Rage Against The Machine
Por Ana Therezo
Postado em 06 de abril de 2006
Com um som puro, sem sintetizadores, teclados ou samples; inspirado no punk rock dos anos 70 e donos de um estilo próprio de hardcore, a banda Rage Against The Machine trás a tona sua revolta em músicas incendiárias, com letras baseadas em uma visão política de extrema esquerda.
Direto de Los Angeles, no ano de 1991, o ex-Inside Out, Zack De La Rocha (vocais), Tom Morello (guitarra), Brad Wilk (bateria) e Tim Bob (baixo) formam a banda que, mesmo sem a ajuda de nenhuma gravadora, vendeu só em shows e fã-clubes, mais de cinco mil cópias de uma demo de doze faixas. Precursores de feitos inéditos, o RATM (ainda em início de carreira) abriu para bandas como: Pearl Jam, Body Count e Public Enemy; sem contar dois shows no palco secundário do Lollapalooza II (Los Angeles, California) e a turnê européia acompanhando o Suicidal Tendencies.
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Sua ascendência visível rendeu um contrato com a Epic Records - que lançou o álbum homônimo da banda em Novembro de 1992, com destaque para a capa – a fotografia vencedora do prêmio Pulitzer de 1963, onde um monge ateia fogo no próprio corpo em forma de protesto a um movimento anti-busdista ocorrido no sul do Vietnã.
A turnê pelos Estado Unidos, em 1993, com os rappers do "House Of Pain", precedeu a segunda apresentação do RATM no Lollapalooza III (Filadélfia), em Julho do mesmo ano - só que no palco principal, onde para protestar contra o PMRC (Parents Music Resource Center) - organização americana de censura, os integrantes da banda ficaram 25 minutos sem cantar ou tocar nada, nus, com uma fita adesiva na boca e as iniciais P-M-R-C riscadas no peito.
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Desde então, com a carreira alavancada por protestos, a agenda de shows da banda aumentou desenfreadamente, e os fãs também. Fãs estes que esgotaram os ingressos do festival em prol da liga anti-nazismo "Anti-Nazi" em Londres, Inglaterra; e levaram os rapazes a repetir a turnê pelos Estados Unidos, só que com o Cypress Hill no apoio. Sem contar que insistentes exibições do vídeo "Freedom" na MTV, colocaram o álbum na marca de 1 milhão de cópias vendidas e com o nome entre as 200 mais da Billboard, durante 89 semanas consecutivas.
Tanto sucesso, deve-se não só a um estilo totalmente inusitado – algo entre o rap e o hardcore, quanto pela clara postura política da banda, manifestada na organização de eventos que promovam as causas defendidas. Alguns exemplos disso foram: o show beneficente em fevereiro de 94, intitulado "Rock For Choice", no The Palladium (Hollywood, California), com a participação de: Eddie Vedder, Screaming Trees, Mary's Danish, 7 Year Bitch, Green Apple Quick Step e Exene Cervenka; e, em abril de 94, outro show beneficente para a "Liberdade de Leonard Peltier" (primeiro lider do Movimento Indígena Americano), que está preso desde o final dos anos 70 sob a alegação de ter atirado em dois agentes do FBI. Sendo que o segundo, arrecadou mais de 75.000 dólares para a causa. Vale destacar que o histórico de protesto do Rage demonstra ser hereditário já que o pai de Morello lutou na guerrilha de libertação do Quênia pela dominação colonial inglesa e sua mãe é uma das fundadoras do Parents For Rock and Rap, uma organização anti-censura.
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Em outubro do mesmo ano, a banda se apresentou novamente em prol de Leonardo Peltier, só que dessa vez no Grand Olympic Grounds (Los Angeles, CA); onde contou com o apoio do Cypress Hill, Ligher Shade Of Brown, Fobia, Little Joe Y La Familia e Thee Midnighters.
Meses depois do "Latinpalooza" - como já era de se esperar, os reflexos de uma turnê tão extensa começaram a aparecer e surgiram rumores de que a banda poderia acabar. Mas tudo não passava de boatos e falta de convivência entre os integrantes da banda que, devido a seu contrato com a Epic e a agenda lotada de shows, tiveram pouco tempo para se conhecer melhor. Com o objetivo de minimizar o problema, a banda decidiu mudar-se para Atlanta, onde alugaram uma casa e começaram conviver juntos. Eles tentaram gravar um novo disco mas acharam que não ia ficar bom, então decidiram voltar para Los Angeles, onde começaram a gravação do álbum "Evil Empire" ("Império do Mal", nome tirado da forma como Ronald Reagan se referia à antiga União Soviética).
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Em abril de 1996 o RATM tocou duas músicas no programa de "Saturday Night Live", mas uma delas nunca chegou a ser exibida, já que a banda cobriu as caixas de som com uma bandeira norte americana de ponta cabeça - protestando contra a presença do candidato a presidência Steve Forbes no programa daquela noite. Ironicamente, no dia seguinte, "Bulls on Parade" (a música censurada) foi premiada no "MTV's 120 minutes" e dois dias depois, "Evil Empire" foi lançado, entrando no Top 200 da Billboard na 1ª posição. De julho até outubro, o Rage ficou em turnê pelos EUA.
