Trivium: discografia comentada da banda norte-americana
Por Ricardo Seelig
Fonte: Collectors Room
Postado em 28 de fevereiro de 2016
Uma das melhores bandas do metal contemporâneo, o Trivium foi formado em 2000 na cidade de Orlando, na Flórida. Desde o início, o grupo tinha como objetivo produzir uma música que unisse elementos do metalcore, death melódico e thrash metal, a tríplice coroa que forma a identidade única do seu som. A formação inicial do quarteto contava com Brad Lewster (vocal), Matt Heafy (guitarra), Brent Young (baixo) e Travis Smith (bateria). Lewster, no entanto, deixou o grupo após alguns shows e seu posto foi assumiu por Heafy, que acumulou também a função de guitarrista.
Talhada na estrada e forjada nos shows, a banda aprimorou a sua sonoridade e gravou em 2003 um EP auto-intitulado contendo sete faixas. Este disco, lançado de forma independente, chegou aos ouvidos da gravadora alemã Lifeforce, que decidiu apostar no grupo e assinou com os americanos. O Trivium entrou então em estúdio e saiu de lá com "Ember to Inferno", seu primeiro disco.
Em 2004, já com um disco na bagagem, o Trivium adicionou um segundo guitarrista, Corey Beaulieu, e, logo depois, substituiu o baixista Brent Young por Paolo Gregoletto. Com o line-up estabilizado, a banda escalou a passos largos a hierarquia do heavy metal, lançando discos aclamados que colocaram seu nome em evidência em todo o planeta.
Com uma discografia sólida e consistente, o Trivium já lançou sete álbuns de estúdio, além de diversos singles e clipes. Abaixo apresentamos todos os discos da banda, com comentários sobre cada um deles.
Ember to Inferno (2003)
O primeiro álbum do Trivium foi lançado pela Lifeforce em 14 de outubro de 2003. Com canções que alternam trechos mais agressivos com passagens onde a melodia é a protagonista, o embrião da sonoridade da banda está aqui. Uma das primeiras produções assinadas pelo hoje requisitado Jason Suecof (que nos anos seguintes seria o responsável por álbuns de nomes como Chimaira, DevilDriver, The Black Dahlia Murder, All That Remains e Job For a Cowboy, entre muitos outros), "Ember to Inferno" é claramente inferior e menos maduro que os discos posteriores, mas possui as suas qualidades. Canções como "If I Could Collapse the Masses", "Fugue (A Revelation)" e "Requiem" antecipam o caminho que a banda seguiria nos anos seguintes e apresentam frescor e energia. Bastante influenciado pelo Metallica dos primeiros anos, "Ember to Inferno" foi gravado quando os integrantes do Trivium eram bastante novos - Heafy tinha apenas 17 anos de idade e já impressionava pela sua performance - e reflete essa juventude em suas dozes faixas. Trata-se de um trabalho sincero e interessante, que apresentou uma sonoridade singular e que seria aprimorada nos anos seguintes.
Ascendancy (2005)
Com o profético título de "Ascendancy", o segundo álbum do Trivium foi o responsável por colocar os holofotes do cenário metálico sobre o quarteto norte-americano. Estreia do grupo pela Roadrunner, o disco chegou às lojas em 15 de março de 2005, foi produzido por Matt Heafy e Jason Suecof e marcou a estreia da formação que levaria a banda ao topo: Heavy, Beaulieu, Gregoletto e Smith. A evolução em relação à estreia é atordoante, com composições que mostram o grupo a milhas de distância do disco de 2003. Aqui, a união de características de metal tradicional com a agressividade de estilos como o thrash e o death faz emergir uma música vigorosa e ao mesmo tempo acessível, que cativou multidões em todo o planeta. Assinando todas as doze faixas, Matt Heafy consolidou em "Ascendancy" o domínio sobre o caminho criativo da banda, e mostrou estar no caminho certo. Outro fator digno de menção é a força da parceria de Matt com Corey Beaulieu, responsável não apenas pelas excelentes guitarras que ouvimos em todo o álbum, mas também pelo início de uma relação que seria uma das forças matrizes do quarteto - Beaulieu é co-autor de seis das doze canções. Entre as faixas, destaque para "Rain", "Pull Harder on the Strings of Your Martyr", "Drowned and Torn Asunder", "Like Light to the Flies", "The Deceived", "Declaration" e "A Gunshot to the Head of Trepidation". O alto nível geral faz até uma faixa mediana como "Dying in Your Arms", gravada claramente com o objetivo de se tornar um hit, passar batida. Estima-se que "Ascendancy" já tenha vendido mais de 500 mil cópias desde o seu lançamento, e o disco se tornou um dos prediletos da legião de fãs do grupo. A imprensa também caiu de quatro pela banda, com a Kerrang! elegendo o trabalho o melhor de 2005 e a Metal Hammer colocando o álbum na sexta posição em sua lista de final de ano. "Ascendancy" foi lançado também em duas edições especiais, ambas disponibilizadas pela Roadrunner em 2006. A mais simples vem com três faixas bônus - "Blinding Tears Will Break the Skies", "Washing Me Away in the Tides" e uma versão para "Master of Puppets", do Metallica -, enquanto a dupla, que ganhou o adendo Special Edition e uma capa diferente da original, traz um DVD bônus com clipes e o vídeo "Live at the London Astoria". A tour do trabalho contou com shows no Ozzfest e no Download Festival, eventos que foram vitais para tornar o grupo mais conhecido. Um dos discos mais emblemáticos e importantes do metal dos anos 2000, "Ascendancy" é item obrigatório na coleção de todo e qualquer metalhead.
