Ceará: referência nordestina do Metal (Final)

Os tempestivos anos noventa trouxeram um saldo muito positivo para o cenário underground de Fortaleza. Abriam-se mais espaços à medida que mais bandas iam surgindo, porém o crescimento artístico do Metal chegou a uma proporção que passados os cinco primeiros anos da década houve a necessidade de se criar um centro de apoio para tantos grupos. Tendo esse pensamento como uma das bases, o mestre em ‘Políticas Públicas’ AMAUDSON XIMENES, mais conhecido na cena do Metal brasileiro como guitarrista do OBSKURE, traçou um estudo no sentido de abrigar as idéias e o comportamento da geração roqueira da cidade enquanto cultura. Surgiu então a ACR (Associação Cultural Cearense do Rock).

A própria ACR em documento enviado por seu presidente, Amaudson, define as suas atividades: "Fundada em agosto de 1998, a Associação Cultural Cearense do Rock (ACR) é uma entidade civil sem fins lucrativos, idealizada por jovens integrantes de bandas locais, com o objetivo de promover o rock enquanto um elemento de música, comportamento e transformação".

"Considerando o rock como um estilo de vida, a ACR agrega em suas ações valores ligados ao conceito de uma juventude em movimento, preocupando-se em fortalecer a formação política e cultural do jovem e estabelecendo a mobilização solidária como componente essencial em suas realizações, centradas na idéia de uma cultura da paz como forma de negar os estereótipos de violência associados a esse estilo musical".

Desde então a associação vem executando trabalhos que extrapolam as próprias idéias agindo dentro da sociedade fazendo do Rock em sim, um meio não apenas de diversão, mas também de educação. Os projetos variam, como: ‘Ponto de Cultura ABC Digital’ voltado para a criança e adolescente, visando à alfabetização e inclusão digital. Em 2010 esse projeto teve extensão também no município de Maracanaú, região metropolitana da capital; no aniversário de dez anos da entidade foi criado o projeto ‘Roc.Doc’ que trabalhou o jovem para o campo audiovisual no desenvolvimento de documentários e videoclipes ligados à música, resultando e revelando dezenas de registros do talento cearense. Ainda houve duas publicações escritas por Amaudson em parceria com o Doutor em História Social Francisco José Gomes Damasceno: ‘Experiências Musicais’, editora EDUECE – uma coletânea extraída do seminário nacional de mesmo nome realizado por pesquisadores das universidades estadual e federal do Ceará e da própria ACR. ‘Forcaos’, editora EDUECE – conjunto de artigos relacionados ao interesse musical com base em pesquisas realizadas em quatro cidades nordestinas diferentes: ‘Fortaleza’ (CE), ‘Juazeiro do Norte’ (CE), ‘Recife’ (PE) e ‘São Luiz’ (MA), pesquisas essas sugeridas em seminários (2000-2006) do evento ‘ForCaos’ criado pela ACR. O livro ainda traz importantes colaborações do compositor e músico ‘Marcos Vitoriano’ e da antropóloga ‘Abda Medeiros’.

De todos os eventos musicais que a ACR realiza ou apoia como o ‘Rock Cordel’ do CCBNB (Centro Cultural do Banco do Nordeste), ‘Sexta Rock’ da produtora Panela Rock e Cooperativa Underground (CUNDER), o ‘ForCaos’ é o maior e considerado por muitos o mais importante, não só para a cidade de Fortaleza como para todo o Norte-Nordeste brasileiro, pois o evento que teve a sua primeira edição em 1999 reúne bandas autorais do Metal, não só local como leva convidados já carimbados no cenário nacional. O festival anual já teve edições em vários locais, as três primeiras edições foram no antigo ‘Espaço Casarão Cultural’ que ficava no Centro de Fortaleza, o prédio hoje demolido abrigava além da ACR outras associações e sindicatos. Atrações também já passaram pelo Centro de Arte e Cultura ‘Dragão do Mar’, CCBNB e nesse ano as bandas tocaram em um ‘Shopping’ da cidade na primeira noite, na segunda noite em um CUCA (Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte) e na última data as bandas encerraram o evento tendo como plano de fundo o mar da ‘Praia de Iracema’. Lembrando que em 2013 o evento foi 100% gratuito!

