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Pink Floyd: a relação de Waters com a Guerra das Malvinas

Por Leonardo Daniel Tavares da Silva
Fonte: Wikipedia
Postado em 15 de março de 2013

Algumas bandas transcenderam a música e criaram discos que ou retrataram com fidelidade o período em que viviam ou contavam estórias com argumento tão intrincado que facilmente se tornariam filmes (quando não se tornaram). Discos como Tommy, do THE WHO, ou The Wall, do PINK FLOYD tomaram esse caminho, sendo concebidos como filme-disco ou disco-filme. Outros álbuns não fizeram tanto sucesso ou talvez não possam ser comparados em qualidade, mas também marcaram época pelas ideias neles contidas.

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Longe do sucesso de público e crítica alcançado por "The Dark Side of the Moon", "The Wall" e "Wish You Were Here", o disco "The Final Cut", de 1982, do PINK FLOYD (mas quase um disco solo de ROGER WATERS) cita diretamente a Guerra das Malvinas em quase todas as suas canções.

As ilhas Malvinas, Geórgia do Sul e Sandwich do Sul são três arquipélagos situados no Oceano Atlântico, perto da costa argentina, que constituem um domínio colonial britânico desde 1833. Não obstante, desde a sua ocupação em 1690 foram motivos de conflito entre o Reino Unido, França e Espanha, e depois entre o Reino Unido e a Argentina, que se considera herdeira dos direitos espanhóis sobre estas ilhas. Neste período, surgiram diversas discussões para estabelecer uma ou outra soberania, que terminaram com a ocupação britânica de 1833.

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A tragédia da guerra é vista no disco sob a ótica inglesa de Waters, mas não apoia um lado ou outro. Muito pelo contrário, retrata o descontentamento dos ingleses com a primeira ministra na época, Margareth Tatcher, chamada "carinhosamente" de Maggie, que estava com a popularidade seriamente debilitada devido a suas duras medidas econômicas. Galtieri, o outro personagem principal da guerra, um ditador bêbado e facista, é citado nominalmente, junto a outros líderes beligerantes, na música "Get Your Filthy Hands Off My Desert":

"Begin (nota: primeiro ministro israelense) tomou Beirute.

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Brejnev (nota: presidente russo) tomou o Afeganistão.

Galtieri tomou a bandeira do Reino Unido.

E Maggie, na hora do almoço, um dia, pegou um cruzador, aparentemente para fazê-lo devolvê-la".

A Argentina estava na situação pior possível. A ditadura já tinha matado tantas pessoas que era impossível esconder. Economicamente, o país também era um caos. Galtieri achou que a recuperação das ilhas, onde também se achava que havia petróleo, poderia ajudar o povo a recuperar a credibilidade nos ocupantes da Casa Rosada.

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Estavam então ambos os líderes com interesses iguais e maiores do que o interesse nas ilhas, recuperar popularidade, sair de uma situação de difícil governabilidade. Outra coisa em comum era o pensamento de que os Estados Unidos poderiam facilmente alterar os rumos da guerra, para um lado ou para o outro. Estes, em meio à guerra-fria, ao contrário, não interferiram.

Para a Argentina, a guerra foi um desastre. Apesar de ter conseguido afundar navios de grande porte britânicos, as forças argentinas foram derrotadas em pouco mais de dois meses, tendo tido 649 perdas e mais de mil feridos. Para a ditadura militar, um grande golpe que apressou sua saída do poder, enquanto para Margareth Tatcher, uma grande vitória e a conquista da tal popularidade.

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Roger Waters não viu da mesma forma. Para ele, a entrada da Inglaterra em um novo conflito era uma punhalada, uma traição que ele via de forma bastante pessoal. Afinal, era o fim do "post war dream" (mencionado na faixa homônima), o sonho de que a ilha não se envolveria em um novo conflito bélico após o final da Segunda Grande Guerra. Um sonho que para Waters era bastante caro, uma vez que seu pai Eric Fletcher Waters, segundo-tenente que faleceu nas colinas de Anzio, na Itália, em 1944. É o Fletcher de Eric Waters que dá nome a "Fletcher Memorial Home", também do álbum "The Final Cut", onde mais uma vez cita "Maggie", Brejnev, Begin, entre outros, como polidores de medalhas, afiadores de sorrisos e jogadores de jogos de guerra. "Bum, Bum, Bang, Bang, deite-se, você morreu".

