Exodus e Anthrax: Ruindo o Muro ao som do metal
Por Jefferson Alexandre da Silva
Postado em 10 de abril de 2017
Originalmente publicada em thethrashpit.blogspot.com.br.
Um marco na história mundial, e mais sensivelmente, na história recente do século XX, a queda do muro de Berlim, que teve seus primeiros tijolos retirados em 9 de novembro de 1989, impactou toda uma geração que cresceu em um mundo nitidamente divido pela Guerra Fria.
Como qualquer representação artística, a música não é descolada de sua realidade histórica, muito pelo contrário, ela traz elementos representativos de um momento da humanidade. Com certeza esse gigantesco acontecimento foi representado – não necessariamente da mesma maneira - por músicas da cena do heavy metal e, especificamente nesse artigo, no thrash metal nos inícios dos anos 1990.
Com 10 anos na estrada EXODUS e ANTHRAX configuravam-se como ícones do autêntico e clássico thrash metal quando o muro veio a baixo, a primeira advinda da "mitológica" bay area na Califórnia e a segunda de New York.
Nesse ano essas bandas lançaram, respectivamente, Impact is Imminent (21/07/1990) e Persistence of Time (21/08/1990) que, além de excelentes músicas abordando diversos temas como violência, vida na estrada, etc., não poderiam deixar de dedicar uma faixa para retratar esse acontecimento histórico. Changing of the Guard (EXODUS) e One Man Stands (ANTHRAX) foram as músicas escolhidas pelas bandas.
A faixa do EXODUS prima pelo lado político que o fim da Alemanha Oriental representava para o mundo. Assim, os thrashers da bay area apresentam um mundo dominado por um ditador avarento que divide somente com sua esposa as riquezas e benesses da vida. No entanto, a "mesa virou" e "a revolução tirou o rei do seu trono", acabando com a tirania ao executar o antigo governante. Para eles o mundo clama por democracia e já passou do tempo de transformar o comunismo nessa forma de governo, sendo impossível conter essa força que irá acabar com a divisão do mundo, até porque a "liberdade é contagiosa e está se espalhando" por ele. A queda do muro significa o fim das divisões entre os seres humanos e ela foi alcançada pelo sacrifício de muitos que tentaram, sem sucesso, atravessar suas paredes. Ela é, portanto, uma conquista do povo.
Dessa maneira, a representação apresentada pela música do EXODUS é que foi pela conquista de povo que o muro ruiu, sendo aberta a democracia e liberdade para eles, no qual as divisões já não existem mais. O discurso então é direcionado para uma nova forma de organização política baseado na liberdade dos indivíduos.
Por outro lado, a música do ANTHRAX tem um tom mais festivo que político, talvez pela característica humorística da banda, é uma comemoração ao fato do "inimigo estar morto". Ele estava escondido da verdade do mundo – atrás dos muros - até que esse foi demolido e o direito humano a liberdade foi, enfim, tornado livre. O que é necessário agora é destruir os ícones das "ideias retrogradas", pois agora "a ovelha não teme o lobo, mas ela pega o que quer".
Assim como na música anterior, essa liberdade é uma conquista, mas não é especificado uma conquista de quem, pois o agente dessa ação é chamado de "um homem que fica em pé". Assim, o mesmo pode ser interpretado como a associação genérica chamada povo ou ao próprio Estados Unidos.
Sempre sensíveis aos temas contemporâneos, o thrash metal, representado aqui por essas duas bandas, contribuíram com a sua visão para esse importante acontecimento.
Vale a pena ouvir essas músicas tendo em mente o mundo da época em que ela foi feita.
Abaixo as músicas dessa resenha:
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