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Tool

Postado em 06 de abril de 2006

Biografia originalmente publicada no site Dying Days

Por Alexandre Lopes

O Tool é uma das bandas que levaram às últimas consequências a fusão da arte com o rock. Embora suas longas composições não se encaixem no modelo pop imposto pelo mainstream, o grupo adquiriu admiradores por todo o mundo. Isto se deve em parte pelos videoclipes desenvolvidos pelo guitarrista Adam Jones, verdadeiros curta-metragens de altíssimo nível, também editados e produzidos pelo resto da banda.

A história do Tool começa em 1990, quando Maynard James Keenan, aluno da Kendall College of Art & Design, conheceu Adam Jones, técnico em efeitos especiais do estúdio de Stan Winston. Eles descobriram ter outra coisa em comum fora a fascinação por arte comtemporânea: a música. Maynard e Adam começaram a compor juntos e chamavam dezenas de músicos para ensaiar. Eles usavam o estúdio de ensaio pessoal de Danny Carey, vizinho de Maynard e amigo de Adam. Danny foi apresentado a Adam por Tom Morello (guitarrista do Rage Against The Machine), com quem Adam havia tocado baixo numa banda chamada Electric Sheep. Por indicação de Morello, Danny Carey se ofereceu para tocar bateria com Maynard e Adam, pois ao mesmo tempo sentia pena dos dois por não acharem ninguém para tocar (as pessoas que eles chamavam nunca retornavam ou então sequer apareciam).

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No mesma época, Paul D'Amour tinha se mudado para Los Angeles para trabalhar no meio cinematográfico (área em que Adam Jones estava trabalhando, realizando efeitos especiais para O Exterminador do Futuro 2, Jurassic Park e Predador 2). Paul era na verdade um guitarrista, e já estava desistindo de ser músico quando conheceu Adam Jones, que o convidou para tocar. Uma curiosidade é que D'Amour estava sempre de mau-humor, e a sonoridade das músicas se encaixou perfeitamente com sua personalidade. Com a banda formada, eles começaram a ensaiar regularmente na casa de Danny Carey. Depois de quase se chamarem Toolshed, eles escolheram a alcunha de ser simplesmente Tool, pelo fato de quererem que sua música fosse uma "ferramenta" para a compreensão da "Lacrimologia", a "ciência do choro" como terapia, que consiste em evoluir explorando sua dor física e emocional.

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Após certo tempo, eles começam a abrir shows para Rollins Band, Rage Against The Machine e Fishbone. Nessa época, eles gravam demos de quatro canais das canções "Cold & Ugly", "Hush", "Part Of Me", "Jerk-Off", "Crawl Away" e "Sober". De todas, apenas as quatro primeiras entrariam no EP "Opiate", lançado em Abril de 1992, pela Silvertone Records, da Virgin. Os membros do Tool declaram que eles erraram de certa maneira na escolha das faixas do EP, justamente porque eles pegaram apenas as composições mais pesadas e curtas, e todos que o ouviram acharam que se tratava de uma banda de trash metal. Sendo assim, a banda conseguiu uma certa exposição e boa vendagem com "Opiate". Eles gravaram um clipe em VHS para "Hush" (dirigido por Ken Andrews, do Failure), onde todos da banda aparecem amordaçados e nus, com uma placa escrita: "Parental Advisory: Explicit Parts" cobrindo suas partes íntimas. Faz sentido, desde que a música fala sobre censura. Mesmo assim, o vídeo não foi lançado de maneira oficial, pelo fato de que a MTV nunca passaria um clipe com este conteúdo na época! Mas isso não impede que a faixa "Sweat" apareça na trilha sonora do filme "Scape From L.A".

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Em Abril de 93, chega às lojas "Undertow". Ou pelo menos, uma versão "domesticada" do primero álbum do Tool: algumas lojas trocaram a capa original (um desenho de uma escultura de Adam Jones, uma espécie de caixa toráxica vermelha com costelas em forma de tentáculos) por um código de barras gigante. A parte interior e traseira do encarte ainda traziam fotos como uma mulher extremamente obesa nua, sozinha, e uma outra foto da mesma mulher com um homem nu deitado sobre ela, além de uma radiografia com um enorme vibrador dentro de uma cavidade anal. Em edições não censuradas, existem também fotos de uma vaca lambendo suas genitálias e um porco empalado por uma série de garfos (esta uma montagem confirmada). Como a arte gráfica do álbum sugere, este sim é um album cru e verdadeiro do Tool, com nuances mais melódicas e densas, com as menores faixas beirando os cinco minutos. Com o álbum catapultado pelos vídeos de "Sober" (dirigido por Adam Jones e Fred Stuhr, ganhou as categorias de "Melhor Artista Novo" e "Melhor Clipe De Hard Rock/Metal" na MTV) e "Prison Sex" (este o primeiro clipe totalmente dirigido por Adam), o Tool conseguiu ser uma das atrações principais do Lollapalooza '93. "Undertow" traz também como destaque "Intolerance" (que claramente faz alusões ao período em que Maynard serviu o Exército Americano nas linhas "You lie, cheat and steal" em oposição a "I will not lie, cheat or steal", princípios adquiridos dos soldados). A enorme "Bottom" tem participação especial de Henry Rollins; "Swamp Song" e a faixa-título fazem alusão a uso de drogas, o tema principal do álbum. A última faixa, "Disgustipated" é uma narrativa sarcástica sobre o que seria o apocalipse que as cenouras enfrentam em todos os dias de colheita, com o som de machados e marretas marcando o tempo... Bizarro!