A partir do ano 2000 foram agregados ao projeto, seminários que levam para o público temas sempre correlacionados à música Underground. Em 2012 outra idéia foi anexada à agenda do ‘ForCaos’, um passeio ciclístico como conta Amaudson: "A 1ª ‘Bicicletada’ do ForCaos, além de ser uma forma de protestar contra falta de mobilidade, de ciclovias e espaços apropriados para os ciclistas, também vai ser uma espécie de percurso por locais que abrigaram o ‘Rock’ e o ‘Heavy Metal’ na cidade de Fortaleza nos anos de 1990 e inicio dos anos 2000". Hoje a ‘Bicicletada’ já passou de sua segunda edição e entre outras opções também são realizados ‘Workshops’ e ‘Oficinas Culturais’.

Na cidade de Maracanaú o ‘ForCaos Metropolitano’ teve duas edições, 2007 e 2008, e o formato levado para a cidade vizinha foi o mesmo executado em todas as edições. As melhores publicações especializadas do Brasil fazem cobertura do festival todos os anos, isso implica dizer que o ‘ForCaos’ já entrou para o calendário de grandes eventos do ‘Heavy Metal’. Dentre outras bandas, já subiram no palco: UNEARTHLY, HEADHUNTER DC, KRISIUN, MEGAHERTZ, SIEGE OF HATE, ALMAH, ENCÉFALO, VULCANO, DARKSIDE, TAURUS, OBSKURE, VIOLATOR, KHALLICE e uma infinidade de etc.

2013:

Para atender o número sempre crescente de bandas, pelo menos na capital, foram surgindo outros suportes para acompanhar esse contingente. Hoje o cenário é composto de vários estúdios, onde destaco aqui o ‘MV Estúdios’ de Moisés Veloso e o ‘Estúdio 746’ de Jorge Albuquerque. O primeiro foi responsável pelas gravações dos maiores tesouros cearenses hoje, ‘Prayers in Doomsday’(DARKSIDE), ‘Dense Shades of Mankind’ (OBSKURE), ‘Slave of Pain’ (ENCÉFALOo) e ‘Animalism’ (SIEGE OF HATE). O segundo "coleciona" frequentadores de todas as partes tanto para ensaiar como também produzir o seu material. Além desses representantes uma gama de opções espalha-se pela cidade pronta a satisfazer à necessidade de cada músico.

Adriano Lourenço Barbosa | Airton Lopes | Alexandre Faria Abelleira | Alexandre Sampaio | André Frederico | Andre Magalhaes de Araujo | Ary César Coelho Luz Silva | Assuires Vieira da Silva Junior | Bergrock Ferreira | Bruno Franca Passamani | Caio Livio de Lacerda Augusto | Carlos Alexandre da Silva Neto | Carlos Gomes Cabral | Cesar Tadeu Lopes | Cláudia Falci | Danilo Melo | Dymm Productions and Management | Efrem Maranhao Filho | Eudes Limeira | Fabiano Forte Martins Cordeiro | Fabio Henrique Lopes Collet e Silva | Filipe Matzembacker | Flávio dos Santos Cardoso | Frederico Holanda | Gabriel Fenili | George Morcerf | Geraldo Fonseca | Geraldo Magela Fernandes | Gustavo Anunciação Lenza | Herderson Nascimento da Silva | Henrique Haag Ribacki | Jesse Alves da Silva | João Alexandre Dantas | João Orlando Arantes Santana | Jorge Alexandre Nogueira Santos | José Patrick de Souza | Juvenal G. Junior | Leonardo Felipe Amorim | Luis Jose Geraldes | Marcello da Silva Azevedo | Marcelo Franklin da Silva | Marcelo Vicente Pimenta | Marcio Augusto Von Kriiger Santos | Marcos Donizeti | Marcus Vieira | Maurício Gioachini | Mauricio Nuno Santos | Odair de Abreu Lima | Pedro Fortunato | Rafael Wambier Dos Santos | Regina Laura Pinheiro | Ricardo Cunha | Richard Malheiros | Sergio Luis Anaga | Silvia Gomes de Lima | Thiago Cardim | Tiago Andrade | Victor Adriel | Victor Jose Camara | Vinicius Valter de Lemos | Walter Armellei Junior | Williams Ricardo Almeida de Oliveira | Yria Freitas Tandel |

