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John Frusciante

Postado em 06 de abril de 2006

Biografia originalmente publicada no site Dying Days

Por Vicente Moschetti

John Frusciante pode até hoje representar pouco para muitos fãs da banda Red Hot Chili Peppers, na qual desempenhou um grande papel conduzindo guitarras e escrevendo melodias que levaram-na ao estrelato. Os ouvintes de FM tendem a concentrar a atenção no vocalista Anthony Kiedis e na peripécias do baixista Flea, deixando John e suas guitarras vintage em segundo plano. Mas o rapaz carrega em sua trajetória muitos méritos a serem revelados, triunfos num universo de quem mergulhou no temido inferno do estrelato e por muito pouco conseguiu retornar.

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A atividade musical de Frusciante recebeu impulso após o divórcio de seus pais, quando mudou-se para o Arizona e encontrou na liberdade o caminho para viver em função da música. Saiu de casa, mudou-se para Los Angeles e passou a conviver com artistas locais, o que lhe proporcionou contato com músicos como Flea, o baixista de sua futura banda, os citados Chili Peppers.

Foi logo após uma jam entre os dois e o ex-baterista dos Dead Kennedys, D.H. Peligro, que o baixista convidou o garoto-prodígio a integrar o cargo deixado pelo falecido Hillel Slovak. Influenciado principalmente pelo punk de bandas como Black Flag e The Clash e por guitarristas mais expressivos como Jimmy Hendrix e Jimmy Page, John trouxe aos Peppers um misto de suas influências devidamente adaptadas para o funk californiano, bastante direcionado pelo estilo deixado por Slovak, de quem sempre declarou ser fã assumido. Sua chegada à banda foi o primeiro passo para que o quarteto começasse a galgar degraus rumo ao mega-estrelato, além de marcar a repentina mudança na história de seus dezoito anos.

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Suas primeiras contribuições na banda foram marcadas por uma preocupação em honrar com a guitarra suingada de Slovak, renovada por Frusciante através da notável qualidade técnica que concedia a ele o destaque observado por Flea quando decidiu contratá-lo. "Mother's Milk", disco em que estreiou, rompeu as barreiras do underground e transformou os Peppers em candidatos à nova grande banda a habitar o universo mainstream.

Faixas como "Higher Ground" e "Knock Me Down" eram a trilha ideal para que os ensolarados californianos exercessem sua postura descolada aos olhos do público. Tanto que quando entraram em estúdio para gravar o sucessor de "Mother's Milk" receberam uma quantia considerável da gravadora Warner para deixá-los confortáveis o suficiente para criar "o" disco. E foi exatamente o que a banda construiu.

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"Blood Sugar Sex Magik", de 1991, foi o álbum que jogou a banda nas alturas, local de onde nuca mais saiu. Recheado de funk e estilo, os rapazes conseguiram sintetizar todas as qualidades que tinham como quarteto, entregando um disco com muito feeling e atitude sonora. Frusciante limou alguns focos técnicos de seu estilo e concentrou-se nas guitarras intuitivas, inaugurando uma série de timbres e características que tornariam-se célebres em sua música, ponto fundamental na consagração artística e reconhecida qualidade musical do novo disco. Uma maior abertura sonora fez com que o quarteto parasse na ponta da língua do público, colocando-os em mega-turnês e em todas as formas de mídia possível. O que deveria tornar-se o maior motivo de comemoração e realização pessoal do músico acabou enveredando para mais um lamentável caso de síndrome negativa do rock n' roll: Frusciante encontrou dificuldades para lidar com as conseqüências do sucesso.

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Já eventual usuário de heroína durante a turnê de "Blood Sugar Sex Magik", o guitarrista anunciou sua imutável decisão de abandonar o barco, fazendo um último show no Japão sob apelo da banda. Assim que liberado, John retornou para a California, onde entregou-se à reclusão e ao uso constante de heroína, fato que veio determinar os seis anos seguintes de sua vida. Ele raramente saia de seu domínio, recolhido em sua mansão, chegou a dedicar-se brevemente à pintura e à música de forma pessoal, buscando uma saída para seu vazio existencial.