The Crusade (2006)
Um ano e meio após "Ascendancy" e já carregando no peito o status de uma das melhores novas bandas do cenário metálico, o Trivium soltou ""The Crusade" no dia 10 de outubro de 2006. Mais uma vez trabalhando com Jason Suecof e co-produzido pela própria banda, o álbum traz treze faixas que mantém o mesmo nível do trabalho anterior, quando não soam superiores a ele. "The Crusade" foi o primeiro CD do Trivium a ser lançado no Brasil, e pessoalmente gosto mais dele do que de "Ascendancy", pois as faixas deste disco me parecem mais bem resolvidas. Tudo está no lugar certo, em canções que trazem grandes riffs, linhas vocais cativantes, refrãos para cantar junto e melodias de guitarra que grudam de imediato na cabeça. Entre os destaques estão "Ignition", "Detonation", "Entrance of the Conflagration", "Unrepentant", "Becoming the Dragon", "To the Rats" (uma das faixas mais velozes da carreira do grupo) e "Contempt Breeds Contamination", além da sensacional faixa-título, uma jóia instrumental que desfila riffs em mais de oito minutos de uma overdose guitarrística. Ao lado das guitarras, o principal destaque do álbum é a bateria de Travis Smith, com viradas sensacionais, e também os vocais de Matt, que aqui inseriu o timbre limpo de sua voz ao lado dos já conhecidos guturais. O grupo experimenta novos caminhos em canções como "And Sadness Will Sear", que troca a avalanche de melodia por riffs mais sincopados, e em "The Rising", com guitarras que flertam abertamente com o festeiro hard californiano. "The Crusade" teve boa performance comercial, atingindo número expressivo de vendas nos Estados Unidos, Austrália, Canadá, Alemanha, Irlanda e na Inglaterra, onde alcançou a sétima posição nas paradas. A imprensa elogiou bastante o álbum, que ganhou nota 9 na Metal Hammer e na Total Guitar e um 3,5 de 5 na Rolling Stone. Aliás, a Metal Hammer deu ao disco a nona posição em sua lista de melhores de 2005. A turnê levou o grupo a abrir shows do Iron Maiden e do Metallica, além de excursionar junto com Machine Head, Arch Enemy, DragonForce e Shadows Fall na turnê Black Crusade.
Shogun (2008)
Lançado em 30 de setembro de 2008, Shogun é o ápice da primeira fase da carreira do Trivium. Aqui, todos os elementos que formam a sonoridade particular da banda convergem de maneira perfeita em algumas das melhores composições do grupo. Produzido por Nick Raskulinecz (Foo Fighters, Stone Sour, Rush) e pela própria banda, Shogun traz onze faixas contundentes. Assim como havia feito em "The Crusader", Heafy alterna vocais guturais e passagens onde canta com a sua voz limpa, criando contrastes interessantes. Os destaques estão em "Kirisute Gomen", "Torn Between Scylla and Charybdis", o banho de melodia de "Into the Mouth of Hell We March", "Throes of Perdition", "Like Callisto to a Star in Heaven" e a estupenda faixa-título, um heavy metal esplêndido que beira os doze minutos de duração. O álbum foi muito bem nas paradas, chegando ao número 1 no Reino Unido, 4 na Austrália e no Canadá, 6 no Japão e na posição 23 da Billboard, além de ser top 100 em 18 países. Na crítica especializada, 4 de 5 estrelas por Chad Bower no About.com, 4,5 de 5 no AllMusic e 4 de 5 no Metal Sucks, além da 11ª posição nos melhores do ano da Metal Hammer. A turnê durou até 2009, com o grupo rodando os Estados Unidos duas vezes com bandas como Chimaira, Darkest Hour, Black Tide e Rise to Remain abriram seus shows, e tocando em festivais como o Mayhem. Ainda em 2008 o álbum ganhou uma edição especial dupla com capa diferente da original incluindo três faixas bônus - "Poison, the Knife or the Noose", "Upon the Shores" e o cover da clássica "Iron Maiden", de vocês sabem quem, além de um DVD bônus com o making of do trabalho.
