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A entrevista de Eddie Van Halen para a revista Guitar Player de abril de 1980

Por André Garcia
Postado em 28 de março de 2022

"Jovem mago do power rock". Assim a edição de abril de 1980 da revista Guitar Player apresentou aquele que era o guitarrista do momento: Eddie Van Halen. Na época, o álbum "Women and Children First" (1980) havia chegado às lojas a poucos dias, e ele, então com apenas 25 anos, foi um dos mais jovens a ser apresentado na capa da publicação.

Confira abaixo a entrevista, onde ele falou sobre sua infância, suas influências, a possibilidade de carreira solo, imitadores, o punk e muito mais. Lembrando que no link da fonte ao final da matéria você pode ler as perguntas mais técnicas, aqui deixadas de fora para não alongar demais.

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Guitar Player: Quando você começou a tocar, quanto tempo dedicava à guitarra?

EVH: Todo dia, o dia todo. Eu costumava matar aula para ir para casa tocar. Eu não queria saber de outra coisa.

GP: Você é autodidata?

EVH: Na guitarra, com certeza. Eu nunca fiz uma aula, exceto uma vez que um amigo me ensinou a fazer pestana. A partir dali aprendi sozinho.

GP: Como você aprendeu a solar sozinho?

EVH: [Imita o solo de Eric Clapton em "Crossroads"] Eu conheço cada nota daquela música, e também de "I'm So Glad" e a versão ao vivo de "Sitting on Top of the World". Eu sabia essas músicas todas.

GP: Você tocava com seu irmão Alex quando estava aprendendo?

EVH: Na verdade, eu comecei tocando bateria. Eu comprei "Wipe Out", do The Surfaris. Eu amava aquela música e falei "Eu vou comprar uma bateria de 125 dólares!". Aí eu comecei a entregar jornal para arrumar o dinheiro — às 5 da manhã, na chuva, com o pneu vazio… Meu irmão estava praticando e ficou melhor que eu. Eu disse: "Pode ficar com a minha bateria".

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GP: Foi aí que você comprou sua primeira guitarra?

EVH: Isso. Foi uma Teisco Del Ray de 70 dólares, com quatro captadores. Antes, pra mim quanto mais captadores tivesse, melhor. E olha pra mim agora: um captador e um potenciômetro!

GP: Seus pais apoiaram sua mudança para a guitarra e o rock?

EVH: Meu pai apoiou, mas minha mãe, não. Mamãe queria nos manter nos Estados Unidos, fora da Holanda, e ela temia que a música me levasse pelo mesmo caminho que meu pai. Até hoje ela acha que isso não vai durar, mas ela tem orgulho.

GP: Eles vão aos seus shows?

EVH: Sim, meu pai chora quando nos vê tocando porque ele ama, é a realização de um sonho: é a tradição musical da família seguindo adiante, assim como o nome dele.

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GP: Quando está no palco, no que você pensa?

EVH: Nada. É como fazer sexo, na verdade. Juro por Deus! É o meu primeiro amor. Já briguei com namorada por causa disso. Eu ia para a casa dela tocar guitarra na cama dela. Ela ficava tipo: "Você gosta mais da guitarra do que de mim". E eu dizia: "Claro que sim! Desculpa, mas é parte de mim."

GP: Quantas vezes por dia você toca guitarra?

EVH: O tempo todo. Às vezes por um minuto, meia hora, o dia todo… (...) Geralmente eu toco antes de dormir, assim que acordo, quando chego em casa, quando estou entediado…

GP: O que você busca em um solo?

EVH: Feeling. Eu não ligo se é espontâneo ou melódico, porque se for melódico e não tiver feeling… não presta!

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GP: Quando a banda está fazendo material novo, você faz a música e a letra?

EVH: Não. Dave escreve a maioria das letras, e eu a música. Eu não me considero um compositor, para começo de conversa. Eu compus músicas no piano, mas elas não são Van Halen. É muito fácil compor no piano: é só pegar uns acordes e espremer a melodia deles. Eu aprendi isso na escola. Quando eu componho na guitarra, sempre começo pelo riff principal. Uma abertura poderosa, verso, refrão, ponte, solo, de volta à ponte, refrão e o final.

