Rock And Roll Circus: 52 anos de uma histórica reunião
Por José Luis Moreira
Postado em 21 de agosto de 2020
No ano de 1968, o mundo ainda vivia os horrores da guerra do Vietnã, que se estenderia por mais sete anos. A contracultura ainda se fazia presente na Europa e nos EUA, principalmente. O mundo fervia de conflitos políticos, ideológicos e sociais, que acabaram por provocar profundas mudanças, no comportamento dos jovens e no meio artístico de forma geral. E, a exemplo do ano anterior, foi a música, especificamente com o rock and roll, que melhor representou todo este movimento nos quatro cantos do mundo.
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Álbuns de rock importantes foram lançados neste ano. Os Rolling Stones lançam o seu quarto álbum, Beggars’ Banquet; o Jethro Tull entra no mercado musical com o seu primeiro álbum, This Was; Eric Clapton, com seu trio Cream, lança Wells of Fire; os Beatles lançam o White Album, primeiro álbum duplo do grupo, e Pete Townshend, do The Who, escrevia sua ópera rock Tommy, que seria lançada em 1969.
Eis que, no dia 11 de dezembro deste mesmo ano, os Rolling Stones resolvem fazer um show para promover seu álbum mais recente: algo inusitado, debaixo de uma lona, com picadeiro, artistas circenses e tudo o que representa um autêntico espetáculo de circo. Para começar, nada menos que a entrada triunfante de Jagger, seguida de uma banda com características circenses em que Keith Richards e Bill Wimann empunham cada um uma trompa, Brian Jones, uma flauta transversal, Charles Watts, pratos, John Lennon, um pomposo trompete, Eric Clapton, saxofone e Keith Moon, um trombone de vara. Pronto, acabara de entrar ao picadeiro uma "autêntica" banda circense.
Jagger não perde tempo e apresenta a primeira atração. Ian Anderson e seu Jethro Tull entram no picadeiro com uma música que, depois, se tornaria um clássico, "Song For Jeffrey". A banda foi formada exclusivamente para este espetáculo, com Anderson (vocal e sua flauta mágica), Glenn Cornick (baixo), Clive Bunker (bateria) e um dos futuros cofundadores do Black Sabbath e, consequentemente, do Heavy Metal, Tony Iommi na guitarra.
A seguir, Keith Richards chama o The Who, que, curiosamente, toca com a energia de sempre, porém, sem destruir seus instrumentos. Roger Daltrey (voz), Pete Townshend (guitarra, braço giratório e saltos mirabolantes), John Entwistle (baixo) e Keith Monn (virando sua bateria do avesso) – sim, Keith Moon foi um dos cinco maiores bateristas da história do rock – se apresentam brilhantemente com seus sucessos "A Quick One (While He’s Away)" do álbum homônimo e "Over The Waves", música do compositor Juventino Rosas. Em seguida, com um breve intervalo musical, um casal de verdadeiros artistas circenses apresenta suas habilidades artísticas.
Terminado o espetáculo, o multi-instrumentista e bluesman Taj Mahal e seu grupo formado por Jesse Ed Davis (guitarra), Gary Gilmore (baixo) e Chuck Blackwell (bateria) mandam ver, arrancando muitos aplausos do público com a dançante "Ain’t a That of Love".
No meio da plateia, o tímido Charlie Watts apresenta a próxima atração: Marianne Faithfull, cantora e companheira de Jagger até então, que participou, a convite dos Beatles, do coro na gravação de "All You Need Is Love", de 1967. Marianne, com sua voz doce, contemplou o público com a bela balada "Something Better".
Richards volta ao picadeiro e apresenta mais dois artistas, o engolidor de fogo e sua assistente, o que me remete ao tempo em que, na mesma época, eu também frequentava o circo. Logo depois, entra o supergrupo Dirty Mac, que, acreditem, foi formado por Clapton (guitarra), Lennon (guitarra rítmica), Richards (baixo) e Mitch Mitchell, o baterista do emblemático Jimi Hendrix. Eles tocam "Yer Blues", música de Lennon. Após essa apresentação ímpar, Yoko Ono sobe ao palco acompanhada do violinista Ivry Gitlis, e se juntam ao grupo. Aos gritos, ela canta "Wole Lota Yoko", de sua autoria (não poderia ser de outro autor).
Para finalizar este grande espetáculo "circense", os anfitriões da casa começam sua apresentação com os hits "Jumping Jack Flash", "Parachute Woman", "No Expectations", "You Can’t Always Get What You Want", a inquietante "Sympathy For The Devil", finalizando com "Salt Of The Earth" através de um playback, uma vez que o grupo canta sentado junto à plateia.
Este show é uma obra que foi lançada tardiamente (1996) no formato DVD pela Abcko Films, isso porque Jagger, à época, não havia ficado nem um pouco satisfeito com o desempenho da banda, principalmente pela fraca atuação de Brian Jones. Essa foi, inclusive, sua última aparição pública com a banda. Meses depois, em 8 de junho de 1969, Jones foi desligado do grupo e, dias depois, foi encontrado morto em sua piscina.
Quando eu tinha os meus 10/11 anos, o rock se fazia presente na minha vida com os Beatles, nas versões de Renato Barros – falecido recentemente – com o seu Renato e seus Blue Caps, Ronnie Von e suas versões de "Girl" e "Norwegian Wood", os Byrds, Bob Dylan, Johnny Rivers e tantos outros nomes da época. Mas foi com esses maravilhosos supergrupos que o rock and roll passou a circular em minhas veias. E foi exatamente no ano de 1968 que meu pai me pôs para trabalhar, pois eu não gostava de estudar, e sim tocar "Born To Be Wild" no meu órgão Diatron recém-adquirido com um salário inteiro. Tudo que ganhava era gasto em compactos simples, duplos e LPs, unicamente de rock and roll. Que roupa, que nada! E foi assim que, aos 16, já tinha uma discoteca básica bem razoável, com Beatles, Stones, Jethro Tull, Eric Clapton, The Who e tantas outras bandas que surgiram ao passar dos anos. Ao me deparar com este show, creio que nos anos 2000, tive a sensação de reviver todos esses momentos marcantes na minha vida de roqueiro.
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