e alega que aquele trabalho é legal, mas é o tipo de serviço que não dá muito futuro a não ser que você seja um proprietário de fazenda e possa lucrar diretamente com a venda de carne. Era sempre assim: como para qualquer jovem de sua idade, ele se entediava facilmente, e logo arrumava alguma espécie de desculpa para largar o emprego. Assim, lá vai Ozzy novamente fazer uma nova tentativa, e desta vez, para que ele fique mais "sob controle", é sua própria mãe que lhe ajuda a arrumar um emprego na fábrica de carros em que ela trabalhava.

Lilian havia sido transferida para a seção de testes com peças da fábrica, e ficara sabendo que estava sobrando uma vaga para testador de buzinas – este acabaria sendo, portanto, o primeiro grande contato direto de Ozzy Osbourne com a profissão de músico... ou barulhento, como queiram!

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É durante esta época que os primeiros problemas de Ozzy com a justiça acontecem. Recebendo uma miséria na fábrica, como era de se esperar, – os novatos precisavam adquirir muito tempo de casa para ganharem novos postos e começarem a receber um pouquinho melhor, e os sindicatos, na época, não tinham a força que têm hoje perante a Justiça Trabalhista inglesa – Ozzy, nos finais de semana, reencontra alguns velhos comparsas seus de gangue enquanto torra os seus poucos shellings nos pubs enfumaçados de Birmingham. Nestes ambientes, barzinhos tipicamente britânicos e enfumaçados onde a grande massa do proletariado inglês se reunia para se embebedar de lagers e ouvir bandas tocando de tudo, de blues e jazz a country & western americano, Ozzy começou a desenvolver o seu ouvido já acostumado a excessos para as melodias amplificadas das guitarras, baixos, bateria...

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Alguns indivíduos de péssima reputação nas cercanias, como Johnny ‘Rat’ Phillip, e outros, vários deles ex-colegas de escola de Ozzy, e que também haviam abandonado os estudos e rodado por toda a sorte de empregos e bicos de Birmingham, começaram a incutir na cabeça algumas idéias enquanto dividiam suas pints of beer. Um deles conhecia alguns endereços mágicos, gente que tinha posses, jóias, boas coisas pra se ter. "Boas coisas pra se pegar", ria Johnny. Em meio às risadas e ao clima de descontração fortalecido pela bebida, Ozzy concorda com os parceiros, e então se reúnem para promover alguns assaltos.

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O negócio da gangue de Ozzy, como passaram a ser conhecidos no submundo, não era a violência, e nem grandes assaltos. Poderiam realmente ser definidos como uma dessas milhares de ganguezinhas "pé-de-chinelo" que roubam miudezas e coisas supérfluas em geral, sobretudo de vitrines de lojas. Arrombaram algumas vezes algumas residências, de onde retiravam, em geral, roupas boas e de valor que encontravam, alimentos, e algumas jóias. Mas foi após um assalto a uma loja de roupas, que tinha uma vitrine com belos casacos e itens que chamavam muita atenção, que Ozzy se deu mal.

Numa noite de setembro de 1966, Ozzy e seu grupo quebram a vidraça da tal loja, cujo nome sumiu na névoa do tempo – ninguém parece querer se lembrar do nome do lugar que teve a honra de ser assaltado por uma das maiores estrelas ro rock! A ação da gangue não passa despercebida de um senhor que passava por ali durante a madrugada, em direção a sua casa – e que liga imediatamente para a polícia ir checar o roubo que está acontecendo ali, naquele exato momento. Quando os policiais estão chegando, e a gangue está quase terminando de recolher um punhado de blusas, calças, sapatos e jaquetas de marcas caras e famosas, um dos caras dá o alerta escandalosamente: "OS TIRAS ESTAO CHEGANDO!", e o grupo dispara em desabalada correria. Ozzy é o que fica mais para trás, e consegue correr até certo ponto, cercado por uma equipe de quatro policiais. Entretanto, acuado pelos berros de "Vamos dispara chumbo!" dos tiras, ele se refugia em um beco, junto com um comparsa, e ali mesmo lhes é dada a voz de prisão.

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Horas depois, um amigo de seu Thomas que morava próximo à delegacia do condado vai lhe dar a triste notícia. Um defensor público é nomeado para defender Ozzy, mas não há muito o que fazer: o moço passará o resto de sua vida sendo chamado de "idiota" pelo seu pai gozador, pois durante os assaltos Ozzy usava luvas... sem as pontas dos dedos! O ingênuo rapaz nem imaginava o que seriam impressões digitais. "Eu sei lá... os raios das impressões digitais. Nem sonhava que diabos deveria ser aquilo! Usava luvas sem pontas porque era legal, todo mundo usava... Pra mim, impressões digitais eram algo de computador, algo relacionado à eletrônica, um caralho desses qualquer!", diria Ozzy tempos depois, em tom de comédia.