GP: Como você decide o que fazer no solo?

EVH: Às vezes é espontâneo, às vezes é definido. Tipo, o solo de "Runnin' With the Devil", já estava definido. Mesma coisa foi "Ain't Talking 'Bout Love". Por definido eu quero dizer algo decidido melodicamente, não é algo que eu tenha que buscar. Quando eu fiz "Ain't Talking 'Bout Love" eu achei que era uma das coisas mais toscas que eu tinha feito na vida. Levei seis meses para mostrar pros caras da banda! Mas a galera pira! Eu gosto do começo, lá menor e sol.

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GP: Que solos foram espontâneos?

EVH: "Ice Cream Man" foi um — foi num take só. O solo de "You Really Got Me" foi totalmente espontâneo. (...) é uma guitarra só, sem overdubs, mas soa completa.

GP: Você repete seus solos toda noite ou muda eles?

EVH: Raramente repito. Às vezes eu lembro como fiz no estúdio e meio que sigo a mesma linha. A não ser que seja um solo melódico, como "Runnin' With the Devil" e "Ain't Talkin' 'Bout Love". Sabe, se eu começar e inventar, a garotada fica tipo "Ei! Não é a mesma música!"

GP: Você parece usar bastante frases com um feeling de blues.

EVH: Sim. Bem, eu comecei tocando blues — o álbum dos the Blues Breakers com Eric Clapton. Eu posso tocar blues muito bem, era em busca daquele feeling que eu estava. Depois eu comecei a fazer algo mais agressivo, usar alavanca… mas ainda tinha aquele feeling. Eu gosto de fraseados, é por isso que sempre gostei do Eric Clapton: é como alguém falando, pergunta e resposta.

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GP: Nos discos, o baixo de Michael Anthony é subjulgado, se comparado ao que você faz. Isso é intencional?

EVH: Sim. Ele é um baixista muito bom. Ele toca baixo. Ele não é Jack Bruce, ele não toca guitarra no baixo. Quando Al e Mike estão tocando, é um mundo aberto para mim. Eu posso fazer o que eu quiser porque eles estão lá para me apoiar, me sustentar. Se fosse Jack Bruce, eu teria que competir com ele. Todo mundo é importante, cada um na sua função.

GP: Quanto tempo levou para gravar "Women and Children First"?

EVH: Nós terminamos as músicas em seis dias, e o álbum todo em oito. Não sei como as pessoas levam mais tempo que isso. Eu diria que gastamos entre 30 e 40 mil dólares.

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GP: Você não incluiu um instrumental em "Women and Children First".

EVH: Não. Pra quê? Talvez mais tarde se eu tiver algo totalmente diferente. "Eruption" foi o primeiro, e no segundo eu fiz estilo flamenco em "Spanish Fly", mas ainda é meio que a mesma coisa. O que eu poderia fazer dessa vez? Eu não quis fazer um só por fazer.

GP: Você já pensou em gravar um disco solo?

EVH: Eu nunca gravaria um, a não ser que fosse daqui a anos. Toda minha energia está no Van Halen, que é minha família, e eu não vou deixá-la enquanto ela estiver unida. Mesmo assim, eu tenho um monte de músicas que ainda não fizemos. Se eu fosse fazer um disco solo, algo que não vejo acontecendo num futuro próximo, eu teria muitas ideias.

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GP: Assistir outros guitarristas já te inspirou a mudar seu estilo de tocar?

EVH: Allan Holdsworth — aquele cara é sinistro! Ele é fantástico. Eu amo ele! (...) Ele usa a guitarra lá em cima, como um músico de jazz. Eu poderia tocar daquele jeito também se usasse a guitarra como ele, mas não rola para um roqueiro. Eu tenho que sacrificar meu movimento no palco pela forma que eu toco. Eu prefiro bem mais tocar sentado num banco, mas eu não o faço, nem no estúdio, porque soaria como se eu estivesse sentado.