A cena Underground não se movimentaria tanto se também não fosse pela dedicação de alguns produtores musicais, geralmente estes estão ligados a selos/distribuidoras. É o caso de ‘Underground Produções’ e ‘Gallery productions’ que já levaram e continuam levando para o Nordeste, potências máximas do Metal Extremo mundial, e outros que, por enquanto, se dedicam mais na captação de bandas nacionais para a terra alencarina, caso de ‘Gino Production’ e ‘Lux Ferre Prod/Distro’ que caminha lado a lado com a ‘MVCS Prod/Distro’. Lutadores e apoiadores como esses fazem girar continuamente a roda do Metal numa terra castigada por ritmos populares e, por que não dizer, vulgares. O propósito desses batalhadores não é elevar o Metal a um patamar de relevância a espaços midiáticos, mas oferecer ao público Headbanger aquilo que cada um tem de direito: entretenimento com muita diversão e respeito.

Hoje as sementes que a ‘ASMODEUS’ e ‘PARANÓIA’ (parte II) plantaram há quase trinta anos se tornaram num imenso "pomar", e as cortinas que Dora Gadelha e seu marido Wellington Santos (parte II) abriram no mesmo período, hoje continuam abertas e lacradas com laços invioláveis. Quanto à imprensa especializada, o que Lucas Powerhead criou em 1985 com o ‘True’s Metal Zine’ se proliferou para algo de altíssima qualidade profissional na forma de programas de TV (aberta) como no caso dos programas ‘Cena Rock’ (TV Ceará) do diretor Clezer Soares e apresentação de Nelson Augusto e ‘Ceará Cultural Rock’ (TV Assembléia - Fortaleza) do apresentador Fernando Pessoa. Também na arte áudio-visual a agência ‘Arquivo Underground’ está presente em todos os eventos de relevância para o Underground cearense, sempre documentando os fatos mais importantes e produzindo videoclipes. Dos veículos de Internet as maiores representações são dos Blogs: ‘Rock Nordeste’ que é agregado a um dos maiores difusores jornalísticos do estado; ‘Rock-CE’ que leva informação ao Headbanger cearense com linguagem da "casa", ‘Underground Resistence Brasil’ (antigo ‘Veia Underground’), ‘Blitz Metal’ Web Radio da estação ‘Bem Fazer’ e o próprio WHIPLASH.NET que através de colaborações de Daniel Tavares (também colaborador da Roadie Crew) e alguns registros de Leonardo M. Brauna, levam ao restante do Brasil os principais fatos da cena local.

Agradecimentos do autor:

Dra. Dora Gadelha, Bremen Quixadá, Ricardo Catunda, Anderson Frota, Alexandre ‘Gato’, Tony Cochrane (Opus Discos), Marcos Ary, Amaudson Ximenes (ACR, Obskure), Lucas ‘Powerhead’ Júnior, George Frizzo (S.O.H.), Ricardo Diamante, Everaldo ‘Smell’ Albuquerque, Ney Barros, Waldo Silva, Victor Barroso, Wagner Uchoa.

Agradecimentos especiais:

Tales Groo (Darkside) pela atribuição dos contatos;

Silvio Beowulf pelas palavras encorajadoras;

Jerônimo Pires (Agony) por indicar um assunto de matéria que resultou nesta série;

Leonardo Bezerra e a equipe do ‘Rock Nordeste/Diário do Nordeste’ pelo apoio das publicações.

A quarta parte da matéria pode ser vista no link abaixo.