Após três meses do término da turnê (janeiro de 97); Tom Morello (guitarra), Zack De La Rocha (vocais), Flea (Red Hot Chilli Peppers, no baixo) e Steven Perkins (Porno for Pyros, na bateria) participaram da estréia do programa "Radio Free L.A", transmitido pela internet e por mais de 50 estações de rádios americanas. Em março do mesmo ano, a Academia Nacional de Artes e Ciências acabou reconhecendo o potencial da banda premiando-os com um Grammy pela categoria de "Melhor Performance de Metal" com a música "Tire Me", além de uma indicação para "Melhor Performance de Hard Rock" por "Bulls On Parade".
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Apesar da decidida postura "anti-popularização", o maior reconhecimento do RATM no meio musical veio quando uma das bandas mais populares do mundo – o U2, convidou-os para abrir seus shows. Como não poderia deixar de ser, os membros do Rage anunciaram que estariam se juntando ao U2 na turnê milionária "Pop-Mart" com uma ressalva: doar o que conseguir dos grandes faturamentos dos shows do U2 para várias organizações. Foi exatamente o que eles fizeram. Só para citar alguns dos beneficiados: Associação de ajuda a Mumia Abu-Jamal, FAIR (Fairness and Accuracy In Reporting), The National Commisson for Democ-racy in Mexico, FZLN (Zapatista Front For National Liberation) e Women Alive.
Em meados de agosto, RATM começou uma turnê pelos EUA junto do Wu-Tang Clan (o Wu-Tang Clan é formado por 10 MC's vindos de Staten Island, um município da cidade de Nova York, EUA), mas o Clan abandonou a turnê com apenas uma semana de shows. Em compensação, com a mudança frequente de bandas, revelaram-se outros talentos, como por exemplo, o Foo Fighters e o Roots. Em 25 de Novembro, o Rage lançou seu primeiro Home Vídeo repleto de apresentações ao vivo, além de todos os clips de sua carreira e um CD single com o cover de "The Ghost Of Tom Joad" do Bruce Springsteen.
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No mesmo mês, Tom Morello foi preso por protestar contra a "Guess?" (marca norte americana de roupas), já que a empresa usava o jeans fabricado em Calcutta, onde os trabalhadores são impelidos a trabalhar sob condições sub-humanas. Justificando o ato, Tom disse em entrevista: "Eles acham que a moda é mais importante e mais nada importa, e então aquela exploração brutal daqueles trabalhadores não os importa. Nós estamos dizendo que eles estão errados."
No começo de 98 a banda gravou a música "No Shelter" que acabou entrando na trilha sonora do filme Godzilla. Na metade do mesmo ano, começaram os ensaios para o novo CD, futuramente intitulado "The Battle of Los Angeles", sendo que em setembro a parte instrumental para 14 músicas já estavam prontas, faltando somente as letras.
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Sem deixar de lado suas aspirações politico-sociais, em janeiro de 99, o RATM voltou aos palcos com um show beneficente para Mumia Abu-Jamal, show que aliás, atraiu muito a atenção da mídia e por pouco não aconteceu. As atrações foram o Black Star, Bad Religion e os Beastie Boys. Além do show, Zack - como principal membro ativista da banda, foi até Genebra (Suiça) se manifestar anti as Nações Unidas no caso de Mumia Abu-Jamal e a pena de morte nos EUA.
Quanto mais o tempo passava, mais protestos eram associados ao Rage que, após participar do Tibetan Freedom Concert, fez uma apresentação no Woodstock 99 onde queimou a bandeira dos EUA enquanto tocavam a música "Killing In The Name".
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Em outubro, "Guerilla Radio" - o primeiro single do novo disco foi lançado, seguido pelo álbum "The Battle of Los Angeles". Nos EUA, o lançamento ocorreu propositalmente em 2 de novembro de 1999 (dia de eleição). No mesmo dia, os rapazes apresentaram seu novo single no programa "Late Night With David Letterman" da rede de TV CBS, o que levou outra emissora (FOP) boicotar a apresentação da banda no programa de Conan O’Brien.
A confusão no começo da turnê, retratou o que seria o caótico ano de 2000 para o rage Against the Machine. A banda que planejara uma turnê com os Beastie Boys, teve que cancelar o projeto, devido ao acidente de bicicleta com Mike D; dois shows em São Francisco (julho 2000) – com o objetivo de gravar um CD ao vivo, foram cancelados também; sem contar um tumulto que estourou após os rapazes tocarem do lado de fora da Convenção Nacional Democrática em meados de agosto, justamente no mês de lançamento do single "Testify".
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Os holofotes não estavam mais virados para as músicas e sim para os integrantes da banda - que pareciam não deixar por menos. Em setembro de 2000, após uma apresentação fenomenal no VMAs 2000, o baixista Tim Bob decidiu subir em umas das estruturas do palco logo após perderem o prêmio de melhor grupo de rock para o Limp Bizkit. O músico foi preso e liberado em seguida, já que não existe lei nos EUA contra subir em estruturas de palcos.