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Em diversas outras faixas do disco, Waters faz seu manifesto anti-belicista, com mais revolta que seu conterrâneo Lennon não pede uma chance a paz, apenas chora os mortos, aponta culpados e adverte para os perigos de um holocausto nuclear, quando brilhariam "dois sois no crepúsculo".

A guerra também trouxe como consequência o fortalecimento do rock argentino (tão desconhecido em nosso país), enquanto bandas de qualquer lugar do mundo que cantassem em inglês, fossem canadenses ou australianas, inclusive o próprio PINK FLOYD, eram evitadas nas rádios e nos toca-discos.

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O disco com condecorações de guerra na frente e, nas costas, um general com uma faca nas costas, foi o último do PINK FLOYD com Waters, ele que também se tornava para sua banda (salvo as devidas proporções) quase como um ditador, como o descrito em "The Wall", o disco anterior. Longe de ser um dos melhores itens da discografia do FLOYD, mas, perto de ser um dos discos mais importantes da década em que foi lançado, "The Final Cut", ainda hoje, é capaz de emocionar e, infelizmente, ainda pode ser lido como se abordasse conflitos atuais, com outros personagens.

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A ditadura na Argentina tomou o mesmo destino que a ditadura brasileira, cujo fim foi acelerado pelo fracasso da iniciativa da guerra e os habitantes das Ilhas Malvinas (ou Falklands, seu nome inglês) decidiram semana passada em plebiscito popular pela permanência sob as bençãos da Rainha (com esmagadora maioria, 98,8%). Waters continua exorcizando seus fantasmas (tendo estado inclusive na Argentina e reavivado o assunto no ano passado), enquanto o PINK FLOYD, que foi liderado ainda por algum tempo por DAVID GILMOUR, entrou em um hiato que possivelmente (e infelizmente) será eterno, principalmente pela perda de sua alma, o grande tecladista Rick Wright, falecido em 2008. A Argentina continental ainda lamenta a perda das ilhas, definitiva até outro louco inventar uma nova guerra (sem nem mesmo o apoio da população local). Entretanto, esta semana os argentinos puderam se alegrar e comemorar a eleição do primeiro papa latino-americano, Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco. No fim, paz no mundo é o que todos queremos e, religiosos ou não, desejamos que esse novo papa seja um agente da paz e que sempre tenhamos apenas um sol se pondo ao fim do dia.

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Leia mais sobre este assunto em:

http://rollingstone.com.br/edicao/edicao-68/guerra-que-fez-o-rock

http://umhistoriador.wordpress.com/2012/02/16/roger-waters-maggie-e-as-malvinas/

http://g1.globo.com/mundo/noticia/2012/04/trinta-anos-apos-guerra-argentinos-e-britanicos-disputam-malvinas.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_das_Malvinas

http://g1.globo.com/mundo/noticia/2013/03/malvinas-aprovam-dominio-britanico.html

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Sobre Leonardo Daniel Tavares da Silva

Daniel Tavares nasceu quando as melhores bandas estavam sobre a Terra (os anos 70), não sabe tocar nenhum instrumento (com exceção de batucar os dedos na mesa do computador ou os pés no chão) e nem sabe que a próxima nota depois do Dó é o Ré, mas é consumidor voraz de música desde quando o cão era menino. Quando adolescente, voltava a pé da escola, economizando o dinheiro para comprar fitas e gravar nelas os seus discos favoritos de metal. Aprendeu a falar inglês pra saber o que o Axl Rose dizia quando sua banda era boa. Gosta de falar dos discos que escuta e procura em seus textos apoiar a cena musical de Fortaleza, cidade onde mora. É apaixonado pela Sílvia Amora (com quem casou após levar fora dela por 13 anos) e pai do João Daniel, de 1 ano (que gosta de dormir ouvindo Iron Maiden).
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