Seu álbum de estréia em carreira solo, "Niandra LaDes And Usually Just A T-Shirt" saiu pela gravadora de Rick Rubin, American Recordings, em 1994, composto por faixas gravadas em simples gravadores de 4 trilhas nos tempos de "Blood Sugar Sex Magik". O material mostrava um John diferente do até então conhecido, sua música abrangia tortuosos caminhos experimentais, claramente conduzidos pela influência do uso de químicos.

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Saía do foco a canção estruturada e tomava espaço a gravação de melodias desconexas, solos de trás para a frente, sujeira e vocais inteligíveis. Um novo artista que não revelava se sua obra provinha de um ímpeto artístico ou se traduzia a real condição de sua personalidade. Música para ele e mais ninguém, que confirmava a dificuldade de encaixar seus âmbitos artísticos no formato convencional exigido pela banda que abandonara. Pouco a pouco, suas breves atividades iam se reduzindo a nada, sendo substituídas pelo vício e conseqüências oriundas dele. John não mais tocava, não mais pintava, passava os dias trancado em casa, vivendo as alucinações que a heroína lhe proporcionava.

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Sua mansão em Los Angeles era reduto de figuras recrimináveis em meio à uma grande bagunça - as paredes grafitadas mencionavam mensagens do tipo "Meus olhos doem". O local de odor pútrido e ambientação obscura teve de ser abandonado quando o dinheiro não mais existia para cobrir o seu aluguel. John passou a viver em hotéis, sem paradeiro fixo, uma vez que era expulso dos estabelecimentos quando não conseguia cumprir com os compromissos. Quando sua renda estagnou, recebeu a oportunidade de lançar um novo disco solo através do selo independente Birdman, de David Katznelson. Frusciante viu na verdade uma chance de arrecadar mais dinheiro e manter seu vício em heroína.

"Smile From The Streets You Hold" saiu em 1997, com material oriundo de sessões do disco anterior e outras sobras, uma vez que o artista não mais produzia música há algum tempo. O disco carregou consigo uma áurea maldita, ainda mais obscuro e dilacerado que seu antecessor, traduzia como poucos discos a lamentável situação psíquica em que se encontrava seu criador. Contava com uma gravação de John aos dezessete anos e algumas participações obscuras de seu já falecido amigo River Phoenix. Ainda assim, em meio ao turbilhão, o disco conseguia prover momentos iluminados que representam todo o talento e a intuição musical do artista. Lapsos de brilhantismo em meio à uma tempestade negra. A escolha de John deixou sua condição real no limite, sendo que, no auge do declínio, John já não tinha mais dentes, extraídos para evitar uma infecção fatal em seu corpo. Sua falta de higiene e total abandono de seu esquelético corpo retratavam a condição lastimável de usuário de drogas, suas tatuagens foram distorcidas pelos abcessos resultantes do uso inapropriado de agulhas. Seus cabelos já quase não existiam e suas unhas faziam parte do passado. Ele já não consumia mais alimentos, reduzindo sua dieta a substâncias líquidas geralmente utilizadas por doentes e idosos. Os fatos vieram à tona em uma reportagem do jornal L.A. Times em que ele se deixava retratar indiscriminadamente pelo repórter, e justificava sua escolha de vida pela oportunidade que a droga lhe concedia de entrar em contato com "outras dimensões". Declarava-se pronto para a morte, incapaz de reconhecer-se como indivíduo longe da heroína, que, segundo ele, "dava-lhe aquele brilho nos olhos". Foi o passo final para que pessoas de fora fizessem-no mudar de rumo.

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Quando o respeitado guitarrista dos Red Hot Chili Peppers Dave Navarro abandonou a banda em 1997, o espaço mais instável do quarteto mais uma vez precisava ser preenchido. Flea, ciente dos esforços concentrados em John para que o mesmo abandonasse seu vício em clínicas de reabilitação, reaproximou-se do ex-guitarrista e sugeriu a possibilidade de seu retorno e conseqüente reunião do que foi a melhor encarnação da banda. Os Chili Peppers vinha de um álbum contestado, "One Hot Minute", buscando uma peça que lhes garantisse estabilidade. John recebeu a proposta como uma nova oportunidade de reencontrar suas aspirações, de recuperar-se como indivíduo e resolver os problemas financeiros criados a partir de seus anos errantes.