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Depois de "Undertow", o Tool mergulha em turnês intermináveis para promover o disco e as especulações de que eles se tratam de uma banda satanista aumentam junto com a popularidade que conquistam a cada apresentação. A banda não se sente ameaçada por isso, pois o que eles sempre previam era que as pessoas ficassem perturbadas pela sua proposta. A letra de "Prison Sex", por exemplo, pode-se tratar de abusos sexuais que Maynard teria sofrido na infância, o tornando um ser mórbido e sadomasoquista. Mas até hoje nada disso foi provado; o que se sabe é que Maynard foi criado por uma família Batista opressora, daí sua possível revolta contra religiões ortodoxas.

O Tool ficou parado um bom tempo até começarem as gravações de "Ænima", em 1996. O título é uma junção das palavras "Anima" (um termo psicológico de Carl Jung) e "Enema" (inimigo). Poderia também ser uma homenagem a um livro recomendado pela banda, chamado "Ægypt".

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Durante o processo de composição, Paul D'Amour anuncia que está saindo da banda. Paul mostrou interesse em outros estilos de música, e procurava algo mais experimental (?). O grupo então começa a testar outros baixistas, entre eles Frank Cavanagh do Filter, Scott Reeder do Kyuss, e Shepherd Stevenson, do Pigmy Love Circus. O escolhido foi Justin Chancellor, do Peach, banda que havia excursionado com o Tool na Europa em 1994. Justin não aceitou o convite de imediato, porque o Peach tinha terminado há seis meses e ele estava formando um projeto com o guitarrista de sua antiga banda, com quem tocava desde os 14 anos de idade. Percebendo que não poderia deixar a oportunidade para trás, ele entrou para o Tool.

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Quando "Ænima" foi lançado, o Tool logo sofreu uma represália: o clip de "Stinkfist" (primeiro single do disco) foi rejeitado pela MTV, que alegou que o título da música era ofensivo. Depois de represália por parte dos fãs, a emissora passou a exibir o vídeo com o nome de "Track #1", por ser a primeira faixa de "Ænima".

O fiasco da MTV não atrapalhou as vendagens de "Ænima". Pelo contrário, até favoreceu. Todos queriam saber o que havia de tão absurdo numa canção. Mas de certa forma até havia: em certa parte da música, (2:45, para ser exato) Maynard murmura, quase que subliminarmente: "Chupa minha pica pinto pichu" (em português mesmo)! Aliás, esta é uma das coisas mais atraentes de "Ænima": as mensagens subliminares. Em quase todas as faixas Maynard está sussurrando algo, inteligível ou não.

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Fora as mensagens subliminares, "Ænima" é o disco essencial para quem quer conhecer o Tool. Faixas memoráveis como "Eulogy", "Forty-Six & 2", "Hooker With A Penis", "Pushit" e "Ænema" figuram harmonicamente com vinhetas inteligentes: "Useful Idiot", "Message To Harry Manback", "Intermission" e "Die Eier Von Satan" (não tem nada a ver com nazismo, aquele "discurso" em alemão é apenas uma receita de um tipo de cookie!). O trabalho gráfico da capa de "Ænima" também é excepcional, com holografias estranhas e soturnas, tanto que o grupo foi nomeado para "Melhor Embalagem de Álbum" no Grammy de 1996. No mesmo ano, o Tool ainda foi indicado para melhor vídeo clip e Curta-Metragem por "Stinkfist".

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É nesta época que Maynard começa a se apresentar nos shows totalmente careca, com o corpo inteiramente pintado ou então vestido de mulher, adicionando mais estranheza à perfomance do Tool. Em meio à imensa turnê, a banda lança o single e o clipe de "Ænema", concorrendo a prêmios na MTV, que desta vez não censurou a criatividade do grupo. "Ænema" chega a ganhar um Grammy de "Melhor Performance de Metal", em 1997.

