Ceará: referência nordestina do metal pt. III
Por Leonardo M. Brauna
Fonte: Hell Maraka Rockers
Postado em 11 de julho de 2013
Em 1984 o Brasil vivia um dos seus momentos políticos mais tensos. Com pressão do movimento ‘diretas já’ em 1984 o colégio eleitoral elege Tancredo Neves à sucessão da presidência da república que era ocupada pelo general João Figueiredo, porém o empresário civil que poria fim na ditadura militar não conseguiu tomar posse de seu mandato devido uma internação hospitalar que durou até sua morte em 21 de abril de 1985. Antes disso, em 15 de março assume interinamente o governo, José Sarney e com ele a construção da nova república, foco da gestão de Neves. A democratização do Brasil começava a aflorar, as fronteiras se abriam e a "censura" aos poucos começava a desmoronar.
No Ceará os efeitos desse impacto foi sentido também na cena rockeira. De repente o comércio de discos de rock foi aumentando ajudado pelas apresentações do festival Rock in Rio em janeiro de 1985. Lançamentos de dois ou três anos antes começavam a chegar todos de uma vez nas lojas, consequência dessa democratização. Para acompanhar toda essa transformação vivida no Ceará e no Brasil uma pessoa resolveu erguer mais alto a bandeira do metal e divulgar tudo aquilo que acontecia em nossas cenas, LUCAS JÚNIOR, ou Lucas Powerhead. Bancário de Fortaleza Lucas desde os anos setenta se fascina pelo rock ‘n’ roll sendo fã desde aproximadamente os dez anos de idade. Foi membro do fã-clube Frampton’s Comes Alive de São Paulo e desde então através de anúncios na revista Somtrês passou a conhecer outros rockeiros da sua região. "tudo dependia de informações e nossas fontes eram basicamente jornais e revistas. Com a ditadura brasileira dando adeus começaram a chegar os LPs um atrás do outro, numa onda de correria às lojas...", relembra Lucas. Sentindo a necessidade de facilitar informação aos headbangers locais, Powerhead convida uns amigos, JANDER MARTINS, ANTONIO CARLOS e o espanhol FERRER para formar o próprio fã-clube. Ainda em 1985 estava fundado o ‘True’s Metal F. C.’ que gerou dois zines utilizando a arte de outro amigo, o NERTAN. As principais fontes eram as publicações da Somtrês, Rock Stars e Rock Brigade (quando ainda era zine), além de inúmeras correspondências com bangers de outros estados. "Nossas reuniões durante a semana eram em minha casa, no meu quarto-estúdio, eu negociava revistas importadas como ‘Burnn’, ‘Hit Parade’, ‘Circu’s, ‘Pop Rock’ e ‘Music Life’ com meu amigo Aldemir do INSS. No sábado nos encontrávamos no apartamento do Jander regado à cachaça ‘Chave de ouro’.", conta Lucas que ainda enfatiza: "-Depois conhecemos novos amigos: Bremen, Ronaldo, Newtão, Dogi, Joaciro, Carlinhos, Urubu, Galo, Carlão, Jurema, Everton, Nei Filho, Junior, Olindina, Wellington e Dora, Anderson Frota, Everaldo, Regis, Marcos Ary, Tales, Tony, Franzé, Franco, Banha, Silvio, Aurélio, Ribamar, Amaudson, não sei quantos Ricardos, enfim a turma cresceu entusiasticamente.".
Lucas Powerhead e seu time nunca tiveram apoio de fora para publicar seus zines. Todo o trabalho e esforço dependiam de cada membro e com isso iam informando o público underground de todas as novidades que conseguiam apurar. "A gente decidia quais bandas comentaríamos. Depois cada um escolhia as suas bandas e juntos escolhíamos as fotos. O Jander datilografava na Receita Federal, na máquina do pai dele. A gente xerocava em lugar barato, por isso o primeiro ficou ruim, mas o segundo melhorou. A divulgação era em anúncios nas revistas que eu citei e a distribuição era por correio.", conta. Hoje em dia com todo esse aparato de informação que tem como base a internet, zines feitos a partir de "blogs da vida" parecem ser nada mais que "versão dada de bandeja" do trabalho suado de quase trinta anos atrás quando a curiosidade e o entusiasmo de um público não se resumiam em penas alguns cliks. Infelizmente os materiais daquele período que ficavam em poder de Lucas se perderam durante uma mudança de residência, mas exemplares das duas edições de ‘True’s Metal Zine’ ainda existem nas mãos de outro headbanger veterano, Adjacy Farias e tenho certeza que ele sabe a importância do patrimônio que está em sua custódia. Lucas ainda gravou a demo de uma das primeiras bandas de metal do Ceará, a Asmodeus, mas como o próprio Anderson Frota (baixista) falou na parte dois dessa matéria... "hoje não dispomos de nada (material de gravação e letras) daquela época."
A segunda parte da matéria pode ser conferida abaixo:
A quarta parte da matéria está no link a seguir:
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