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E em 1998 a Warner Bors. lançou "Californication", o maior sucesso comercial dos Red Hot Chili Peppers. O novo disco popularizou ainda mais o quarteto, graças às melodias acessíveis e abordagem radiofônica de muitas músicas. Com técnica bem mais simplória, as guitarras apostavam firme no lado emocional, fazendo com que a música funcionasse ao mesmo tempo comercialmente e artisticamente.

John mostrou-se desde então menos preocupado com conseqüências que a sua reputação poderia sofrer ao fazer parte de uma banda mega-comercial, percebendo que era possível unir os interesses comerciais com a diversão e o prazer de tocar com outros três amigos. E dali para diante, o seu trabalho nos Peppers destacou-se pela abordagem iluminada em canções notoriamente pop, transcorrendo pelo funk e pelas baladas certeiras. Já não importava mais que o mundo apontasse o dedo para ele: John estava renovado.

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Reconfortado pela aprovação de seu trabalho em "Californication", sua veia artística paralela foi devidamente nutrida quando a Warner concedeu-lhe a oportunidade de lançar seu terceiro disco solo, chamado "To Record Only Water For Ten Days". Longe da atmosfera sombria e esquizofrênica de seus dois discos anteriores, o novo trabalho revelava uma faceta até então desconhecida do rapaz.

Ainda adepto do lo-fi (o disco é uma coleção de canções em 4 canais), as músicas trafegavam por um curioso caminho pop, construído com guitarras, teclados e bateria eletrônica. Com sua voz combalida e dicção atrapalhada, ele finalmente cantava letras coerentes que primavam pela excelência melódica, assim como a estrutura de suas músicas.

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Todo seu lado brilhante, por vezes comedido nas novas músicas de sua banda, tinha espaço total para ser explorado, aparecendo em uma linguagem acessível para os ouvintes de rock e reconfortante para seus anseios pessoais. Um disco que revela todas suas genialidades musicais em um formato áspero, pela escolha da produção insignificante, ma igualmente belo pela concepção das canções. Em 2002, John autorizou a publicação em seu website de uma série de canções em formato MP3 (ver links), sobras de seu terceiro disco, que em nada perdiam em termos de qualidade se comparadas às oficiais. Um complemento para o disco lançado na Warner, o conjunto de músicas foi convencionado como o quarto disco da sua carreira, nomeado por um fã como "From The Sounds Inside", distribuído gratuitamente.

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Após mais um período de sucesso massivo no Red Hot Chili Peppers (o disco "By The Way", de 2001, repetiu o êxito de "Californication" e apresentou novidades de sonoridades nas canções do quarteto), John entrou em estúdio para gravar seu quarto disco, "Shadows Collide With People". Lançado em fevereiro de 2004 o álbum apresentou diferenças significativas na maneira como foi conduzido e no formato que pretendeu assumir. Pela primeira vez, contou com a parceria de outro músico (Josh Klinghoffer) e com participações externas (Flea, Chad Smith, Omar Rodriguez-Lopez). O som rudimentar foi substituído por músicas bem produzidas, exploradas e meticulosamente dimensionadas, sugerindo que a carreira solo poderia tomar rumos mais populares, de maior absorção. Bem recebido pelos fãs, principalmente os de sua banda "oficial", o álbum vem servindo como um convite para que um público maior descubra as melodias encantadoras de Frusciante.

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Este renovado guitarrista passou a conviver pacificamente com as recorrências do sucesso, percorrendo o mundo em turnês, gravando videoclipes, longe da personalidade caótica que assumiu em sete anos de sua vida. Renegou seu disco de 1997, "Smile From The Streets That You Hold", censurando novas prensagens por considerá-lo indevido. O novo álbum mostra que suas pretensões musicais transcederam qualquer conflito de identidade que o retorno do sucesso poderia lhe trazer, provando sua total reabilitação e capacidade de usar o ambiente mainstream para estampar a particularidade de sua arte.

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