Estados Unidos: as raízes afro-descendentes do rock
Por Victor Oliveira Sartório
Postado em 07 de agosto de 2012
Os Estados Unidos são o país que mais explorava a escravidão negra na América, ao menos no período que compreendeu de sua independência até o fim da Guerra de Secessão. Este conflito armado civil, que culminou com a eleição do abolicionista Abraham Lincoln em 1860 para chefiar a Casa Branca, terminou com a derrota dos Estados Confederados, até então independentes, abarcados da união de alguns estados do sul, dentre eles, os principais agrários e escravistas, Alabama, Mississipi, Louisiana e Geórgia. Mas o que esse pedaço da história tem a ver com música? Tudo.
Exatamente nestes quatro estados citados, nos quais a escravidão era mais forte, que as raízes culturais trazidas da África se fizeram presentes de forma igualmente poderosa. Uma das germinações desta raiz africana caminhou para a música e influenciou, praticamente, todos os mais populares estilos musicais da história. Derivado das "worksongs" que amenizavam as longas, intermináveis e desumanas jornadas dos trabalhadores negros nas plantações de algodão no sul, o blues cresceu numa sociedade norte-americana que, muito embora formalmente abolicionista, ainda era altamente opressora e segregadora – foi justamente no fim da Guerra Civil que surge o grupo Ku Klux Klan, que atinge o auge, com mais de quatro milhões de "sócios", no período entre as décadas de 10 e 40, conhecido como o 2º Klan.
Foi neste mesmo período, nas três primeiras décadas do século passado, que o blues se desenvolveu a partir do embrião que se consistia na região do delta do Rio Mississipi (lembra dos quatro estados já citados? Então...). Surge, daí, os verdadeiros pais do rock: os músicos negros de blues tais como Son House, Leroy Carr, Tommy Johnson, Blind William Johnson e, talvez o mais influente, Robert Johnson, figura folclórica que vendeu sua alma para o diabo na encruzilhada em troca de maior intimidade entre os dedos e as cordas; morto precocemente aos 27 anos; considerado pela Rolling Stone como um dos melhores guitarrista de todos os tempos; e cuja influência foi admitida por bandas como The Rolling Stones, Bob Dylan, Led Zeppelin, Muddy Waters, Eric Clapton, etc.
Infelizmente, o país que linchava e matava seus afro-descendentes, por óbvio encontrava problemas em reconhecer a músicas dos mesmos. No entanto, deste sofrimento no qual o blues ganhou seu nome, o estilo migrou e se sofisticou. Muddy Waters, em Chicago, posteriormente, talvez foi o maior nome deste blues mais sofisticado que, acoplado de elementos dos mais diversos estilos musicais – jazz, country, soul, gospel (todos provenientes do blues, diga-se de passagem) –, foi chamado comercialmente de rhythm and blues, ou R&B – termo proliferado pela Billboard já no final da década de 40. Este tal R&B não misturou apenas estilos musicais, mas também etnias: os bordéis e botecos foram palco da mais linda fusão musical entre os ritmos europeus e africanos. O R&B, nos mesmos anos 40, já abraçava também as "big bands" e o swing de artistas como Benny Goodman e o polivalente Johnny Otis.
Nesta época na qual o R&B protagonizava a maior fase de transição musical da história, nasceu, na parte mais pobre daquele mesmo Mississipi racista e "bluezeiro", Elvis Aaron Presley, jovem amante não só da música negra já explicada, mas também da dos brancos que nela se misturaram. Brancos como Dean Martin, reconhecido por sua gloriosa parceria com Jerry Lewis em 1946, ocasião em que o jovem Elvis tinha apenas 11 anos mas que, dentro de menos de 10 anos, conquistaria a fama internacional de um dos precursores do estilo chamado Rockabilly, junto daquele mesmo Jerry.
Este Elvis, garoto que nasce na primeira grande fase de maturidade musical da história, rapaz que cresce e conquista fama num país no qual seus afro-descendentes não eram abraçados com direitos civis, mas sim com políticas de segregação, homem e músico que se promoveu numa indústria fonográfica pioneiramente empresarial, enfim, este Elvis, foi o monarca escolhido para, como todo rei, a assumir o comando e a figura simbólica de representante de um estilo que já possuía pai e irmãos numa classe politicamente inferior e socialmente oprimida.
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