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Como Ozzy era réu primário e confesso, e o seu advogado conseguira fazer uma boa defesa do lamentável grau de instrução do rapaz, chamando a atenção do juiz para o estado de pobreza em que viviam ele e sua família, as duras condições sociais da juventude do lugar e etc., Ozzy acabou pegando uma pena leve: 6 semanas na Winson Green Prison de Birmingham, por assalto. E apesar dos choros e lamentos de sua mãe, e das duras broncas de seu pai para não aproveitar a situação para se envolver mais ainda com a malandragem, Ozzy se sai até bem na tal penitenciária, fazendo vários colegas de cela e repartindo com eles vários truques bem típicos da juventude delinqüente da época: métodos de arrombamento, cuspes à distância, novas técnicas de ejaculação, emissão de diferentes sons por arroto, além de outras coisinhas. Foi através de um camarada com quem travou contato durante um dos banhos de sol que Ozzy aprendeu uma técnica que contribuiria em muito para o mito que se formaria em torno de sua imagem anos depois: a tatuagem. Os famosos tatoos que o roqueiro carrega com orgulho até hoje, em seu corpo, são fruto deste aprendizado ainda na prisão, e da doação que este conhecido de Ozzy lhe fez de um pequena agulha e um generoso pedaço de grafite. Com estas "ferramentas", Ozzy se paramentou com os símbolos que, ao longo dos anos, jovens fanáticos por metal do mundo inteiro iriam reproduzir em seus próprios corpos: O-Z-Z-Y nos quatro dedos de sua mão esquerda, a palavra "Obrigado" nas palmas de suas mãos, e o mais curioso e engraçado: "carinhas alegres" nos seus dois joelhos, desenhadas de cabeça para baixo, para que todos os dias de manhã em que ele acordasse em sua cela, segundo o próprio cantor, elas lhe dessem "bom dia".

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E enquanto Ozzy amargava os seus últimos dias em Winson Green, esperando afoitamente pela hora de sair (aquele era só mais um lugar chato dentre tantos de Birmingham, e que logo perdera a graça...), um ex-colega seu da Birmingham Teaching Institute, chamado Frank Anthony Iommi (Tony Iommi), nascido em 19 de fevereiro de 1948 também no condado de Aston, Birmingham, assim como Ozzy, estava às voltas com um velho sonho seu, prestes a se realizar: montar uma banda. Depois de meses superando a dificuldade de, além de ser canhoto, ter que dominar uma guitarra com as pontas de dois dedos de sua mão direita amputadas, – Iommi as perdera durante um malfadado estágio trabalhando em uma máquina de corte de chapas de aço, em uma das inúmeras fábricas da cidade – o rapaz se sentia pronto para, enfim, arregimentar um pessoal e começar a explorar o território do jazz e do rock – dois estilos musicais caros ao guitarrista naquela época. O rock, por seu vigor e energia juvenil: Elvis, Chuck Berry, e toda a nova geração inglesa, que já inspirava os sonhos da maioria dos jovens britânicos de terem suas próprias bandas - os já célebres Beatles, Rolling Stones, The Who, o pessoal de uma cidade industrial vizinha, The Animals (de Newcastle)... E o jazz porque, afinal, durante o longo período em que esteve treinando guitarra, invariavelmente Iommi curtia se perder nas longas viagens experimentais e improvisadas que o gênero acolhe. Para poder fazer bem as posições no braço do instrumento, Iommi adotou uma solução inventiva: pequenos tubos cilíndricos de metal (inicialmente, feitos na própria fábrica onde ele perdera as pontas dos dedos!) no lugar das pontas perdidas – e deu certo.

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Logo, Iommi conheceu o jovem aspirante a baterista William Ward (Bill Ward), nascido em Aston, Birmingham, em 5 de maio de 1948, e, junto a dois outros amigos seus, consegue formar a sua primeira banda, chamada The Rest. Tiveram que ensaiar muito para chegar finalmente ao som pretendido por Iommi, mas, finalmente, após quatro semanas, já tinham um setlist bastante razoável, composto, na sua maioria, por covers de Elvis e Little Richard, – o rockabilly dos anos 50 era o fermento de todas as bandas inglesas da época – e que eram tocadas... com extremo barulho e improvisação!

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Sobre Denio Alves

Denio Alves, natural de Valença-RJ, é crítico, escritor, ensaísta, diletante de poesia, ouvinte e praticante, nas horas vagas, de rock e todas as demais formas de música popular ou de vanguarda que do gênero advenham. Além de técnico em computação, professor de inglês e estudante de Direito, é também pesquisador cultural e artístico das demais mídias de expressão e comunicação, já havendo atuado como colaborador de diversos fanzines na década de 90 do século passado e fundador do célebre veículo alternativo Eram os Deuses Zineastas?. Participou ativamente, em Ituiutaba-MG, onde reside, do processo de formação e criação das bandas de garagem Bloody Garden e Essence, ao lado de Edgar Franco, Gazy Andraus e demais personalidades do underground do Triângulo Mineiro, como guitarrista, vocalista e compositor. Atualmente, participa da concepção de um novo projeto de expressão do RPB - Rock Popular Brasileiro, o Mondo Cane, além de colaborar periodicamente com artigos no site WHIPLASH.
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