Mesmo com o novo projeto - que já contatava aproximadamente 30 músicas gravadas (sendo 12 covers de estúdio), nove anos com o Rage e três álbuns de sucesso; o líder e vocalista Zack de La Rocha, declarou oficialmente no dia 18 de outubro de 2000 que estaria deixando a banda: "Sinto que é necessário abandonar o Rage, pois não estávamos mais conseguindo tomar decisões conjuntas (...) Não estamos mais funcionando juntos como um grupo, e eu acredito que a situação está destruindo nossos ideais políticos e artísticos. Estou muito orgulhoso de nosso trabalho, como ativistas e como músicos, assim como estou grato a cada pessoa que expressou solidariedade e dividiu essa incrível experiência conosco".
[an error occurred while processing this directive]Os demais integrantes do RATM enviaram um comunicado à imprensa, explicando que continuariam com suas atividades depois da saída do vocalista; e foi exatamente o que aconteceu. Mesmo cercados dos boatos que B-Real (Cypress Hill) talvez pudesse integrar a banda - preenchendo o lugar deixado por Zack de La Rocha; Tom Morello e banda decidiram priorizar a produção de seu novo álbum, que levaria o nome de "Renegades".
No dia 7 de novembro de 2000 (novamente data de eleições nos EUA), o primeiro single do álbum "Renegades" - a música "Renegades of Funk" (original do grupo Afrika Bambaataa) foi lançada, seguida do vídeo homônimo que retrata "renegados" e revolucionários da história. Entre eles: Public Enemy, Beastie Boys, EPMD, Eric B. and Rakim entre outras bandas de rap e funk; além de imagens de Martin Luther Kink Jr., Malcolm X e Thomas Paine.
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O álbum "Renegades" veio a tona em 5 de dezembro do mesmo ano com uma coleção de músicas escritas e gravadas originalmente por artistas como MC5, The Stooges, EPMD, Bob Dylan, Minor Threat, The Rolling Stones, Afrika Bambaataa, Devo, Volume 10, Erik B and Rakim e Cypress Hill. São covers de 12 clássicos do Hip-Hop, Rock e Punk Rock; além de uma nova versão remixada da música de Bruce Springsteen: "The Ghost of Tom Joad". O álbum foi produzido por Rick Rubin (Red Hot Chili Peppers, Beastie Boys, Founder of Def Jam) e mixado por Rich Costey (Fiona Apple, Ice Cube, Pavement).
Em meio ao sucesso do lançamento, o RATM foi pego de surpresa ao saber que muitos de seus fãs tinham sido banidos do Napster por fazer download de suas mais recentes músicas, tudo decorrência das instruções que a companhia de gerência da própria banda tinha dado a Sony Music de instituir a proibição na divulgação. O incidente levou Tom Morello a desculpar-se publicamente, tomando providências para restabelecer os direitos dos usuários lesados e disponibilizando para download, grátis, uma coleção de mp3s e vídeos ao vivo no site oficial da banda.
[an error occurred while processing this directive]Janeiro de 2001, o RATM recebe duas indicaçoes para o Grammy nas seguintes categorias: "Melhor Álbum de Rock", com "The Battle Of Los Angeles"; e "Melhor performance de Hard Rock", com a música "Guerrilla Radio". No mês seguinte, a banda lança seu home video em DVD e VHS, com o show gravado no México em 1999 pela MTV. intitulado "The Battle of Mexico City", além da exibição da apresentação da banda - na íntegra, foram reproduzidos alguns trechos políticos feitos pelo ex-vocalista, Zack de La Rocha.
Especulações sobre o novo vocalista voltam a aparecer, depois de um ensaio de Chris Cornell (ex-vocalista do Soundgarden) com a banda. Rapidamente esses boatos são desmentidos por Morello que afirma que a banda não estaria a procura de um novo vocalista. Mesmo porque, o próprio porta-voz e guitarrista, está ocupando sua mente com outros projetos que não a banda. Com um papel no filme "Made", ao lado de Sean Puffy Combs ou Puff Daddy, como é mais conhecido, Morello deverá usar seu tempo disponível nas gravações.
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Mesmo sem vocalista e com seus integrantes dispersos, em março de 2001, o Rage leva o gramofone no 43o Grammy por "Guerrilla Radio" considerada a melhor performance de Hard Rock do ano 2000.
Em maio de 2001 o novo vocalista assume seu posto no Rage Against The Machine. Para a surpresa de todos, o microfone agora passa às mãos de Chris Cornell de fato, negando o que fora dito anteriormente sobre sua entrada. Com sua entrada o grupo deverá gravar um CD sob um novo nome para a banda e com uma mudança de estilo, mostrando que estão dispostos a praticamente "começar de novo". Zack gravará um disco solo ainda este ano. Ainda que incerto sobre seu futuro o (ex) Rage Against The Machine segue olhando à frente, com a cabeça erguida. Foi o que sempre fizeram.
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