In Waves (2011)
Apesar do sempre crescente reconhecimento e sucesso, o Trivium enfrentou alguns problemas na turnê de "Shogun", questões essas que levaram à saída do baterista e fundador Travis Smith em outubro de 2009. Nick Augusto, técnico de bateria de Smith, foi escolhido como substituto e deu sequência à tour. Além da mudança na formação, o grupo alterou também o seu produtor, escolhendo Colin Richardson (Behemoth, Carcass, DevilDriver) para produzir o seu quinto disco. Lançado em 2 de agosto de 2011, "In Waves" é, na minha opinião, o melhor álbum de toda a carreira do Trivium. Amenizando um pouco as melodias e apostando em riffs curtos e sincopados, o grupo gravou um disco que se tornou rapidamente uma das referências do metal moderno. A banda soa mais pesada e agressiva, características que tornaram a sua música ainda mais eficiente. Puxado pela faixa-título e primeiro single, "In Waves" dividiu a crítica, que rachou a opinião em relação ao álbum entre reviews positivos (4/5 no AllMusic, 4/5 na Kerrang!, 4/5 no Loudwire, 8/10 na Q Magazine) e outros nem tanto (2/5 no The Guardian, 4/10 no PopMatters, 3/5 na Revolver). A mesma divisão pode ser percebida entre os fãs, com uma parcela não aceitando de bom grado as mudanças na sonoridade. No entanto, a negativa reação inicial se mostrou exagerada, uma vez que o álbum renovou a música do quarteto e foi, com o tempo, apagando qualquer sinal de não aceitação. As faixas são muito fortes, com destaque para "In Waves", "Inception of the End", "Watch the World Burn", "Black", "Buil" to Fall" e "Forsake Not the Dream". O disco chegou à primeira posição na parada de Hard Rock da Billboard, foi número 6 no Japão, 8 na Alemanha e 13 no Billboard 200. Na lista de melhores do ano da Metal Hammer, alcançou a posição número 27. A turnê levou a banda para todo o mundo - inclusive o Brasil - e os shows contaram com a abertura de nomes como Ghost, Rise to Remain, Kyng e Veil of Maya, além de uma tour como co-headliner com o In Flames e participações nos festivais Metaltown, Download e Wacken. "In Waves" possui uma edição especial com cinco faixas extras - "Ensnare the Sun", "Drowning in Slow Motion", "A Grey So Dark", "Shattering the Skies Above" e o cover de "Slave New World", do Sepultura - e um DVD bônus com documentário sobre a produção, clipes e performance ao vivo no estúdio.
Vengeance Falls (2013)
Lançado em 15 de outubro de 2013, o sexto álbum do Trivium teve produção de David Draiman, vocalista do Disturbed, e o seu toque foi sentido com clareza no resultado final, inclusive com alguns fãs e críticos afirmando que certas composições soavam demasiadamente semelhantes à banda de Draiman. Conclusão equivocada e apressada no meu modo de ver, já que "Vengeance Falls" trouxe o Trivium seguindo firme em sua evolução. Em relação a "In Waves", há um retorno à sonoridade que consagrou a banda, com uma quantidade maior de elementos que remetem à discos com "Ascendancy" e "The Crusade" mesclados ao caminho mostrado no álbum de 2011. Mais uma vez e como sempre, há grandes composições repletas de refrãos que encaixam de imediato, como é o caso de "Brave This Storm", "Vengeance Falls", a ótima "Strife", "At the End of This War", "No Way to Heal", "Through Blood and Dirt and Bone", "No Hope for the Human Race" e "As I Am Exploding". Recebido de braços abertos pela crítica, "Vengeance Falls" ganhou um 8 da Metal Hammer, 4 de 5 estrelas no The Guardian e nota 7 na Classic Rock Magazine. Comercialmente, o álbum alcançou a segunda posição no Japão, a oitava na Austrália e ficou com o décimo-quinto posto no Billboard 200. A turnê levou a banda por todo o mundo, tocando ao lado de nomes como DevilDriver, Sylosis e After the Burial.
Silence in the Snow (2015)
Sétimo e mais recente álbum da banda, "Silence is the Snow"" saiu em 2 de outubro de 2015 e mais uma vez trouxe o Trivium mudando a direção de sua música. Mais uma troca na bateria, com Mat Madiro assumindo o lugar de Nick Augusto. A alteração mais sentida foi a ausência de vocais guturais, substituídos em sua totalidade pela voz limpa de Matt Heafy. Essa característica deixou a música menos agressiva e mais agradável para uma parcela maior do público, fato que levou alguns veículos norte-americanos a classificarem "Silence is the Snow" como o "Black Album" do Trivium. Exageros à parte, superado o choque inicial o que se tem são onze canções sólidas e que mostram a banda dando mais um passo na evolução de sua música. O disco foi muito bem recebido pela crítica, com o jornal inglês The Guardian profetizando que, se mantiver a pegada apresentada no álbum, o trabalho será lembrado como o momento em que o Trivium assegurou o seu status como uma das grandes bandas do metal moderno. Nas paradas as coisas também foram muito bem, como o disco ficando na terceira posição do chart de rock da Billboard.
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