Após o estouro dos shows de promoção de "Ænima", o Tool resolve dar um tempo. Maynard grava "Know Your Enemy" com o Rage Against The Machine e faz um dueto num show com Tori Amos, cantando "Muhammad My Friend". Ele ainda forma o Shandi's Addiction, com Billy Gould (Faith No More), Tom Morello e Brad Wilk (guitarrista e baterista do Rage Against The Machine). para participar do disco-tributo para o KISS ("Kiss My Ass"), gravando a música "Calling Dr. Love". A Volcano Entertainment, gravadora do Tool, não gostou nada disso, e logo processou a banda por ter violado cláusulas do contrato, alegando que o grupo estaria participando de projetos em outros selos, e assim procurando novas propostas de contrato. A banda caiu de frente contra a gravadora, dizendo que o selo estaria negando a eles uma cláusula que constava no acordo original. A briga durou mais de um ano, até que no final ambas as partes resolveram fazer um novo acordo, evitando medidas judiciais. O Tool renovou o seu contrato, incluindo a gravação de mais três álbuns.

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Passado o stress com sua gravadora, seus integrantes se envolveram em apresentações/gravações ocasionais com bandas de amigos: Adam Jones toca em alguns shows com o Melvins e monta uma banda experimental com King Buzzo, chamada Noiseland Arcade, fazendo alguns shows em 1998. Um bom tempo depois, Maynard começa a ter mais contato com outros músicos, organizando o projeto Tapeworm, com Trent Reznor e Danny Lohner, ambos do Nine Inch Nails. Eles chegam a compor sem compromisso, mas não gravam nada de oficial.

Mais tarde, Maynard restabelece contato com Billy Howerdel, técnico de som das sessões de "Ænima". Howerdel mostra suas composições e Maynard se oferece para participar do projeto que ele estava montando com a baixista Paz Lenchantin. Está se formando o A Perfect Circle, a ocupação de Maynard durante um certo tempo.

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Com o Tool paralisado por conta de problemas contratuais, Maynard pode se dedicar completamente ao A Perfect Circle. Formado por Maynard, Billy Howerdel, Troy Van Leeuwen, Paz Lenchantin e Josh Freese, o grupo começa a tocar em shows beneficientes, e logo vai abrindo a turnê de 2000 do Nine Inch Nails. Tentando enganar seus fãs, Maynard passa a usar uma peruca. Mas ele logo é descoberto, por causa da grande atenção que o A Perfect Circle acaba despertando com o álbum "Mer De Noms". Por ter canções mais melódicas e curtas, o A Perfect Circle se torna mais acessível que o Tool, encontrando um sucesso imediato e maior do que a banda principal de Maynard havia conseguido até então.

Quando o A Perfect Circle deu um tempo, o Tool imediatamente voltou às atividades. Para acabar com os boatos de que a banda havia acabado, eles lançam, em 2000, o box "Salival", que se trata de um DVD com os cinco clipes da banda e um CD com faixas ao vivo e raridades. Dentre os destaques, a incrível versão de "No Quarter", do Led Zeppellin, "You Lied" (cover do finado Peach, de Justin Chancellor), a faixa escondida "Maynard's Dick" -que só pelo título, dispensa comentários- e "Pushit", em uma versão ao vivo mais longa que a original onde o professor de percussão de Danny Carey, Aloke Dutta, dá uma canja. A arte gráfica é invejável, sendo que a embalagem é uma pequena caixa negra com um livreto (tipo P.U.L.S.E. do Pink Floyd) com fotos de shows e cenas dos vídeos.

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Enquanto "Salival" vai matando a saudade dos fãs, o Tool vai gravando um novo álbum de estúdio. Neste meio tempo, a banda demite o empresário Ted Gardner, que também ameaça processar a banda, alegando que eles lhe devem dinheiro. Mas o caso logo é abafado e nenhuma notícia sobre o ocorrido vaza para a imprensa.

Após seis anos desde o lançamento de "Ænima", "Lateralus" é lançado. O disco supera todas as expectativas, encabeçado pelo clipe futurista de "Schism", que aparece com "Mantra" como introdução. A banda aparece revigorada, com Adam Jones mais refinado, mostrando mais técnica em seus riffs (sem ser virtuoso). A voz de Maynard, adocicada pelo A Perfect Circle, mostra sua beleza em "Reflection" e "The Patient"; mas ao mesmo tempo rasga ensadecidamente como em "The Grudge" e "Ticks And Leeches" (a qual a banda não costuma tocar regularmente ao vivo, visto que Maynard força demais sua garganta). Uma obra prima como "Ænima", mas com algo mais "luminoso", onde a banda parece ter assimilado e dosado bem algumas influências da ideologia Hindu. A banda ganha mais um Grammy, desta vez por "Schism".

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O Tool lança ainda os clipes de "Parabol e "Parabola", coladas como na sequência do álbum, resultando num único vídeo enorme e que dificilmente é transmitido pela MTV. Mas o Tool realmente não precisa mais da MTV para ser bem sucedido e chamar a atenção de novos fãs. Terminada a turnê de "Lateralus", em 2003 Maynard volta a se reunir com o A Perfect Circle e planeja o lançamento do segundo álbum do grupo, ainda sem título previsto. Danny Carey se dedica a estudar percussão com seu professor Aloke Dutta e a gravar com o Pygmy Love Circus, enquanto Adam segue sua carreira com efeitos especiais e escreve material novo para o Tool com Justin Chancellor.

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