GP: Então o movimento do seu corpo está realmente ligado a como você toca?

EVH: Com Certeza. Eu jamais conseguiria ser igual. Eu não tenho passos coreografados em momento nenhum da música. Eu vou pra onde eu quiser, e faço o que me der na telha.

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GP: Há outros músicos que você goste de ouvir?

EVH: Randy Hansen toca muito! (...) Rick Nielsen é muito engraçado, eu adoro aquele cara. Eles [Cheap Trick] são os comediantes do rock and roll, assim como o Kiss é o circo do rock and roll. Eu acho que estamos fazendo sucesso porque somos uma das poucas bandas de verdade por aí. Nós não somos punks, não usamos roupas engraçadas, fazemos boa música… pelo menos eu acho! Metade dos críticos nos rotulam como heavy metal. Me diz uma banda de metal que tenha feito o que nós fazemos. Posso estar soando convencido, mas não é minha intenção. Não estou dizendo que tudo que eu faço é genial… mas tampouco é o punk! Punk é como o que eu costumava fazer na garagem.

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GP: O que você sente quando ouve outros guitarristas usando seus licks?

EVH: Costumam dizer que imitação é a melhor forma de elogio. Eu acho isso uma palhaçada. Eu não gosto de gente que faz as coisas exatamente como eu. O solo de "Eruption" é algo que eu nunca tinha ouvido nada parecido antes, mas eu sei que as pessoas já tiraram. O que eu não gosto é quando alguém usa algo que eu fiz ao invés de criar algo com base no que eu fiz. Eles pegam minhas paradas, pegam minha melodia… Eu aprendi com Clapton, Page, Hendrix e Beck, mas eu não toco como eles. Alguns desses caras estão usando minhas coisas, o que já é outra história.

GP: Quais são as maiores desvantagens da vida de rockstar?

EVH: A desvantagem de ser um rockstar é que sua vida privada deixa de existir… mas sua vida sexual melhora! E você tem que dar entrevistas. Eu odeio dar entrevistas.

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GP: Por quê?

EVH: Porque sempre me ferram! Não sinto que eu tenha algo a dizer, porque se eu disser o que sentir vontade, eles vão distorcer e fazer parecer que sou um ególatra, que me acho Deus. (...) Eu dei uma entrevista uma vez e disse que minha maior influência era Eric Clapton (...) [que] eu peguei aquele feeling bluseiro de Eric Clapton, por mais que eu não toque ou soe como ele. (...) Aí quando eu vou ler, eles fazem parecer que eu não gosto de Eric Clapton e sou melhor que todo mundo. (...) A questão é que a garotada só me conhece pelo que lê sobre mim. Me dá vontade de sair batendo de porta em porta dizendo que eu não sou daquele jeito. O pessoal acredita.

GP: Como você se imagina daqui a 30 anos?

EVH: Fazendo o mesmo que estou fazendo agora. É isso o que eu quero. Não sei o que vai ser do futuro. Talvez algum integrante da banda se deixe levar pelo ego e saia, ou algo assim… mas eu adoraria que Van Halen fosse eterno. Se não for, eu sei que posso tocar guitarra em outro lugar, porque recebo convites de todo canto (...) e eu digo que não, que Van Halen é minha família. Eu não vou lavar a louça dos outros. Já me basta lavar a louça do Van Halen.

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Fonte:
http://www.vhlinks.com/pages/interviews/evh/gp0480.php

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Sobre André Garcia

Sou redator e tradutor freelancer e escritor, autor do livro de contos Liber IMP. Ouço rock desde pequeno, leio coisas sobre bandas desde sempre e escrevo sobre ela já tem anos. Cresci como fã de Iron Maiden e paladino do rock, mas já me tratei. Hoje sou fã de nomes como Beatles, David Bowie, The Cure, Kraftwerk e Velvet Underground, e de cenas como a Londres psicodélica, a Nova Iorque proto-punk e a Manchester pós-punk. Escrevo notas e notícias rápidas para o Whiplash.Net visando compartilhar conteúdo relevante sobre música e cultura pop.
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