Jim Morrison: lagarto compositor de Venice Beach
Por Fotoboard Tramparia
Fonte: Jim Morrison - Jerry Hopkins
Postado em 12 de maio de 2018
Quando vou ao litoral, além de bodyboardear e pedir a benção para Iemanjá (a rainha dos mares), procuro alimentar a alma com a sonoridade e o ar praiano. Todo esse ritual serve de inspiração para congelar a Mãe Natureza através da arte de fotografar.
Há 50 anos, JIM MORRISON fazia o mesmo em Venice Beach, na Califórnia, mas ao invés da câmera fotográfica, ele usava apenas lápis, papel e muita imaginação.
MR. MOJO RISING era capaz de descrever o que acabara de presenciar, transformando toda aquela cena em poemas psicodélicos, que mais tarde se tornaria numa bela música composta pelo THE DOORS.
Conheça como foram escritas algumas canções do THE DOORS, no trecho retirado do livro "JIM MORRISON Ninguém Sai Vivo Daqui", do autor Jerry Hopkins e do porta-voz e representante da banda Danny Sugerman.
Era 1965, três anos antes do mundo ouvir "Hello, I love you", JIM estava sentado em Venice, na areia da praia, observando uma jovem, alta e magra garota negra se insinuando para ele.
"Sidewalk crouches at her feet (A calçada agacha a seus pés)
Like a dog that begs for something sweet (Como um cão que implora por algo doce)
Do you hope to make her see, you fool? (Você tem esperança de fazê-la ver, seu tolo?)
Do you hope to pluck this dusky jewel?" (Você tem esperança de pegar furtivamente esta joia sombria?)
Para "End of the Night", ele tirou sua inspiração de um romance do apologista ao nazismo e pessimista adamantino, o francês Louis-Ferdinand Céline, Viagem ao fim da noite: "Pegue a estrada até o final da noite..." "Take the higway to the end of the night".
Uma terceira canção, "Soul Kitchen", foi dedicada ao Olivia's, um pequeno restaurante de soul food, perto da arcada de Venice, onde Jim podia comer um grande prato de costelas, feijão e pão de milho por 85 centavos e um jantar com bife por US$1,25.
Uma outra, "My eyes have seen you", incluía uma descrição de todas as antenas de TV que JIM via de seu terraço: "Contemplando uma cidade sob céu de televisões..." "Gazing on a city under television skyes...".
Por mais óbvia que fosse a inspiração para estas canções, elas não eram comuns. Mesmo as mais simples delas tinham um toque enigmático e visionário, um ritmo uma linha ou uma imagem que dava aos versos uma força peculiar.
Como quando inseriu a frase "Os rostos parecem feios quando você está sozinho" "Faces look ulgly when you're alone" em "People are strange". E na música sobre o Olivia's havia este verso:
Seus dedos tecem rápido minaretes / Falando alfabetos secretos / Acendo mais um cigarro / Aprenda a esquecer, aprenda a esquecer, aprenda a esquecer. "Your fingers weave quick minarets / Speaking secret alphabets / I light another cigarrete / Learn to forget, learn to forget."
Estes primeiros poemas-música eram recheados com a escuridão pela qual JIM se sentia tão atraído, que sentia como se fosse parte dele.
Visões de morte e insanidade eram expressas assustadoramente, com compulsão. Em uma, que mais tarde se tornou parte de uma obra maior, "The Celebration of the Lizard", JIM escreveu:
Certa vez eu criei um pequeno jogo / eu gostava de voltar para dentro da minha mente / Acho que você conhece o jogo do qual estou falando / Eu quero dizer, o jogo chamado enlouquecer. "Once I had a little game / I liked to crawl back in my brain / I think you know the game I mean / I mean the game called go insane".
Em "Moonlight Drive", uma canção de amor que poderia ser agradável, com imagens abundantes e tão fortes que agia sobre os sentidos mais como uma pintura do que como um poema, JIM escreveu um final surpreendente:
Vamos lá, querida, vamos dar uma volta / Até, até a praia / Se formos, vamos bem juntos / Querida, vamos nos afogar esta noite / Vamos descer, descer, descer, descer...
"Come on, baby, gonna take a little ride / Down, down to the ocean side / If we go, get real tight / Baby gonna drown tonight / Go down, down, down, down...
Depois de escrever estas letras, JIM disse:
- Eu tenho que cantá-las.
Em agosto, teve sua oportunidade quando encontrou Ray Manzarek andando pela praia de Venice.
- Ei, cara!
- Ei, RAY, como você está?
- Estou bem. Pensei que você tivesse ido para Nova York.
- Não, eu fiquei aqui. Morando de vez em quando com Dennis. Escrevendo.
- Escrevendo? O que você está escrevendo?
- Oh, não muito - disse JIM. - Apenas algumas letras.
- Letras? - perguntou RAY. - Vamos ouvi-las.
JIM agachou-se na areia e RAY se ajoelhou em frente a ele. Jim se equilibrou com uma mão de cada lado, apertando a areia por entre os dedos, os olhos bem fechados. Escolheu o primeiro verso de "Moonlight Drive". As palavras saíam lentas e cuidadosas.
Vamos nadar até a lua, uh huh / Vamos escalar a maré / Penetrar na noite / Que a cidade dorme para esconder...
"Let swim to the moon / uh huh / Let's climb through the tide / Penetrate the evenin' that the / City sleeps to hide."
Quando ele terminou, RAY disse:
- Esta é a melhor letra de música que eu já ouvi. Vamos começar uma banda de rock e ganha um milhão de dólares.
- Exatamente - respondeu JIM. - Isso é o que eu tinha em mente o tempo todo.
Essa matéria faz parte da categoria Trecharias BioRockers no Portalblog Misterial.
Faixa 9: End Of The Night | Álbum: Strange Days (1967) | THE DOORS | Gravadora: Elektra Records | Produtor: Paul A. Rotchild.
Foto por Fotoboard Tramparia para o Portalblog Misterial
Contracapa da biografia de JIM MORRISON - Ninguém Sai Vivo Daqui. O livro foi a principal fonte utilizada pelo cineasta Oliver Stone, para realizar o filme da história do THE DOORS, em 1991, onde o ator Val Kilmer interpretou JIM MORRISON.
Faixa 6: Moonlight Drive | Álbum: Strange Days (1967) | THE DOORS | Gravadora: Elektra Records | Produtor: Paul A. Rotchild
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